Se você gosta de F1 como eu, guarde esta coluna. Ela pode servir no futuro como fonte de consulta. Porque dificilmente haverá outra temporada com números tão impressionantes como os que Red Bull e Max Verstappen alcançaram. É pouco provável que nas próximas décadas tenhamos domínios assim. Houve recorde que estava adormecido nas estatísticas há 71 anos e que caiu nesta temporada. A Red Bull venceu 21 das 22 corridas. Verstappen venceu 19 delas, somou pontos que seriam suficientes para ele, sozinho, garantir o título de Construtores para a Red Bull.
Mas espere, você pode estar pensando que foi uma temporada monótona, e que não via a hora de acabar. Olhando apenas para quem esteve (quase) o tempo todo em primeiro, dá essa impressão. Mas você pode achar interessante se olhar para os números e ver que foi uma temporada histórica. A F1 sempre foi feita de ciclos. Um dia alguém pensou que jamais outro piloto superaria os 5 títulos de Juan Manuel Fangio até que Schumacher e Hamilton vencessem sete cada um. Um dia alguém imaginou que as 51 vitórias de Alain Prost seriam inalcançáveis, até que Schumacher vencesse 91 e Hamilton 103. As 65 poles de Ayrton Senna também pareciam ser eternas até que Schumacher fizesse 68 e mais tarde Hamilton 104. Em 1988 a McLaren venceu 15 das 16 corridas. Só não ganhou todas porque Senna se enroscou com um retardatário em Monza há duas voltas da bandeirada. E tudo isso dá mais vida e enriquece a história desse esporte que começou lá em 1950. Verstappen tornou-se o terceiro piloto com mais vitórias na F1, superando as 53 de Sebastian Vettel com o primeiro lugar no encerramento da temporada, em Abu Dhabi. Do ano passado para cá, o holandês ganhou 34 de suas 54 vitórias.
Mais impressionante são as estatísticas. Ao final do GP de Abu Dhabi ele tornou-se o primeiro piloto a atingir e romper a barreira de 1000 voltas lideradas numa temporada. Liderou 1.003 no total, e um dos momentos que chamou atenção na corrida foi quando disse pelo rádio ao engenheiro que se quisesse, poderia parar Sergio Pérez primeiro no pit stop para que ele (Verstappen) pudesse ficar mais tempo na pista para conseguir liderar o máximo de voltas possíveis para atingir a marca, o que significa que Verstappen liderou 75,7% de todas as voltas das 22 corridas (1.325). O recorde anterior era de Jim Clark que liderou 71,5% das voltas em 1963. As voltas lideradas por Verstappen este ano correspondem exatamente ao total liderado pela McLaren em 1988 com Ayrton Senna e Alain Prost juntos.
As 19 vitórias em 22 corridas significam 86,3% de aproveitamento e quebra do recorde de Alberto Ascari que em 1952 venceu 6 dos 8 GPs daquela época (75%), marca que durou 71 anos!
E tem mais. Muito mais. Verstappen é dono do maior número de vitórias em uma temporada (19), recorde de vitórias consecutivas (10), maior número de pódios em um único campeonato (21), foi o único piloto a completar todas as 1.325 voltas percorridas ao longo do campeonato. Apenas Schumacher em 2002 e Hamilton em 2019 conseguiram tal feito. Somou o maior número de pontos em um campeonato (575) e a maior diferença que já existiu entre o primeiro e o 2º colocado nestes 73 anos de F1: 290 pontos.
Ao término da corrida de Abu Dhabi, um desolado Lewis Hamilton disse uma frase que sintetiza a eficiência do modelo RB19 conduzido por Verstappen: “A Red Bull venceu com 17 segundos de vantagem para o 2º colocado e eles não tocam no carro desde julho ou agosto”.
Os números da Red Bull não são mais impressionantes porque Sergio Pérez falhou em muitas corridas e não correspondeu à altura. O mexicano venceu apenas duas corridas no começo do ano e garantiu o vice-campeonato aos trancos e barrancos somando 285 pontos. No total a Red Bull venceu 21 das 22 corridas (95,4% de aproveitamento), fez 14 pole positions (12 com Verstappen), acumulou 30 pódios, 11 voltas mais rápidas, venceu 5 das seis corridas sprints, somou 860 pontos, mais que o dobro da vice-campeã de Construtores, Mercedes, com 409.
Coube a Carlos Sainz, com a Ferrari, ser o único a se intrometer nas vitórias da equipe austríaca, no GP de Cingapura, a única etapa do ano em que a Red Bull não teve nenhum de seus dois pilotos no pódio.
A temporada foi tão atípica que pela primeira vez na história, a última colocada (Haas) somou 12 pontos. Nunca a lanterna de um campeonato havia somado tantos pontos no ano.