COLHEITA CAFÉ

Gilson Souza analisa comportamento do mercado de café neste semestre

Por: Nelson Duarte | Categoria: Agricultura | 21-05-2024 10:09 | 1165
Gilson A. de Souza, diretor da empresa Safra & Negócios, diretor de Agronegócios da ACISSP
Gilson A. de Souza, diretor da empresa Safra & Negócios, diretor de Agronegócios da ACISSP Foto: Divulgação

O mercado de café neste semestre teve mudanças de comportamento e valoração que era esperada pelos produtores. O Caderno Agronegócios, Especial Colheita, ouviu Gilson A. de Souza, diretor da empresa Safra & Negócios, diretor de Agronegócios da ACISSP, que analisou o mercado desta commoditie, e perspectivas de preços. Eis a análise:

“Sobre os últimos seis meses, ou seja, o período de 24, no início do ano foi marcado por uma certa calmaria no mercado, movimentou em dezembro, mas praticamente manteve em lateralidade, ou seja, não teve tantos movimentos, e preços variaram entre R$ 900 e R$ 1 mil a saca. O início do ano foi ainda com uma certa calmaria, e a tendências era de baixa, por conta exatamente da expectativa de que o clima a nível Brasil e a nível mundo, corria todo normal”.

 “Diferente disso, já em março as coisas mudaram devido algumas movimentações não esperadas, então vamos separar em etapas, os fatores que fizeram com que houvesse mudança acentuada durante o mês de abril, saindo de um patamar de preço para outro, indo e negociando a R$ 1.400, R$1.500,00 a saca de café. O primeiro fato que impulsionou o preço totalmente, motivado pela notícia a respeito da região produtora de café Vietnam, onde houve período de estiagem com uma quebra da safra que se especula entre 10% a 15%, e isso poderia representar uma quebra entre quatro a cinco milhões de sacas na produção naquele país, que é responsável pela maior produção de café robusta no mundo, e um dos maiores ofertantes de café robusta do mundo. Não podemos esquecer que o Vietnam está muito mais próximo da Europa, um dos maiores mercados consumidores do café. Destacamos também que o café robusta é negociado na Bolsa de Londres como um centro de negócios de liquidez. Isso fez com que os preços saíssem de um preço de U$D 2.500 a tonelada, e viesse chegar U$D 3000 a tonelada até U$D 4000, preço este que há mais de 25 anos não galgou.

“Outro fator que impulsionou mais ainda foi a expectativa também da próxima safra daquele país, que fez com que os preços voltassem a continuar a galopar movimento de alta. O segundo ponto a ser analisado se refere a questão de logística, com o problema da guerra naquela região. Os ânimos não foram amenizados, pelo contrário, no segundo trimestre os nervos ficaram mais acirrados, as ameaças a terrorismo aumentaram, consequentemente o tráfego que é pelo Canal de Suez foi e ainda encontra-se ameaçado, para fazer transporte de qualquer tipo de mercadoria, sendo que café trafega por aquela região, principalmente o robusta. Isso também impulsionou o preço do robusta, e consequentemente também o arábica, fazendo com que os preços do contêiner que por sua vez tinha um preço, viesse dobrar triplicar, dependendo a rota que fosse marcada para fazer o translado dessas mercadorias. Isso deixou o mercado ainda mais desesperado, porque ameaça a solidez, a liquidez do mercado, de vez que as entregas programadas e contratadas, teriam que ter alteração nos seus prazos ou rever todo o processo logístico. Consequentemente isso sofre penas, multas. Por outro lado o consumidor não tem acesso a isso, mas o mercado em si, o mercado de transporte marítimo sofre na veia esses problema.

“Questão também que veio preocupar um pouco mais o mundo todo, é a da taxa de juros. No primeiro trimestre, não é algo tão comentado, sobre questões de crises mundiais, ou algo do gênero. No segundo trimestre passamos a ver isso mais latente, os bancos centrais mundiais, como o banco central americano, e central europeu, todos eles anunciando e lançando expectativas não tão otimistas no que diz a crescimento econômico, queda na taxa de juros não venha acontecer, conforme prometido em 2023. Isso frustrou o mercado financeiro, consequentemente acirraram mais ainda as mudanças e as alterações da taxa, por conta do não cumprimento de vários países e por seus governantes, sempre um pouco reticentes em fazer mudanças mais drásticas, como cortes de gastos públicos, e isso veio afetar o mundo todo, principalmente aqui no sul, principalmente o Brasil, nosso governo não se esforçando nada em conter custos, bem como também a Europa, onde algum ou outro país fez suas contenções, e isso fez com que o mercado financeiro em toda a Europa, ficasse abalado. Há ainda uma guerra já estendendo para dois anos que é o conflito da Rússia com praticamente a Europa toda, direta e indiretamente.

“Por fim percebemos uma queda de braços na eleição americana e um crescimento não esperado pela área democrática do Trump. Isso, no segundo trimestre deixou o mercado muito mais potente para que os republicanos criassem mais campos, e ameaçando também aquele mercado americano, deixando o mundo bem preocupado sobre as tendências lá. O mercado americano tem um banco central muito austero, que é o FED, lançando e indicando ponderações a respeito da economia daquele país, sendo muito mais radical sobre os cortes, etc. Isso fez com que no mundo inteiro a taxa de juros viesse ser ameaçada, e as bolsas financeiras oscilando de forma abrupta. Aqui tivemos o câmbio próximo de R$ 5, 30 – R$ 5,40 ameaçando a passar e romper R$ 5,50. Não aconteceu. Também várias outras ameaças, consequências não esperadas pelo nosso governo sobre alguns comentários provido dele, e intrometer onde não deve, assim abalou também as nossas movimentações.  Vide as oscilações de cambio vieram recentemente com o câmbio próximo de R$ 5,00 – R$ 5,10.

“Obviamente o mercado americano também cessou um pouco, deixando as coisas mais claras as acusações em relação a Trump a impugnação do mesmo cessaram um pouco. Outros países, como os asiáticos e árabes, assistindo isto de camarote, arbitrando e operando esses mercados. Café é um produto importante de liquidez, mantendo seus preços em alta. Teve um movimento de baixa no final de abril começo de maio, caindo praticamente entre 10% a 15%, e isso fez com que o preço saísse dos R$ 1.400, e chegasse aí a R$ 1.050, R$ 1.100.

“O último fator que deixa um pouco atualizado é a entrada da safra brasileira, que inicia agora em junho, ou praticamente já se iniciou e isso pode apresentar um pouco mais de oferta. Consequentemente o mercado dá uma reequilibrada. Os preços ainda se mantêm na casa de R$ 1.200, para cafés mais finos. R$ 1.100, cafés mais inferiores. A tendência, ainda ancorada por notícias em relações a quebra da safra do Vietnã, pela expectativa de clima aqui no Brasil que ainda é remota, possibilidade de mudança agressiva em junho, julho, porém não tem nenhuma frente fria que possa ameaçar a produção. Enfim isso deixa todo mundo com uma luz amarela acesa, não apreensivo, porque junho não tem frio e não tem chuva, segundo a meteorologia.

“O que a gente aconselha e pede, é para que a produção, o mercado em si, passe a ter mais cuidado, primeiro com uma questão que a gente comentou anteriormente, a volatilidade da moeda. Esse sim vai ser e continua importante na pauta. Segundo, é não esquecer que a gente tem uma safra 24 relativamente melhor que 23, não tão melhor, e que nós estamos na porta de uma safra 25, isto se o clima permitir, e que até o momento permitiu, com uma safra relativamente melhor que 23 e 24, talvez recorde. Não resolvendo um problema mundial de oferta e demanda, mas sim podemos ver o movimento do primeiro semestre de 2025, uma organização do seu fluxo, ou seja, onde o café está para aonde está indo. Se vai ter estoques distribuídos entre origem e consumo, ou seja, caso os estoques lá fora venham a abastecer parcialmente, é um momento de baixa. Se não abastecer parcialmente, ainda continua em alta.

“Não acredito que isso aconteça porque as exportações irão acender agora, e vai mês a mês crescer. Isso é inevitável, os embarques de abril vão ser melhores que abril do ano passado não muito diferente de maio e junho. Enfim, muita cautela, produtor. Faça suas médias e aproveite, abrace essas oportunidades. Faça média ascendente, ou seja, venda o preço garanta a sua a produção. Bem como 24 que já está praticamente aí, o mercado já está declarado o preço, e 25 que já está em andamento. Tem gente negociando 25. Já negociaram bem, na casa de R$ 1.200, R$ 1.300. Ainda é uma boa oportunidade. Aqui na Safras & Negócios temos essa análise para passar para vocês”, conclui Gilson Souza.