ESPECIAL 202 ANOS PARAÍSO

Ecos de fé: Um século de luz e história da 1ª Igreja Presbiteriana de Paraíso

Do surgimento histórico à atuação contemporânea, o legado inabalável de uma comunidade comprometida com a transformação espiritual e social da comunidade paraisense
Por: Ralph Diniz | Categoria: Entretenimento | 27-10-2023 15:00 | 1097
Templo da IPB é o segundo mais antigo de Paraíso, atrás apenas da igreja do Rosário
Templo da IPB é o segundo mais antigo de Paraíso, atrás apenas da igreja do Rosário Foto: Reprodução

“A Igreja crescia, as bençãos eram derramadas ricamente, havia regozijo espiritual. Guardadas certas proporções, parece que acontecia na Igreja de São Sebastião do Paraíso, aquilo que está registrado no capítulo 2 dos Atos dos Apóstolos. ‘E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.’ (Atos 2:42). Diante deste clima da mais autêntica vida cristã, obediência e submissão à vontade Soberana de Deus, a Comunidade Presbiteriana Paraisense inaugurou seu templo a 12 de outubro de 1921. A cerimônia de inauguração foi presidida pelo Reverendo Roberto D. Daffin, mas, o pregador da ocasião foi o Reverendo Andre Jensen que falou sobre a Oração.”

Foi desta forma que o Reverendo João Batista Pereira narrou em seu “Pequeno Ensaio Histórico e do Desenvolvimento do Trabalho Evangélico Presbiteriano na Região Norte de São Paulo e Sudoeste Mineiro” como foi o culto de inauguração do templo da 1ª Igreja Presbiteriana de Paraíso, há 102 anos, graças aos esforços de membros da comunidade local e, principalmente, de evangelistas norte-americanos que viram na cidade um ponto de partida importante para disseminar os ideais reformistas para toda a região. Em seu documento histórico, o Reverendo João contou: “Geograficamente podemos citar a cidade de São Sebastião do Paraíso como um polo regional de uma grande área que seria evangelizada. Deste polo, os pregadores partem na direção de Monte Santo, Guaranésia, Guaxupé, Jacuí, Passos, Pratápolis, Cássia e São João Batista do Glória. O trabalho já iniciado antes de 1917, começa a ganhar força e a se estruturar neste ano, graças a ação de Deus que escolhe e vocaciona homens como o Rev. Roberto D. Daffin, Andre Jensen, Jaime Woodson, George Hurst e do Rev. Dr. Eduardo Lane”.

E durante esses pouco mais de 100 anos a 1ª Igreja Presbiteriana do Brasil de São Sebastião do Paraíso não somente testemunhou o desenvolvimento do município e de sua gente, como também ajudou no crescimento social e espiritual do povo paraisense. Para se ter ideia da importância da instituição, existiam mais de 400 pessoas matriculadas na Escola Bíblica Dominical nos primeiros anos do século XX.

Mais de um século depois, a igreja continua fazendo a diferença e ajudando na construção da moral e da fé do paraisense. E atual responsável pela administração da 1ª IPB é o Reverendo Edmar Eurípedes Vicente, que desde junho de 2006 é o pastor da igreja centenária, que como uma joia antiga lustrada pelas mãos do ourives, segue brilhando como farol para almas e corações.

 

Jornal do Sudoeste: Como o senhor vê o papel da igreja na formação da comunidade de Paraíso nesse último século? Qual é a importância da IPB para o desenvolvimento social e espiritual da cidade?

Rev. Edmar: Eu enxergo a Igreja Presbiteriana como uma formadora de opinião. Nós somos uma Igreja reformada e pautamos os nossos princípios na fé, e a fé foi e é muito importante para o bem-estar da comunidade em São Sebastião do Paraíso. A Igreja Presbiteriana trabalha de forma terapêutica, proporcionando aos seus participantes uma certeza de que em Jesus Cristo nós temos a paz que excede o entendimento humano. Então, nós acreditamos que a Igreja Presbiteriana, com essa proclamação da paz que excede o entendimento humano e da fé, podemos prestar um serviço muito grande para a formação do nosso povo, da nossa gente, e assim, termos uma sociedade mais pacífica que, mesmo em meio às lutas e dificuldades, continua ainda muito empenhada, muito determinada. Tem sido assim desde 1921.

 

JS: Pensando no presente, senhor acredita que o papel da igreja acabou mudando em relação ao que era antigamente, até mesmo por causa das mudanças que a sociedade passou e tem passado?

Rev. Edmar: Quanto ao papel da igreja na atualidade, eu acredito que ele mudou muito, mudou em decorrência das multiformas de proclamação da palavra. Antes a igreja era mais buscada, mais desejada, o povo tinha mais prazer em se reunir, congregar, e isso fazia com que nós estivéssemos mais próximos das pessoas e pudéssemos ajudar mais. Com os avanços da tecnologia, surgiram as igrejas televisivas, os televangelistas, nós tivemos uma perda muito grande dessa frequência na casa do Senhor, o que é muito ruim. Depois, com o boom da internet, a situação mudou ainda mais. Hoje os pregadores têm um alcance assustador com a palavra ministrada, e isso chega numa velocidade muito grande para as pessoas, e numa comodidade, no conforto da casa, na sua zona de conforto. Então, hoje a igreja passou a ser um lugar procurado por uma quantidade bem menor de pessoas.

 

JS: E essa diminuição na procura é prejudicial?

Rev. Edmar: Como diz em Hebreus, ‘não deixemos de congregar como é costume de alguns, ainda mais quando vedes que o dia do Senhor se aproxima’. O ajuntamento ainda continua sendo muito importante e fundamental, porque ele é estimulante, um estimula o outro quando nós estamos reunidos. Mas é isso, eu creio que mudou, mudou muito. Mas ainda creio que a igreja continua tendo o seu papel muito importante na formação de uma sociedade melhor, incentivando as pessoas realmente a continuarem crendo, porque nós temos dentro de nós a eternidade.

 

JS: Como a Igreja (lideranças e membros) deve agir para fazer, de fato, a diferença na cidade?

Bom, eu creio que no que Jesus Cristo disse... Ele deixou bem claro que nós deveríamos fazer brilhar a nossa luz diante dos homens para que, assim, o nosso Deus fosse glorificado. Então não adianta hoje nós querermos enfiar a goela abaixo o que nós cremos, o formato da nossa fé. Eu acredito que nós, como liderança, co-mo povo de Deus, devemos agir com muita sabedoria, com muita sensatez e tentando ajudar as pessoas. Às vezes nós não temos uma condição financeira melhor para poder ajudar os outros, mas é uma frase que eu sempre guardo no meu coração que diz: “Você não pode viver na expectativa de mudar o mundo, mas mudar o mundo de alguém”. E é isso que eu vejo. A igreja hoje deve focar no grupo menor, não pensando em grandes feitos, em grandes coisas, mas fazendo alguma coisa nessa atual situação em que nos encontramos. E eu vejo a Igreja Presbiteriana bem engajada nisso, bem envolvida. Hoje nós adotamos a entrega de cestas básicas. Nós não conseguimos alcançar todos os que necessitam dessa ajuda, mas pelo menos 35 famílias, todo mês, nós conseguimos ajudar. Então, se cada um, se cada instituição da nossa cidade se prontificasse, se imbuísse dessa responsabilidade de ajudar, nós conseguiríamos alcançar muito mais pessoas, com certeza.

 

JS: O senhor assumiu a igreja em 2006, em um tempo em que o templo, até pela sua idade, estava com sua estrutura bem deteriorada. E o senhor foi o responsável pela reforma desse local que é um patrimônio histórico e arquitetônico de Paraíso. Como foi encarar esse desafio? É um legado que o senhor deixa para a cidade?

Rev. Edmar: Eu acredito que legados precisam ser realmente deixados para nós, e às vezes não nos preocupamos tanto, mas isso é tão importante. Quando eu cheguei a São Sebastião do Paraíso, eu vi aqui um templo lindo, com características e com uma arquitetura mais voltada para a americana, porque nós somos frutos dos missionários americanos. Só que eu também vi uma igreja muito detonada, muito acabada, muito destruída, e correndo riscos de, de repente, o chão afundar e a gente ter uma tragédia. Mas, com a graça e a bondade de Deus e com a ajuda dos irmãos da comunidade, nós conseguimos reformar o templo, primando por não descaracterizar a nossa igreja no que diz respeito à arquitetura. Nós preservamos a fachada, o que ela realmente tinha de marca histórica, nós tentamos preservar e fizemos por dentro, na parte interna, uma ampliação. Tentamos mexer na sua estrutura porque ela estava totalmente abalada, era uma construção muito antiga e nós conseguimos então reformá-la. Hoje nós temos um templo que que carrega as características do seu princípio, do seu início, não destruímos as suas características, porque entendemos que é o legado para a cidade. Não foi fácil. Foram seis anos de obras, com muito sacrifício, com muito pouco dinheiro, sem nenhuma ajuda externa... Só com o povo da Igreja mesmo. E eu acredito que esse é o legado meu, como pastor, e o legado de todos os membros, de toda a liderança para Paraíso.

Desde 2006, Rev. Edmar Vicente é o pastor responsável pela 1ª Igreja Presbiteriana do Brasil em Paraíso