POLEPOSITION

O que explica o abismo entre Verstappen e Perez?

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 10-09-2023 10:26 | 2411
Verstappen passa por Perez (ao fundo) atolado na caixa de brita durante o treino livre em Monza
Verstappen passa por Perez (ao fundo) atolado na caixa de brita durante o treino livre em Monza Foto: Hasan Bratic

Sergio Perez faz uma temporada abaixo das expectativas com o melhor carro da F1. A Red Bull venceu as 14 etapas da temporada, doze com Max Verstappen que em Monza tornou-se o único piloto na história da F1 a vencer dez corridas seguidas, superando o recorde que pertencia a Sebastian Vettel desde 2013. E o mexicano venceu apenas duas provas no começo do campeonato - Arábia Saudita e Azerbaijão.

Em Monza, Perez fez uma bela prova no domingo passado. Largou da quinta posição, travou disputas intensas com George Russell, Charles Leclerc e Carlos Sainz para terminar em 2º. Esse é o que seria um resultado normal em todas as corridas para quem dispõe do modelo RB19 e divide os boxes com um companheiro de equipe acima da média. Mas não é o que acontece. Perez passou longo período sem avançar ao terceiro bloco da classificação (Q3) entre erros e falta de sorte. E a pressão aumenta à medida em que ele não consegue se livrar de seus grilos enquanto Verstappen faz parecer ser fácil pilotar um F1. Mas afinal, o que explica esse abismo que há entre os dois pilotos da Red Bull? É o piloto, o carro, a equipe que não ajuda, ou o psicológico?

Há muitas perguntas em torno da capacidade desse piloto mexicano de 33 anos, que se não é dos melhores, também está longe de ser um braço duro. Perez estreou na F1 em 2011 tem 3 poles, 6 vitórias, 34 pódios e 11 voltas mais rápidas. Um currículo nada desprezível, diga-se, mas antes de malhar é preciso entender o que pode estar por trás dessa defasagem de desempenho do mexicano.

Já houve casos na F1 que também levantaram as mesmas dúvidas, como nos tempos de Rubens Barrichello com Michael Schumacher na Ferrari. Muitas vezes Rubinho foi injustamente criticado e julgado. Riccardo Patrese também sofreu na pele quando teve nas mãos o Williams FW14B de 1992, um dos mais espetaculares carros que a F1 já teve, mas ganhou apenas uma corrida contra nove do campeão Nigel Mansell.

Pra começo de conversa é preciso frisar que Verstappen é muito mais piloto do que Perez se comparado às diferenças que haviam entre Schumacher e Barrichello, ou Mansell e Patrese. Mas ainda assim a diferença de desempenho não seria tão gritante se o mexicano se sentisse confortável no carro.

Perez começou bem o campeonato. Foi 2º colocado na abertura da temporada no Bahrein, fez a pole e venceu na Arábia, e repetiu a dose no Azerbaijão vencendo também a corrida sprint. Mas se perdeu após o GP de Miami quando fez a pole e foi ultrapassado por Verstappen que venceu a corrida depois de largar da 9ª posição por conta de uma punição por troca de bateria. Na sequência, Perez bateu durante a classificação para o GP de Mônaco, o que afetou o seu psicológico numa corrida em que ele havia vencido no ano passado e tinha chances de repetir o feito e se manter na disputa pelo título.

Numa análise fria com todos os dados sobre a mesa, o ponto chave que merece atenção às dificuldades que Perez enfrenta está no modelo RB19. Isso mesmo. Por mais paradoxal que pareça, é o carro que venceu todas as corridas até aqui, um dos principais fatores do abismo que existe entre Verstappen e Perez.

O excepcional modelo RB19, projetado por Adrian Newey, é um carro que nasceu com as características que casam bem com o estilo de Verstappen. E quando se fala em estilo de pilotagem, cada piloto tem o seu. Para andar na frente, ou acompanhar Verstappen de perto, Perez precisou mudar completamente o seu estilo de pilotagem (lembre-se das duas vitórias no começo do campeonato), mas à medida em que novas peças vão chegando e o carro evolui, mais ele se encaixa no estilo de Verstappen e se afasta da forma com que Perez pilota, tornando cada vez mais difícil encontrar os décimos, centésimos, milésimos de segundo para poder acompanhar o companheiro. Sem conseguir extrair tudo que pode, e ciente do potencial da máquina, o psicológico fica fragilizado e os resultados não aparecem.

Perez não é um mal piloto. Mas não encontrou a forma de pilotar confortavelmente o melhor carro da F1. E isso faz toda a diferença. O mexicano é o vice líder do campeonato, mas está 145 pontos atrás de Verstappen (364 a 219).