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Um Inconfidente no Sudoeste Mineiro

Por: . | Categoria: Do leitor | 17-04-2024 05:51 | 1123
Primeiro mapa que aparece o atual sul de minas e na época Comarca do Rio das Mortes  de 1767-/encontra se no  Arquivo Militar /Provavelmente feito pelo Dragão  Soldado de Dragões Antonio Martins ela Sylveira Peixoto
Primeiro mapa que aparece o atual sul de minas e na época Comarca do Rio das Mortes de 1767-/encontra se no Arquivo Militar /Provavelmente feito pelo Dragão Soldado de Dragões Antonio Martins ela Sylveira Peixoto Foto: Arquivo

A Inconfidência mineira é bastante conhecida e difundida por todo território mineiro e pelo brasileiro, seja por livros didáticos, filmes e oralidade. No entanto, a formação e a unidade territorial do nosso Estado poucos sabem como se constituiu. Desse modo, em 1764 o território ao “sul do Rio Grande e do Sapucahy” fora anexado à, então, capitania de Minas Gerais, de acordo “BANDO PUBLICADO EM JACU-HY PELO GOVERNADOR DE MINAS GERA-ES” o qual podemos encontrar nos Documentos Interessantes. Assim, o Governador Luiz Diogo Lobo da Silva acirraria a maior “contenda” existente na história entre as capitanias de São Paulo e Minas e mais tarde províncias.

Na epopeia de Luiz Diogo, estava o seu secretário, Cláudio Manuel da Costa que nas palavras do historiador, britânico, Kenneth Maxwell era um dos maiores intelectuais e jurista do seu tempo em todo Reino. Também, participou do “giro” do governador e “alargamento da fronteira” da capitania e da Comarca do Rio das Mortes. De acordo com a Biografia de Cláudio Manuel da Costa, escrito pela historiadora, renomada, Laura de Mello e Souza o ponto alto da sua obra é a expedição que ele participou nos “sertões do Jacuhy” e na construção de todo sul de Minas. Assim, o Bando ficou aproximadamente uma semana de setembro de 1764 na atual cidade de Jacuí, no Forte, onde o governador realizou despachos, organizou os “aparelhos de estado”, postos fiscais, intendência e guarda sob o comando do cabo Mor Antonio da Silva Lanhoso, para vigiar as estradas e os desvios de ouro e diamantes. Nesse sentido, o inconfidente lavrou todas atas, despachos e instruções do governador específica para nossa região e Capitânia, e não deixou de expressar a sua opinião nas entrelinhas dos documentos, a qual ressaltava além do ouro, a riqueza, a qualidade da terra e a sua capacidade agropastoril. Portanto, a Comarca do Rio das Mortes se tornaria a mais rica, próspera de minas e com a economia diversificada segundo o livro Devassa da Devassa de Kenneth Maxwell, também, na Formação do Brasil Contemporâneo de Caio Prado Jr

É interessante reiterar, quem é Cláudio Manuel da Costa e seu papel na segunda metade do século XVIII e na Conjuração Mineira. Assim, sendo “decano da mais antiga geração de brasileiros diplomados em Coimbra”, tradutor de Riqueza das Nações de Adam Smith, poeta, proprietário de uma das maiores bibliotecas da América, conhecedor do Recueil (coletânea das Constituições das Treze colônias e da Federação), intelectual, dono de mina, fazendeiro e jurista que prestava serviços para os homens mais ricos e influentes da colônia. Por isso, e muito mais se tornaria um dos principais ou talvez o principal líder da revolta contra exploração imposta por Portugal a Minas Gerais, sendo a sua casa principal local de reunião. Diante do exposto, o intelectual seria a primeira “vítima da devassa mineira conduzida pelo visconde de Barbacena” em 1789, assim morrendo enforcado na atual casa dos Contos em Ouro Preto, já que era um homem que sabia tudo e de todos segundo Kenneth Maxwell. Laura de Mello e Souza diverge ao falar no seu livro que o conjurado suicidou na prisão, “A necessidade de compreensão às vezes impõe riscos: se entendi o homem que foi Cláudio Manoel da Costa, sou levada a afirmar que decidiu pôr um termo em sua vida”. No entanto, a morte foi bastante cômoda para todos, em especial para o governador que temia a chegada em breve dos desembargadores enviados pela metrópole aconteceu poucos dias depois, e com isso abertura da segunda Devassa a qual o visconde não exerceria influência.

Portanto, o inconfidente com 35 anos ajudou diretamente ou indiretamente a construir o atual território mineiro, com as palavras do intelectual;  ”trez (3) mezes de marchas, e trezentos e cinco-enta e seis legoas de caminhos dezabridos, e solitarios todo a effeito de Regularem os mencionados descubertos no modo que fosse mais util á Real Fazenda” (ASSENTO DO GOVERNADOR DE MINAS GERAES SOBRE A POSSE DE JACUHY, ETC., 1764). Dessa forma, chega a ser um paradoxo que 25 anos antes de sua morte e Inconfidência que abalaria Portugal, numa Europa varrida pela Revolução Francesa, Claudio Manuel da Costa preocupado com os impostos reais. Nesse sentido, a estadia do intelectual, do governador, e do “Bando” seria apenas uma nova fase de um longo conflito entre Minas e São Paulo na busca de demarcar a divisa. Assim, entre São Sebastião do Paraíso e pelo lado paulista foi a última disputa a respeito de “fronteira” que somente pacificaria na segunda metade do século XIX e mesmo com o nascer da república os paulistas se queixavam da perda da região. 

Dialon José Teófilo - Professor de História