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Ufanista?

Por: . | Categoria: Do leitor | 15-06-2024 01:59 | 1018
Foto: Arquivo

No final de maio fui ao Banco pagar o meu IR. Como todo cidadão dito respeitado, fui cumprir o meu dever. Sou assalariado; não recebo Jeton, Pro Labore, subsídio, bônus empresarial, rendimento proveniente de qualquer outra fonte, de aplicações financeiras representativas, pois não tenho nenhuma fortuna aplicada, mas o fisco determinou que eu tenho é renda, não salário. Este imposto faz parte da série grande que pagamos todo ano; entre eles IPTU, IPI, ICMS, COFINS e etc.  E sempre me disseram que pagar impostos é um dever do cidadão com o seu país, seu estado e a sua cidade.

Dizem também que os impostos pagos são revertidos em bens e serviços para toda a população. Alardeiam que nossos impostos permitirão a entrega de um remédio para uma criança, uma bolsa de estudo para um aluno carente, um medicamento para um hospital público; viabilizará o financiamento de uma casa para um pobre, o reparo de uma estrada ou uma rua, para cuidar do meio ambiente, o pagamento de um salário decente para os professores e profissionais de saúde, e outros benefícios para o meu povo. Mas nem sempre isto é observado.  

Começo a observar à minha volta; meus netos pagam escolas particulares para estudar, e quando viajo pago pedágios cada dia mais caros por estradas muitas vezes pouco conservadas. Se quisermos ter um mínimo de dignidade na hora da doença, devemos ter um plano de saúde, que muitas vezes nos atendem mal. Pagamos valores cada dia maiores pela água e energia elétrica, para tratar o esgoto que não é tratado em sua totalidade e para recolher o lixo que é recolhido em parte, e etc.

Após o meu ato exemplar, pego o jornal e vejo políticos e funcionários púbicos bem remunerados, defendendo o estado mínimo. Eles propõem dificultar a aposentadoria do cidadão, a liquidação de toda a legislação trabalhista, do ensino público federal e educação em geral, a limitação de gastos em saúde, acabar com todos os programas sociais e de formação de nossa gente. E a balela é sempre a mesma, faltam recursos. Mas eu paguei a minha parte e milhões de ufanistas pagaram; onde andam estes recursos?

Após me esforçar um pouco, descobri que os meus parcos recursos e os de todos os brasileiros que também pagam seus impostos, desaparecem no pagamento de cartões corporativos de funcionários graduados e suas remunerações absurdas, nos lucros escorchantes do sistema financeiro, no pagamento de pensão vitalícia para filhas de funcionários públicos, nos acordos de bastidores para derrubar governos, na compra de votos para aprovar matérias para prejudicar o povo nos três níveis de administração, nas obras inacabadas e muitas sem serventia, na contratação de apaniguados para montagem de currais eleitorais, para formar fortunas pessoais nos bancos do país e do exterior e muito mais, ou seja, na corrupção criminosa e na incompetência histórica e degradante de parte de nossos políticos.

Para pagar campanhas políticas bilionárias, para eleger pessoas que muitas vezes não são confiáveis e para as emendas parlamentares cujo destino é quase sempre o bolso de alguém, não faltam recursos. O nosso parlamento é o segundo mais caro do mundo, e isto determina a remuneração das assembleias legislativas e de câmaras de vereadores pelo país afora.

Após descobrir tudo isto entendi o meu papel e o de todos nós. Confesso que não gostei, mas ainda assim paguei minha cota.

Como diz o Raul Seixas; confesso abestalhado que estou decepcionado.

Enfim, não somos ufanistas, (o termo patriota ficou tóxico nos tempos atuais), o adjetivo é outro.

“A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muita nossa).  Jô Soares

João Batista Mião