Não, o título da coluna não é alusão ao incidente entre Max Verstappen e Lando Norris no GP da Áustria. Sobre isso falo mais abaixo. Ele se refere ao clima tenso na Red Bull. Enquanto a equipe dominava o campeonato do ano passado com 21 vitórias em 22 corridas - 19 delas com Max Verstappen -, havia por trás uma disputa pelo poder que veio à tona depois que Christian Horner foi denunciado por uma funcionária por comportamento impróprio. O chefe da equipe mais perfeccionista da F1 conseguiu contornar a situação e ganhou força no comando com o apoio da ala tailandesa, sócia majoritária da marca das bebidas energéticas. Do outro lado da moeda está Helmult Marko, apoiado pela ala austríaca que perdeu força com a morte de um dos principais fundadores da Red Bull, Dietrich Mateschitz, mas que tem ao seu lado o apoio incondicional dos Verstappen, pai e filho.
A situação parecia ter-se acalmado em meio às especulações de que Max Verstappen poderia deixar a Red Bull e diante dos assédios de Toto Wolff acenando com o assento vago na Mercedes para o lugar de Lewis Hamilton que está malas prontas rumo à Ferrari pro ano que vem. Mas o pavio voltou a ser aceso por Jos Verstappen (pai de Max) no final de semana do GP da Áustria, que acusou Christian Horner de tê-lo impedido de participar de um desfile de carros antigos antes da corrida. Seja por acaso, ou como provocação, Jos foi visto no motorhome da Mercedes conversando com Toto Wolff horas depois. As tensões aumentaram. E mais ainda com o desdobramento de uma corrida que caminhava para ser um passeio da Red Bull no quintal de sua fábrica, quando uma série de erros incomuns levou ao polêmico incidente entre Max Verstappen e Lando Norris.
Na volta 51, Verstappen foi chamado aos boxes para seu segundo pit stop. Ele tinha a corrida sob controle, mas a equipe que é sempre sinônimo de excelência nas operações de troca de pneus, se atrapalhou na roda traseira esquerda e Verstappen perdeu preciosos 4s nos boxes. Pouco depois, o próprio Verstappen que não costuma errar, fritou os pneus, perdeu mais tempo e ficou na alça de mira da McLaren de Lando Norris.
Aí deu no que deu. Verstappen é o tipo de piloto que não sabe perder. Nenhum campeão gosta de perder. Mas é preciso saber e admitir a derrota. Depois de dois anos sobrando nas pistas sem ser incomodado por ninguém, aquele Verstappen das muitas manobras desleais, principalmente das disputas com Lewis Hamilton em 2021, aflorou quando percebeu que não teria como evitar a ultrapassagem de Norris.
Depois de algumas mudanças de trajetória durante as frenagens, proibidas pelo regulamento, eis que o toque provocado por Verstappen foi inevitável. A corrida de ambos foi arruinada. Norris teve que abandonar por danos no carro, e o holandês deu sorte de voltar aos boxes, trocar pneus e terminar na 5ª posição. Os 10 segundos de punição que recebeu, não mudaram sua posição de chegada. Mas saiu barato. A punição para o tipo de manobra de Verstappen é a mesma de 10 segundos, seja para qualquer piloto que cometer a infração. Mas na minha modesta visão, Verstappen merecia ser desclassificado da corrida, não por ter causado a colisão e arruinado a corrida de Lando Norris, mas pelo comportamento antidesportivo na sequência do fato quando mesmo tendo o carro avariado, forçou Norris para fora da pista obrigando-o a colocar as rodas na grama. Naquele momento Verstappen não sabia que o pneu de Norris também estava furado. E o comportamento de mau perdedor poderia ter causado outra colisão.
Verstappen não poupou a equipe e pode ter aumentado a chama do pavio aceso por seu pai ao criticar a Red Bull pelos erros de estratégia e pela falha no pit stop que jogou por terra a vantagem que tinha construído na pista.
O que todo mundo quer saber agora é como será o laço de amizade que sempre existiu entre Verstappen e Norris. Pode ser que ela continue. Mas provavelmente não será a mesma depois do episódio da Áustria, até porque, a F1 nunca foi ambiente de amizades entre pessoas que disputam o mesmo espaço.
A F1 chega à metade do campeonato neste final de semana e fecha em Silverstone a primeira de duas rodadas triplas do calendário com o GP da Inglaterra. Verstappen e Norris ainda assimilam o ocorrido há uma semana. A Red Bull segue em rota de colisão. E a Mercedes está em estado de graça por ter vencido pela primeira vez no ano (não ganhava desde 2022 em São Paulo) ainda que a vitória na Áustria tenha caído no colo de George Russell.