OPINIÃO

Censura Suspensão do X: até quando?

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 11-09-2024 00:01 | 70
Foto: Arquivo

Luiz Philippe Orleans e Bragança

Antes de responder à pergunta de todos nós: até quando irá a suspensão do X - feita inclusive por mim, que tenho muitos seguidores nessa plataforma - é preciso entender que uma guerra pela censura no mundo está sendo travada no Brasil. Somos o campo de batalha daqueles que querem a censura mundial.

Lembram-se do período da Guerra Fria, após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos (o mundo livre) e a União Soviética (o mundo comunista) se confrontavam em diferentes partes do mundo. Foram diversos conflitos indiretos usando um território alheio como linha de frente: Coreia, Vietnã, Cuba, Afeganistão, Nicarágua, Angola, etc.

Pois é, esse tipo de conflito indireto, usando outros países como Proxy, por controle e influência, não terminou em 1989 com a queda do Muro de Berlin.

Brasil e Ucrânia na mesma guerra: podemos estabelecer um paralelo com a Ucrânia, que é uma guerra de Proxy, isto é, tanto lá como aqui, dois ou mais países usam terceiros como intermediários ou substitutos, evitando assim lutarem diretamente entre si.

Dentro desse contexto, a questão da Ucrânia perdeu seu significado em si diante de temas maiores, como a hegemonia da Rússia versus o domínio da OTAN na Europa. O mundo indaga: quem vai ganhar essa guerra? A resposta sempre vem em termos de blocos de interesses. No caso da Ucrânia o conflito entre ucranianos e russos tornou-se secundário. A real disputa é do mundo livre versus o mundo autocrático  Dessa forma, a Ucrânia é mero cenário para um conflito maior. E no Brasil? Aqui o front de embate é pela livre expressão. 

Entra em cena Elon Musk: Um dos protagonistas desta peça encenada dentro do Brasil é Elon Musk, à medida que ele expõe, nos Estados Unidos e na Europa, esse tipo de prática como uma maneira errada de como conduzir-se enquanto juiz, contra a liberdade de expressão, de forma autocrática, arbitrária, pessoal, fisiológica e raivosa. Musk pinta o retrato de Moraes com cores que incriminam o ministro, fundamentadas com denúncias sobre todas as suas ilegalidades praticadas.

De acordo com as provas apresentadas, são ilegais todos os inquéritos, desde os antigos processos de Fake News até as prisões arbitrárias de 8 de janeiro, a perseguição a políticos de oposição, ao presidente Jair Bolsonaro e a cidadãos inocentes. Ali tudo está exposto por Musk.

E ele o faz com muita efetividade, construindo a imagem do ministro como inimigo mundial da liberdade de expressão. O juiz brasileiro se tornou exemplo para o mundo ainda livre de quem é o inimigo.

É o tipo de comportamento que, quando exposto, é condenável por todos os espectros políticos da esquerda, do centro e da direita - ressalvado que no caso da esquerda seja condenável para manter a retórica, mas não para alterar a prática.

Forças ocultas, mas visíveis: do outro lado, há forças que operam nas sombras e querem ver a censura ser maturada no Brasil. Elas dão força e sustentação a Moraes, basta observar a ação dos demais juízes. Eles seguem o exemplo de países como China e Rússia, que têm estrangulado as plataformas e redes digitais como forma de propagar a agenda globalista.

O Brasil também é palco de algo maior que o embate entre Musk e Moraes. Por ser este um fator central na compreensão do jogo político mundial, tudo nos leva a crer que a suspensão do X deve demorar mais que o previsto.

As placas tectônicas devem se mexer a fim de que haja um processo para desescalar esse conflito, o que pode envolver eleições nos Estados Unidos e a ascensão da direita na Europa. Todos esses novos fatos podem dissuadir muitos atores da esquerda progressista e stalinista, que agem globalmente pela censura.

A esquerda sabe quando retroceder para sobreviver.

O jogo pode piorar? Dependendo do resultado das eleições nos EUA, a situação mundial para liberdade de expressão pode piorar. O que antes seria o maior defensor contra a censura tem chance de se tornar a maior força censuradora.  Nesse caso o Brasil dependerá somente de sua população no combate pela liberdade de expressão.

Internamente temos a força da população, que é importante nesse jogo e nesse embate. A questão é: mesmo se Alexandre de Moraes cair, isso significa que não haverá censura dos outros ministros?

Dificilmente. O provável é que os demais membros do STF mantenham as decisões de Moraes e até piorem o quadro. Flávio Dino, outro ministro do STF, já se posicionou abertamente a favor da censura. Se seguir essa tendência o acirramento de fechamento de plataformas de comunicação digital pode expandir.

Embate aqui e agora: a censura ainda não é completa, pois canais anteriores coexistem com os novos como X. WhatsApp, SMS, Telegram, Facebook, Instagram, Thread, TikTok continuam abertos. Sim, são mais monitorados que o X, mas ainda permitem a comunicação de um com vários. 

Lembrando que as mobilizações que ocorreram entre 2014 e 2016 foram fundamentalmente promovidas pelo Facebook, e não pelo Twitter. Em outras palavras, ainda existem canais alternativos.

Há também incontáveis fóruns com "chats" via diversos aplicativos que, apesar de não serem plataformas de comunicação, servem como tal.

Na verdade, a vontade de censurar a livre expressão e comunicação é uma batalha perdida para o ditador controlador. É perdida, pois o controle total é impossível. Ela só se torna possível quando a sociedade se permite ser controlada, aderindo voluntariamente às plataformas mais evoluídas da tecnologia achando que não há outra maneira de se comunicar. 

Mas é aí que está o engano da sociedade e dos ditadores. Os meios de comunicação que desestabilizaram e derrubaram os regimes ditatoriais no passado ainda existem. O e-mail, os panfletos, as assembleias ou até mesmo o "boca a boca" podem ser meios que hoje consideramos arcaicos, mas ainda funcionam e nunca serão controláveis.

É só enxergar para perceber que seremos sempre livres. 

Luiz Philippe de Orleans e Bragança é deputado federal por São Paulo, descendente da família imperial brasileira, trineto da princesa Isabel, tetraneto de d. Pedro II e pentaneto de d. Pedro I, sendo o único da linhagem a ocupar um cargo político eletivo desde a Proclamação da República, em 1889. Graduado em Administração de Empresas, mestre em Ciências Políticas pela Stanford University (EUA), com MBA pelo Instituto Européen d"Administration des Affaires (INSEAD), França.

(Publicado pela GAZETA DO POVO, 09/09/2024)