Os carros da F1 quase não quebram mais. Por um lado, mostra a excepcional capacidade dos técnicos no desafio de engenharia e deve-se creditar a isso os regulamentos que determinam os limites máximos de motores e caixas de câmbio para cada piloto ao ano, e mais recente o teto orçamentário onde passou a ser essencial evitar despesas com quebras mecânicas para empregar o dinheiro em desenvolvimento do carro. Até o ano passado, cada piloto tinha direito a três motores por ano e a partir da quarta unidade começa a perder posições no grid. Para esse ano, com o aumento no número de corridas, esse número aumentou para 4 motores e 5 caixas de câmbio.
Por outro lado, engessa a relação de forças das equipes e quem mais sofre é a turma do pelotão de trás que historicamente sempre tirou proveito em cima das quebras das equipes de ponta. Se ninguém quebra lá na frente, torna-se cada vez mais difícil para os mais fracos obterem posição de destaque em condições normais de corrida.
Nas duas corridas disputadas nesta temporada houve apenas dois abandonos, ambos na Arábia Saudita. À exceção de Lance Stroll que desistiu após bater na volta 7, apenas Pierre Gasly, da Alpine, que sequer largou, teve problemas mecânicos.
Pela primeira vez na história da F1, uma corrida de abertura de campeonato terminou com todos os carros na pista. Ninguém abandonou o GP do Bahrein no começo de março. E essa impressionante durabilidade mecânica dos carros reflete também no quadro que vai se desenhando a cada Grande Prêmio.
Max Verstappen conquistou em Jeddah a sua 9ª vitória seguida que vem desde o GP do Japão do ano passado. Ele está há uma de igualar seu próprio recorde de 10 vitórias seguidas que obteve também no ano passado entre os GPs de Miami e da Itália.
Já são 43 GPs seguidos que o holandês da Red Bull pontua (o recorde é de Lewis Hamilton que terminou 48 vezes seguidas entre 2018 e 2021 na zona de pontos). O último abandono de Verstappen foi exatamente no GP da Austrália de 2022 com problemas mecânicos, onde nesta madrugada acontece a terceira etapa do Mundial. Portanto, há 2 anos que Verstappen não sabe o que é abandonar uma corrida e de lá para cá foram 34 vitórias em 43 provas.
Mas já houve épocas mais divertidas na F1. Revendo minhas anotações para o GP da Austrália, na edição de 2002 Mark Webber fez sua estreia na F1 correndo pela manica e não menos saudosa equipe Minardi que deu origem à hoje RB Racing (ex-Alpha Tauri até o ano passado). O australiano largou da 18ª posição e terminou em um honroso 5º lugar com sabor de vitória numa época em que apenas os 6 primeiros colocados marcaram pontos.
O destino reservou naquela corrida uma linda história para Webber logo em sua estreia na F1 justamente em sua terra natal e levou dois pontos para casa depois de vencer uma disputa acirrada com o finlandês Mika Salo da Toyota.
Vinte e dois carros largaram em Melbourne e já na primeira curva, 8 ficaram pelo caminho devido um strike causado pelo irmão mais novo de Michael Schumacher, Ralf Schumacher, da Williams. Outros seis pilotos abandonaram durante a prova (4 por problemas mecânicos e 2 por acidentes). Oito receberam classificação final e apenas 7 receberam a bandeirada do diretor de prova.
A F1 já foi muito mais corrida de sobreviventes do que é atualmente, e os que sobreviviam, como Webber, dentre tantos outros, costumavam escrever belas histórias muitas vezes com equipes pequenas.
Este será o 38º GP da Austrália, prova que está no calendário da F1 desde 1985, e desde 1996 em Melbourne, no Circuito Albert Park. Serão 58 voltas pelos 5.278 metros da pista com largada à 1h desta madrugada para domingo com transmissão ao vivo pela TV Band. Não será nenhuma surpresa se Verstappen vencer, ou melhor, será surpresa se não vencer. Michael Schuma-cher segue sendo quem mais ganhou o GP da Austrália (4 vezes), e a McLaren lidera o ranking entre as equipes com 11 vitórias, porém, a última em 2012 com Jenson Button.