Em sessão solene em sua sede, na noite de 27 de setembro, a Academia Paraisense de Cultura (APC) comemorou 37 anos de sua fundação. O acadêmico presidente, Rômulo Aguiar Generoso, ressaltou a feliz iniciativa dos fundadores da APC que tem cumprido seu objetivo de congregar diversas expressões da intelectualidade paraisense. Esta é a íntegra de seu pronunciamento.
Prezados Acadêmicos,
São passados trinta e sete anos, desde a fundação desta Academia.
No esplender de sua maturidade, esta Casa soube honrar a benemérita decisão dos seus próceres fundadores, no intuito de congregar as diversas expressões da intelectualidade paraisense, seja na preservação de seus mais caros valores, seja na descoberta de novas e profusas manifestações culturais.
Ao longo desses já bem vividos trinta e sete anos, a Academia manteve viva “no culto da beleza” a “chama sempre acesa dos nossos ideais”, nas precisas estrofes da letra de seu hino, composição de rara inspiração da Irmã de Alma Eliana Mumic Ferreira.
“Irmão de Alma”, “Irmã de Alma”, que bela e terna manifestação de tratamento existe entre os seus membros, e que traduz, em sua singeleza, o reconhecimento e a existência do amálgama que os move, que os inspira e que os mantem sempre coesos e dispostos à procura do belo, da poesia rica, da pintura perfeita, da execução musical harmoniosa, do discurso eloqüente, do canto lírico e suave, enfim, da excelência das artes.
A Academia foi criada e existe para isso: exaltar a cultura em todos os seus matizes.
Esta terra, pela Graça de Deus, é um celeiro de grandes talentos e, nesta Casa, cada um deles expressa a sua arte e o seu dom.
Há que reverenciar nesta hora, os Acadêmicos que nos antecederam, e que deixaram sua história, os frutos de seu trabalho e a contribuição mais do que benfazeja para o bom destino desta casa.
Há que lembrar dos Membros Fundadores: José Paes, Urias Soares de Morais, Luiz Ferreira Calafiori, Margarida Alvarenga, Walterce de Paula Grillo, Luzia Pedroso Gonçalves, Plínio Valério Tuzzolo, Efraim Antônio de Marcos, Olavo Borges, Edyna Maldi Borges, Eliana Mumic Ferreira, Miriam Lauria Mantovani, Lucas Bertucca Filho, Walter Albano Fres-satti, Pascoalina Coelho de Souza, Ana Maria de Pádua, Aníbal Deocleciano Borges e Maria Ofélia Tubaldini Scarano, lavradores das artes, e de cujo plantio colhem-se safras e mais safras da boa cultura.
Há que lembrar seus ex-presidentes: Olavo Borges, Walter Albano Fressatti, Nilce Godinho, Maurício Giubilei, Maria Ofélia Tubaldini Scarano, Luiz Ferreira Calafiori, Henriette Maria Brigagão Alcântara Santos, João Paulo Lopes Félix, Rubens Mariano, Miriam Lauria Mantovani, Pascoalina Coelho de Souza, Lucas Bertucca Filho, Abaetê Ary Graziano Machado, Alexandre Cavallero Silva Dias, Maria Rita de Cássia Pretto Miranda, Reynaldo Formaggio Filho, André Luiz Mirhib Cruvinel e Leyla Yunes, pois merecem o nosso aplauso e o nosso reconhecimento, já que deixaram marcas indeléveis de suas administrações, trabalhando com amor e dedicação para o bem-estar desta Casa.
Neste momento, em especial, reverenciamos o Acadêmico Pedro Delfante.
O Irmão de Alma Pedro Delfante pleiteou – e conseguiu-, junto ao Deputado Antônio Carlos Arantes e ao Prefeito Municipal Marcelo de Morais, a destinação de verba parlamentar para a aquisição de novos e modernos equipamentos para esta Casa. Aos três, os penhorados e sinceros agradecimentos da APC.
Ainda sobre este desiderato, destacamos as inestimáveis colaborações dos Acadêmicos Leyla Yunes, Maria Rita de Cássia Pretto Miranda e André Luiz Mirhib Cruvinel que se empenharam com dedicação e presteza para adquirir nossos novos equipamentos. A eles, igualmente, nossos agradecimentos.
Entre nós, todavia, há um “primus inter pares” cuja figura se agiganta diante dos nossos olhos, neste horizonte já trintenário, não apenas pela decisão em fundar esta Casa, mas, sobretudo, pelo zelo e carinho que por ela nutria e para a qual dedicou boa parte de sua existência, e que é fonte de inspiração para todos os Acadêmicos.
Refiro-me a Olavo Borges, cujo nome tomamos emprestado para denominar a maior honraria que esta Academia outorga a quem tenha prestado relevantes serviços à cultura paraisense, e que hoje será entregue à queridíssima Irmã de Alma e Vice-Presidente desta Casa, Dalila Mirhib Cruvinel, mercê de sua extremada competência intelectual e de profusa produção literária.
Hoje, pois, é dia de tripla alegria: a primeira, porque comemoramos o 37º Aniversário de Fundação da Academia; a segunda, porque faremos a entrega da Comenda Olavo Borges e a terceira, porque entregamos a todos nossos novos mobiliários e novos equipamentos.
Olavo Borges, benemérito cidadão que nos legou esta Casa e tudo aquilo que ela proporciona para nossa comunidade.
Em verdade, comemorações como esta, transcendem sempre os limites de uma simples existência humana, por mais longa e benemérita que fosse.
Os grandes homens são feitos de substância coletiva; o que os eleva acima da craveira comum é que as suas vidas e os seus atos não se perdem no atomismo individual nem se isolam do meio em que viveram.
Aí, a distinção entre a santidade e a grandeza humana. Os santos podem ser canonizados por virtudes interiores. Ao contrário, a alma dos grandes homens é forjada nas chamas da vida pública. Uns refletem as luzes do céu; outros pertencem ao drama da terra, cujos lances encarnam e dirigem nos acidentes de sua carreira.
Por isso, os santos recebem no silêncio das capelas as homenagens do culto, enquanto para os grandes os altares se erguem diante de nossa visão, de nossas consciências e do nosso reconhecimento.
Debaixo deste teto duas evidências há que nos consolam, nos desimaginam, e chegam a desconvencer-nos da morte: a continuidade da tradição e a continuidade das artes.
As águias, para estenderem os seus longos vôos, procuram os píncaros donde descortinem, entre a terra e o céu, o oceano transparente dos espaços. Assim, parece que as grandes idéias, quando tentam a conquista do mundo, procuram a alma de um grande sonhador, para dali, desferirem, entre o passado e o futuro, o vôo de sua dominação.
Críticas? Olavo deve tê-las enfrentado, sim!
Talvez, também nós, as recebemos hoje, vez ou outra.
Deixemos que murmurem as vozes subterrâneas da malícia, da inveja, que chegam a lobrigar, em nosso meio, uma fábrica cansada de inúteis! A ação do nosso trabalho é lenta e silenciosa, por isso mesmo eficaz e duradoura. Lenta e silenciosa é a gota de água que das profundidades da terra, atravessa humilde camadas e camadas geológicas, até que brota à flor do chão, e tímida resvala e tímida recua... e é assim que nascem os rios. Lenta e silenciosa é a matéria cósmica, que, de um núcleo imperceptível que se esboça, condensando e condensando, se transforma em nebulosa.... e é assim que nascem as estrelas. Lenta e silenciosa é a coralígena, que pela secreção do calcário, vem desde o fundo dos mares até a superfície das ondas, vem erguendo, de átomo em átomo, montanhas de arrecifes... e é assim que nascem os continentes.
Conhecemos na história literária de Atenas, a famosa Academia, que Platão tantas vezes encheu com os clarões de sua filosofia e com os perfumes de sua moral. Ora, entre os santuários que próximos se erguiam uma piedosa instituição fez do altar consagrado a Prometeu o ponto donde partia a corrida dos archotes. A um sinal dado os lutadores despediam a carreira, e venceria o prêmio quem primeiro chegasse a Atenas com o seu archote aceso.
Figuremos neste altar de Prometeu, onde perene ardia a luz votiva, a miragem de nossa Academia; em Atenas, vejamos a Pátria; nos archotes, que vejamos a fé na cultura, a esperança no belo, a chama do talento. Os lutadores somos nós, pois há outros que têm fome; os artistas têm sede eterna.