Prefeito de São Sebastião do Paraíso, Marcelo Morais, inicia o último ano de seu mandato da mesma forma que começou: ligado no ‘220 volts’, como ele mesmo costuma dizer. Além de chefe do Poder Executivo, o professor ainda é o responsável direto pelas secretarias de Obras e Saúde.
Conhecido por não ter ‘papas na língua’, permanecer atuante nas redes sociais e estar a par de absolutamente tudo o que diz respeito à gestão, Morais é uma figura política que não passa despercebida, colecionando tanto admiradores quanto desafetos em seu caminho.
Nesta semana, o prefeito concede ao uma entrevista franca, onde aborda temas cruciais de seu governo, desde os desafios iniciais enfrentados no auge da pandemia de covid-19, passando pelas estratégias adotadas para reduzir a dívida municipal, até os principais feitos e promessas de campanha ainda pendentes.
Além de discutir suas realizações e os obstáculos encontrados, o prefeito de Paraíso também fala abertamente sobre as críticas e os conflitos políticos que marcaram sua administração. E, claro, revela suas intenções e expectativas quanto à possibilidade de reeleição no pleito deste ano.
Jornal do Sudoeste: Como o senhor avalia os primeiros três anos de sua administração à frente da prefeitura de São Sebastião do Paraíso, especialmente diante dos desafios econômicos e da pandemia de covid-19?
Marcelo Morais: Os desafios foram até antes de começar, quando já na transição não houve empenho da gestão anterior em resolver questões de serviços básicos para a cidade e que foram abandonados para que eu pudesse resolver, em nítida ação para tentar tumultuar serviços públicos de extrema importância, para que nossa equipe já entrasse ‘queimada’ na prefeitura.
De todos os desafios vividos, cito alguns que nos deram trabalho, mas foram resolvidos como o vencimento do contrato do transporte coletivo no primeiro dia útil de nosso mandato; dívidas com fornecedores de medicamentos altíssimas no pior período da saúde do município; dívida do trecho feito da estrada da Guardinha; dívida com empresa que realizava a coleta de lixo na cidade. Aí você se depara com falta de medicamentos na Upa, para combater covid, sem licitação para EPI no combate a covid, transporte coletivo sem contrato, E-cnpj da prefeitura sumiu no dia que entramos, ameaça de parar serviço de coleta de lixo, tudo isso na primeira semana de mandato com pico da covid explodindo... Tive que agir durante 24 horas dos dias para sanar os problemas deixados. Mas resolvemos tudo.
Depois, veio a chuva ácida que matou todos os peixes da Lagoinha; o índice alarmante de dengue no município; chuvas em 2022 jamais vista nos últimos 70 anos; queda de receita gigante em 2023; falta de maquinários na Secretaria de Obras; frota toda sucateada, ambulâncias todas quebradas, ambulatório insalubre para servidores e pacientes, sem estrutura alguma nos setores, sem computador em diversos setores para servidores desempenharem os trabalhos. Sinceramente, não sei como os servidores conseguiram tocar a prefeitura com tudo isso. Mas, com muito trabalho resolvemos tudo, literalmente tudo. Falta pouca coisa pra deixar a prefeitura do jeito que planejamos desde quando entramos.
JS: Quais estratégias o senhor adotou para reduzir a dívida municipal e como essas medidas impactaram a capacidade de investimento da prefeitura em outras áreas?
Morais: A estratégia foi a que uso dentro da minha casa e que todos sempre diziam, mas nunca foi feito: gastar menos do que se arrecada. Traçamos valor de pagamento da dívida mensalmente, focamos em parar gastos que tinham e que não eram prioridades e tracei meta de economizar R$ 1 milhão por mês juntando todas as secretarias. Realizei cortes importantes em diversos atos que, a meu ver, não são importantes para o coletivo e que beneficiava situações particulares, e fui usando esse recurso para pagamento de dívidas. Peguei a prefeitura com R$ 51 milhões em dívidas e hoje está com R$ 18 milhões em dívidas a longo prazo, que foram todas parceladas e estão para serem quitadas totalmente até 2027.
JS: Como foi administrar a cidade durante a pandemia de covid-19? Quais foram os maiores desafios?
Morais: Foi tenso. O maior desafio foi mostrar para as pessoas o quanto estávamos vulneráveis a uma situação desconhecida por todos. Teve muita gente que morreu não acreditando em tudo isso, que morreu duvidando que existia a covid. Isso sim foi o pior pra mim: ver o que estava vendo acontecer e me deparando com situações de pessoas que, além de não acreditar, ainda colocavam em risco toda uma cidade. A quantidade de festas em zona rural que fechamos foi algo também que me deixou indignado, e a pergunta que me fazia era sempre a mesma: Como estes jovens vão se sentir caso seus pais e avós venham a óbito após uma festa dessa, com a possibilidade eminente do contágio ter sido feitos por eles depois de terem vindo a uma festa dessa? Isso pra mim foi o pior. Ver as pessoas morrerem de covid era algo que me machucava diariamente. Quando recebia os dados dos boletins epidemiológicos e mais duas, quatro até sete mortes por dia, isso me destruía e tenho certeza que me deixou sequelas para o resto da vida. Tive que tomar decisões que não agradaram a muitos, mas sempre me pautei em não colocar em risco a vida da maioria. Tinha noites que eu passava em claro, pensando o que eu deveria fazer assim que chegasse na prefeitura para mais um dia de combate à covid. Foi algo que ainda não consigo contabilizar o mal que isso me fez e que ainda vai fazer.
JS: Sobre suas ações: a realização do calçamento e do asfaltamento do distrito de Guardinha foi o maior marco de sua gestão? O que essas obras representam?
Morais: É claro que o calçamento das 19 ruas do distrito de Guardinha e o asfaltamento chamam mais a atenção, são duas das obras mais importantes que realizamos, Mas, não podemos nos esquecer da reforma e limpeza das lagoas do San Genaro; a limpeza da Lagoinha; o calçamento das ruas de Termópolis; o calçamento da rua Carlos Mumic; as reformas em todas as escolas do município, em especial ao Campos do Amaral e ao Roque Scarano; o asfaltamento de diversas ruas da cidade, em especial da Avenida Mário Giacchero e região; a compra de todas as ambulâncias e UTIs móveis e de todos os maquinários e caminhões para o Obras; o pagamento rigorosamente em dia, tanto dos ativos quanto aposentados da prefeitura; o trabalho que fizemos nas ruas Virgilio Zanin, Roni Eder e Fortunato Zanin; a recuperação que fizemos da Unidade de Saúde do Rosen-tina; o asfaltamento da Rua Iugoslávia, Parque Industrial e, por fim, o que me enche de esperança sempre é o que fizemos com nosso ambulatório, que hoje atende diariamente 600 pessoas e que não chegava a 200 atendimentos dia antes de entrarmos. É claro que sei de muita coisa que precisamos fazer e vamos trabalhar firmes neste último ano de mandato para terminarmos o que temos planejado.
JS: Quais promessas de campanha o senhor considera que não foram integralmente cumpridas e quais ainda estão pendentes?
Morais: O asfalto do Condomínio Cachoeira, que entregaremos ainda em 2024, as escolas e creches que estão em fase adiantada de construção, a cobertura da quadra da Aisp, no São Judas, o asfalto do bairro Conserva, que é questão de honra para terminar. Essas são algumas obras que me comprometi em fazer e vou fazer. Tenho ainda 11 meses e alguns dias de mandato e vou entregar tudo.
JS: Como o senhor lida com as críticas e as denúncias que surgiram durante seu mandato? Em sua visão, elas refletem desafios reais da gestão ou são principalmente políticas?
Morais: As críticas eu avalio primeiro quem as faz. Se for os ‘quatro mosqueteiros’ [o prefeito não mencionou quem seriam essas pessoas], não dou importância porque sei dos verdadeiros interesses deles, principalmente por se tratar de pessoas que estão na política em clara evidência de tumultuar e não agregar. Se a crítica é feita da forma correta, eu mesmo avalio e tenho ações para melhorar. Sobre as denúncias feitas, principalmente pela família do ex-prefeito [Walker Américo de Oliveira], digo que vão continuar passar vergonha ‘no débito, crédito e pix’, simplesmente por não terem feito em todos os anos na prefeitura o que fizemos tudo em dois anos. São eles que precisam explicar o que fizeram, ou melhor deixaram de fazer enquanto estavam na prefeitura.
JS: Como sua experiência anterior como crítico da gestão passada influenciou suas decisões enquanto prefeito? Houve mudanças na sua percepção sobre a gestão pública?
Morais: Nenhuma mudança. Penso do mesmo jeito e, inclusive, tudo que eu criticava estou mostrando e realizando agora. Estou mostrando os investimentos em Educação que estamos fazendo e reforço: o que antes os professores tinham que fazer festa pra arrecadar recursos na escola para comprar até papel higiênico, hoje não tenho dúvidas que já fizemos os investimentos nas escolas que não fizeram em 40 anos de prefeitura.
JS: Como anda a questão do Município com a Copasa, que foi uma tecla que o senhor sempre bateu enquanto esteve vereador e, até mesmo, antes de ser eleito ao cargo no Legislativo? Conseguiu algum progresso?
Morais: Continuamos trabalhando para licitar o serviço e pagar a multa estabele-cida pela Copasa. O processo que entrei contra a empresa, com comprovação da perícia ambiental de todas as denúncias que fiz, com concordância do Ministério Público de tudo que denunciei, infelizmente foi arquivado pelo Judiciário. Mas seguimos firmes com o PPI publicado para que novas empresas entrem na cidade. Logo, acredito que teremos novidades sobre o assunto.
JS: Quais são seus principais objetivos e projetos para este último ano de mandato?
Morais: Diminuir a dívida pública para R$ 17 milhões e terminar o mandato com a sensação de dever cumprido, de ter trabalhado todos os dias de forma dedicada a transformar a cidade.
JS: Desde o início da sua gestão, o senhor sempre evitou falar em reeleição. Porém, estamos às portas das eleições municipais. Já definiu se será candidato? Quais fatores estão influenciando sua decisão?
Morais: Definimos, sim. Já temos vários partidos que fecharam questão em uma possível candidatura à reeleição. Já anunciei recentemente que tanto eu quanto o Dr. Daniel somos pré-candidatos, sim, mas estamos finalizando essas questões partidárias e cumprindo rigorosamente os prazos eleitorais para anunciarmos de forma oficial a situação de uma possível disputa à reeleição.