POLEPOSITION

Um pequeno grande passo

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 30-09-2023 05:00 | 3815
Jessica Hawkins em seu primeiro teste com um carro de F1
Jessica Hawkins em seu primeiro teste com um carro de F1 Foto: Divulgação

A vitória de Max Verstappen em Suzuka deu à Red Bull o sexto título de Construtores por antecipação faltando ainda seis corridas para o encerramento da temporada. Foi uma vitória esmagadora do holandês que pode carimbar o tricampeonato de pilotos já na corrida Sprint do próximo sábado, no Qatar. Verstappen chegou ao Japão mordido com os problemas que havia enfrentado em Singapura. Disse que venceria a prova com 20s de vantagem sobre o 2º colocado. Ninguém duvidou, mas a profecia bateu na trave. Verstappen recebeu a bandeirada com 19s387 sobre Lando Norris, da McLaren. A festa da Red Bull só não foi completa em Suzuka porque Sergio Perez teve uma de suas piores apresentações na F1. Em 15 voltas Perez tocou com Hamilton na largada, cometeu um erro inadmissível para um piloto de ponta ao bater em Kevin Magnussen, recebeu duas punições de 5 segundos, perdeu 4 pontos na superlicença (uma espécie de carteira de piloto) e depois de abandonar a prova, retornou à pista para cumprir as punições e não carregá-las para a próxima corrida. Um vexame.

Contudo, não é justo diminuir o trabalho do mexicano, muito criticado pelo desempenho de quem tem um carro tão superior como o da Red Bull. Falei sobre isso na coluna do dia 9 deste mês. Perez também teve participação nesta conquista antecipada já que no Japão foi apenas a segunda corrida que ele ficou sem pontuar, tendo vencido duas vezes, uma Sprint, duas poles, 8 pódios em 16 corridas e terminado outras duas entre os cinco primeiros.

Ele é o único que matematicamente impede Verstappen de ainda não ter colocado a faixa de campeão. Mas o que talvez seja mais constrangedor para Perez é olhar para a tabela de classificação e ver que Verstappen, sozinho, conquistou mais pontos que a Mercedes, 2ª colocada entre as equipes. Verstappen tem 400 pontos(!) e a Mercedes, 305. Perez tem 223 pontos e está apenas 33 à frente de Hamilton, deixando a disputa pelo vice-campeonato totalmente aberta. E Hamilton voltou a se reencontrar consigo mesmo e a andar forte, o que o coloca em boa posição lutar nesta reta final de campeonato. No Japão, Hamilton jogou duro com George Russell para terminar apenas em 5º numa pista onde a Mercedes não teve bom desempenho, mas mostrando a mesma gana que o levou a vencer sete campeonatos.

Mas fora a conquista da Red Bull, o acontecimento mais importante no automobilismo foi o teste meio que secreto de Jessica Hawkins com o modelo AMR21 da Aston Martin em Hungaroring. A piloto inglesa de 28 anos, que desde 2021 é embaixadora da Aston Martin e nas horas de folga atua como dublê em filmes de ação, foi a primeira mulher nos últimos cinco anos a guiar um carro de F1 desde o teste que a colombiana Tatiana Calderon fez com a Sauber em 2018 no México. Jessica completou 26 voltas. A Aston Martin não havia divulgado seus tempos até o fechamento desta coluna, mas isso pouco importa já que o regulamento da F1 proíbe testes particulares com dos últimos dois anos. O modelo utilizado foi o de 2021, com pneus de especificação diferente dos atuais. O importante foi que Jessica saiu feliz com o seu desempenho e disse que pretende inspirar outras mulheres a seguirem os seus sonhos.

Tudo bem que foi apenas um teste particular, e aos 28 anos talvez não será Jessica a próxima mulher a disputar uma corrida de F1 desde a italiana Giovanna Amati em 92. Mas é um feito valioso que serve de incentivo para todas as mulheres que buscam espaço no automobilismo. Elas não são poucas e estão espalhadas por diversas categorias, mas infelizmente ainda enfrentam barreiras e preconceitos num ambiente machista. Mas queiram ou não, as mulheres estão chegando e conquistando o seu espaço seja na pista ou nos boxes. Por trás das vitórias de Verstappen, há uma mulher comandando as estratégias da Red Bull, Hannah Schmitz, reconhecidamente uma das melhores estrategistas da F1.

O automobilismo é a única modalidade esportiva em que as mulheres têm que competir com os homens. Em todos os outros esportes sempre há competições masculinas e femininas, mas no automobilismo não, o que aumenta ainda mais o meu respeito, admiração e torcida sempre que uma mulher veste o macacão, capacete e entra num carro de corrida.

Pode ser que demore - e não vejo isso a curto prazo -, mas sonho com o dia em que veremos uma mulher chegar bem preparada para competir na F1. Será um grande feito para o esporte. É por isso que o teste de Jessica Hawkins, ainda que tenha o marketing como pano de fundo, é mais um pequeno grande passo.