Aristóteles Drummond*
Getúlio Vargas aparece sempre como o ditador, quando, na verdade, dos quase 20 anos de exercício da presidência, apenas oito foram em regime autoritário fechado, em que, como era comum na época, tinha o título de ditador, o que não tinha nenhuma conotação negativa. Mas a oposição, como é praxe, se limita a criticar a ação policial pela manutenção da ordem e defesa do governo. Mas também eficiente na segurança pública.
Mesmo os registros mais isentos focam neste ou naquele avanço, como as leis trabalhistas e a conquista da siderurgia nacional, com a CSN. Pouca divulgação a registrar que, ao lado do político hábil, austero, conciliador, estava um estadista preparado, conhecedor da realidade que o país vivia, reformador e modernizador, com rara visão para a época. O lado econômico praticamente refundou o Brasil. Vinha de uma experiência como ministro da Fazenda e governador do Rio Grande do Sul.
Getúlio tinha um programa e o implantou logo nos primeiros anos, quando foi o chefe da Revolução. E foi eleito indiretamente, depois de oito anos de Estado Novo e a volta em 51 pelo voto direto. Na mensagem que mandou ao convocar a Constituinte, em 1933, está uma prestação de contas dos primeiros três anos da Revolução e sugestões implícitas aos constituintes. Nada escapou ao estadista, na economia, na agricultura, na legislação, na política externa, na gestão pública. Criou ministérios fundamentais colocando o Brasil em igualdade com o que existia de moderno no mundo.
Outra faceta do estadista é o saber escolher a equipe entre os melhores. E ele revelou ao Brasil homens como Oswaldo Aranha, José Maria Whitaker, Artur de Sousa Costa, Lindolfo Collor, Vicente Rao, Francisco Campos, Salgado Filho, todos de reputação ilibada.
Nos estados, foi uma safra de notáveis, desde Pedro Ernesto, no Distrito Federal, Amaral Peixoto, no estado do Rio, Adhemar de Barros, em São Paulo, Nelson de Melo e Álvaro Maia, no Amazonas, Manoel Ribas, no Paraná, Agamenon Magalhães, em Pernambuco, Juracy Magalhães, na Bahia, Ernesto Dornelles e Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul e por aí vai.
Depois, só tivemos planejamento com o Programa de Metas, de JK, e com os governos militares. A partir daí foi este dia a dia menor, com destaque apenas para a privatização de Collor de Mello, que os sucessores não puderam barrar até esta era PT.
FHC, tão louvado, parece ter planejado apenas a reeleição e assumir a paternidade do Plano Real, que foi de Itamar Franco.
A Era Vargas deve ser mais conhecida, pois foi exemplar.
* Jornalista (Hoje em Dia 02/04/2024)