Bem junto a um cemitério foi plantada,
Um dia, uma cruz nova e mui modesta,
De cedro construída,
Nem sequer nela havia bosquejada
D´arte a beleza. E, assim, sozinha
No chão estava erguida.
Coitada! Não ganhava um frio beijo.
E uma oração ao menos. Era feia
E não tinha alegria.
Pisava-lhe, maldoso, um caranguejo.
E em seus braços havia sempre teia,
Que a aranha construía.
E, assim, ficava em duro esquecimento
Aquele tosco lenho, noite e dia,
Aquela pobre cruz
Em que soltou seu derradeiro alento
O Filho grandioso de Maria,
Jesus.
Mirrada, foi nascendo audaciosa
No seu tronco uma frágil parasita
Rastejante e sem cor.
E a cruz tão boa, meiga e carinhosa,
Condoendo-se da ervinha na desdita,
Beijou-a com amor.
Hoje, quem ali passa tem de ver
A pobre cruz caindo pouco a pouco,
Da parasita, escrava.
E já robusta, cheia de prazer,
Erguendo-se bela, ingrata, no seu toco
Uma figueira brava!
Autor: José da Matta
“José da Matta, paraisense, filho do senhor João da Matta de Souza Martins e da senhora Maria Rodrigues Martins, sua primeira esposa. Nasceu em 1886 e faleceu em 1908, com, apenas, 22 anos de idade. Segundo palavras escritas por ele, “ teve uma grande influência em suas obras literárias seu amigo de infância, Noraldino Lima”. Sua primeira poesia “ A Cruz e a Parasita “ foi publicada no jornal “ O Paraisense “, dirigido pelo jornalista Gedor Silveira, no dia 1º de agosto de 1906. José da Matta foi um jovem grande poeta e intelectual de nossa história. ” Biografia extraída do Livro “ Poesias e Sonhos “, de autoria da senhora Conceição Borges Ferreira, publicado em 1999.