POLEPOSITION

A nova filosofia das equipes pequenas da F1

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 27-01-2024 05:57 | 610
Equipes pequenas da F1 tendem a preterir jovens pilotos pelos mais experientes
Equipes pequenas da F1 tendem a preterir jovens pilotos pelos mais experientes Foto: Divulgação

Aquela velha história de que as equipes pequenas da F1 serviam de porta de entrada para jovens pilotos vindos das categorias de base, parece cada vez mais obsoleta. Um bom exemplo disso é a Alpha Tauri - que nesta semana anunciou a troca de nome e sobre isso falo mais abaixo -, que até então servia de trampolim para o bem ou para o mau, para a co-irmã Red Bull.

Não foram poucos. A lista é longa dos pilotos que faziam parte da academia da Red Bull e foram defenestrados sem dó por Helmut Marko. O exemplo mais recente foi a demissão de Nyck de Vries no meio da temporada de estreia do holandês no ano passado sem que pudesse ganhar mais quilometragem com um carro ruim. 

A F1 vive o boom do momento no esporte. Há uma expectativa de que a categoria bata na casa dos US$3 bilhões em receita nesta temporada, o que seria recorde de arrecadação, superando todas as perdas ocorridas durante a pandemia. E a nova política de distribuição de lucros que a Liberty Media trouxe para as equipes, muito mais rentável do que nos tempos de Bernie Ecclestone, está mudando a mentalidade das equipes, cada vez mais interessadas em alcançar melhores resultados uma vez que cada posição acima no Mundial de Construtores corresponde a dezenas de milhões de dólares. E elas veem que o momento não é de perder pontos importantes no campeonato, e muito menos acumular prejuízos com danos materiais causados pelos erros de pilotos inexperientes enquanto as adversárias estão pontuando com os mais experientes.

Um exemplo claro disso foi a Haas, ainda que lanterna do campeonato, preferiu recorrer a uma dupla experiente formada por Kevin Magnussen e Nico Hulkenberg depois da desastrosa formação com os novatos Mick Schumacher e Nikita Mazepin que estrearam na F1 em 2021 e causaram enormes prejuízos com tantas batidas e sem marcar nenhum ponto. Mesmo amargando o último lugar no ano passado, a Haas somou 12 pontos.

Nesta semana, Peter Bayer, CEO da equipe satélite da Red Bull, explicou por que abriu mão de apostar no jovem neozelandês Liam Lawson que substituiu Daniel Ricciardo por cinco corridas em 2023 enquanto o australiano se recuperava de um acidente na Holanda, mesmo deixando boas impressões em sua estreia na F1.

Bayer disse em entrevista ao site da ‘Autosport’ inglesa, que a quantidade extra de tráfego de rádio que ouviu das conversas com Lawson foi uma indicação do quanto os jovens precisam de ajuda até entenderem toda a complexidade do esporte e a quantidade de informações que eles precisam digerir e processar para só depois trazer informações que os engenheiros precisam sobre o comportamento do carro. Para Bayer, um jovem piloto precisa de no mínimo três anos para estar pronto para a F1.

Ele traça uma comparação interessante de como funciona o fluxo de informações entre os experientes e os inexperientes: “Um piloto como Daniel, é ele quem alimenta o engenheiro, que alimenta a sala de operações na fábrica da equipe, que então retorna com as soluções. Já um jovem sem experiência, as informações vêm da sala de operações para os engenheiros e do pitwall (local junto à mureta dos boxes onde ficam o chefe de equipe, estrategista, e engenheiros) para o piloto do tipo: ‘cuidado, observe os botões, freie mais cedo, freie mais tarde, observe a traseira, a frenagem, o motor, cuide dos pneus, tem alguém atrás de você’…”, disse.

O ponto de vista de Bayer e a linha de pensamento da Haas, atesta para essa mudança de filosofia das equipes pequenas e vão de encontro com as dificuldades que pilotos jovens saídos da F2 estão tendo para ingressar como titulares na F1, a menos que eles sejam um ‘fora da curva’ como Verstappen ou Hamilton, mas sabemos que estrelas assim não nascem todos os dias. O interesse financeiro das equipes pequenas sobressaiu à antiga prática de leiloar seus cockpits e oxalá revelar novos talentos.

A Alpha Tauri que um dia foi a saudosa Minardi e depois Toro Rosso, está de mudança da sede em Faenza, na Itália, para uma nova fábrica na Inglaterra para ficar mais perto da Red Bull. A equipe anunciou nesta semana um nome nada convencional para uma equipe de F1 a partir desta temporada: “Visa Cash App BR”, como parte de um acordo comercial. Mas ainda bem que deverá ser chamada apenas de “Racing Bulls”. Menos mal.