POLEPOSITION

Relatos de um GP caótico

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 14-10-2023 06:11 | 1355
Logan Sargeant amparado com forte  desidratação devido ao calor e alta umidade
Logan Sargeant amparado com forte desidratação devido ao calor e alta umidade Foto: Divulgação / Williams

Há quem pense que não há limites para a F1. Mas há. E ele foi visto na noite escaldante do Catar. As condições climáticas durante a corrida foram brutais. Às 20h, momento da largada, os termômetros marcavam 32ºC e 73% de umidade. Dos 20 pilotos do grid o único que pode-se dizer que se deu bem foi Carlos Sainz porque não correu! Sua Ferrari teve vazamento de combustível antes da largada e não houve tempo para reparo. Assim, sorte ou não, Sainz não sofreu os efeitos da alta temperatura e umidade do ar no Circuito de Losail que diga-se, não estava preparado à altura para receber a corrida, ainda que pese uma reforma monstruosa no paddock para deixar tudo às mil maravilhas. Mas dentro da pista… falo sobre isso mais adiante.

Logan Sargeant abandonou a corrida com forte desidratação. Precisou ser amparado nos boxes para sair do carro. Valtteri Bottas disse que a corrida foi uma “tortura” e no limite de ser aceitável. Yuki Tsunoda tentou abrir a viseira do capacete para se refrescar e encheu os olhos de areia; imagens de TV flagraram vários pilotos abrindo o mínimo possível da viseira, mas o ar que vinha era quente. “Parecia que tinha alguém com o secador de cabelo ligado na minha cara”, disse George Russell que terminou em 4º depois de cair para a última posição num enrosco com Hamilton na largada.

O vento que soprou na sexta-feira e encheu a pista com areia do deserto sumiu no domingo. Alex Albon da Williams foi ajudado a sair do carro pelos mecânicos da Alfa Romeo e foi parar no centro médico para se recuperar de exposição aguda ao calor. Um vídeo que circulou pela internet mostrava Lance Stroll cambaleando ao deixar o cockpit da Aston Martin totalmente desidratado e também foi parar no centro médico. O canadense disse que algumas vezes pensou que fosse desmaiar dentro do carro.

Alonso reclamou que o banco do carro estava muito quente e perguntou pelo rádio se podiam jogar um balde d’água quando parasse para trocar os pneus. Esteban Ocon vomitou duas vezes no capacete. “Normalmente consigo fazer duas distâncias de corrida mesmo em lugares quentes como Cingapura e estou sempre bem. Mas no Catar, não. Não esperava que fosse tão difícil”, disse o piloto da Alpine.

Charles Leclerc, da Ferrari, disse que os pilotos precisarão conversar sobre isso para não estarem nesta situação novamente. E até o vencedor e agora tricampeão, Max Verstappen, saiu do carro bastante abatido dizendo que “foi uma das corridas mais difíceis da minha vida”.

Como se vê, todos os pilotos estavam em situação de risco. Imagine se algum deles desmaiasse a mais de 300 km/h? E estamos falando de atletas de elite. Os pilotos são extremamente bem preparados fisicamente. Para enfrentar a corrida normalmente mais longa e desgastante do ano, o GP de Cingapura, eles se preparam com bicicleta ergométrica dentro de saunas. Mas todos sucumbiram ao calor e à umidade do Catar.

A gravidade levou a Federação Internacional de Automobilismo a emitir comunicado em que prometeu tomar medidas para evitar o que ocorreu no Catar. “Embora sejam todos atletas de elite, não se deve esperar que eles compitam em condições que possam colocar em risco a saúde ou a segurança”, diz a nota.

Some-se tudo isso a uma falha estrutural das zebras instaladas na pista, que deflagrou minúsculos cortes nos pneus detectados pela Pirelli, que por medidas de segurança obrigou os pilotos a não darem mais do que 18 voltas com cada jogo de pneus. E com a borracha em bom estado pelo pouco número de voltas, fez com que os pilotos andassem o tempo todo de pé embaixo numa pista repleta de curvas de alta velocidade onde o esforço só não era maior na reta dos boxes.

Não bastasse tudo isso, mais uma vez a F1 foi banalizada com a famigerada regra dos limites de pista. Só na corrida foram 51 voltas deletadas e várias punições de 5 segundos por limites de pistas. Sergio Perez, companheiro de Verstappen na Red Bull sofreu três dessas punições. Já passou da hora de a FIA rever essa regra que tem se tornado uma chatice e motivos de insatisfações.

Calor, umidade, pilotos passando mal, areia na pista, zebras que cortavam pneus, excesso de punições, tornaram o GP do Catar caótico e o que menos se falou foi da conquista do tricampeonato de Max Verstappen na sprint do sábado com cinco provas de antecipação.