O fã da F1 já está com as atenções voltadas para a corrida desta madrugada no Japão, mas certamente ainda está vivo na memória o GP de Singapura do domingo passado, o melhor do ano até aqui, com uma chegada apertada entre quatro carros e dentre eles nenhum Red Bull. A vitória de Carlos Sainz pôs fim a um domínio tanto histórico como (para alguns) irritante, de 15 vitórias consecutivas da equipe austríaca desde o encerramento da temporada passada, e dez vitórias seguidas de Max Verstappen. A derrota em Singapura foi apenas a segunda da Red Bull nas últimas 26 corridas - a outra foi em Interlagos no ano passado.
A Red Bull enfrentou uma série de problemas de equilíbrio do carro no peculiar circuito urbano de Marina Bay e isso abriu a brecha que todos queriam para uma prova movimentada do começo ao fim com quatro pilotos com chances reais de vitória. Mas quem comandou a prova foi o espanhol Carlos Sainz, da Ferrari, que usou de muita frieza e inteligência para executar uma estratégia ousada nas voltas finais em diminuir o ritmo para permitir a aproximação de Lando Norris (McLaren) o suficiente para dar-lhe o DRS (asa traseira móvel), sem deixar a porta aberta para uma possível ultrapassagem de Norris e assim usar o piloto da McLaren como uma espécie de escudo para impedir um ataque que fatalmente seria certeiro de George Russell, da Mercedes. "Se os dois Mercedes tivessem ultrapassado Lando, acho que eles me ultrapassariam com facilidade", disse Sainz que nas voltas finais começou a sofrer com os pneus desgastados.
A vitória de Sainz foi daquelas que entra para os arquivos da F1 como uma das mais inteligentes dos últimos anos e o GP de Singapura foi uma corrida interessante do ponto de vista estratégico em que a Mercedes foi corajosa ao parar seus dois pilotos há 17 voltas da bandeirada para colocar pneus novos e partirem para o ataque contra Sainz. Eles só não contavam com a tática inteligente do espanhol. Pena que na última volta George Russell encontrou o muro depois de fazer uma corrida agressiva do começo ao fim. Lewis Hamilton herdou o pódio e assumiu a terceira posição no campeonato, desbancando Fernando Alonso que não pontuou pela primeira vez no ano.
E assim, dada as devidas proporções, tal como em 1988, coube novamente à Ferrari interromper uma série incrível de vitórias da Red Bull, como havia feito com a McLaren em Monza 35 anos atrás.
O estranho desempenho da Red Bull que ficou muito para trás durante todo o final de semana do GP de Singapura foi um dos tópicos de discussão durante esta semana e que coloca a equipe em observação em Suzuka, mas a expectativa é de que tudo volte ao normal com a equipe austríaca numa pista totalmente distinta das ruas da cidade-estado. "É como pilotar no gelo" disse Verstappen em determinado momento da prova e mesmo assim ele terminou num honroso 5º lugar diante de tampos problemas e de ter largado de 12º. O trabalho de Verstappen mostrou o quanto o braço do piloto ainda faz diferença na F1, da mesma forma que Sainz conseguiu "no braço" mostrar para a Ferrari que merece mais atenção da equipe que notavelmente pende para o lado do monegasco Charles Leclerc.
Agora é a vez de Suzuka, pista raiz e não por acaso uma das melhores da F1 com quase 6 km de extensão, curvas velozes de raio longo com britas nas áreas de escape e muros próximos da pista. É bom não bater em Suzuka porque quando bate, a pancada costuma ser forte.
Suzuka traz boas lembranças para os brasileiros como as conquistas dos títulos de Nelson Piquet em 87 e os três de Ayrton Senna (1988/90/91). Mas ao longo dos anos, a pista de propriedade da Honda decidiu nada menos que 12 campeonatos, o último deles no ano passado que corou o bicampeonato de Verstappen. O tri do holandês não vem desta vez no Japão, mas a Red Bull pode sacramentar o sexto título de Construtores se somar um ponto a mais que a Mercedes, algo que deve acontecer nesta madrugada com a largada às 2h, ao vivo na TV Band.