OPINIÃO

A PMMG e a força social

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 28-09-2024 00:08 | 35
Foto: Arquivo

Tio Flávio

No fim da década de 1990 eu ainda era aluno da graduação em Comunicação Social e o meu trabalho de conclusão do curso foi realizado na Polícia Militar de Minas Gerais, ocasião em que conheci a então Major Luciene Albuquerque, que comandava a equipe de comunicação da instituição com um olhar bastante humanizado das relações.

A nossa atividade final constituía em dar um treinamento para o alto comando da PMMG, explicando sobre um termo novo na administração, e mais novo ainda numa corporação centenária, o endomarketing, que pode ser entendido como trabalhar a cultura e o comportamento da organização como um produto que se vende para dentro. Uma empresa forte em seus valores e relações internas tende a conseguir se estabelecer com mais transparência e honestidade para fora. No caso de uma instituição governamental, trata-se de uma estratégia ainda mais necessária, e complicada ao mesmo tempo, pois o comando muda a cada período, mais rápido do que em uma empresa privada. É importante que os valores da organização não se percam nestas constantes mudanças e, se possível, se desenvolvam de maneira planejada, conhecendo as novas demandas dos funcionários e as mutações mercadológicas.

Assim, o entendimento e o engajamento das pessoas que compõem a organização serão fundamentais para que a imagem, que é externa, possa ser mantida ou melhorada com consistência e não com mentiras ou promessas que não se sustentam. Desta forma, quem está dentro entende o que está fazendo e o que se espera dele e quem está fora não lida com uma empresa perdida, desconexa.

O endomarketing não é comunicação interna, vai além disso. É a maneira pela qual a empresa se conhece e, sabendo muito bem quem ela é, atrai para perto de si pessoas que tenham valores similares, mesmo que pensem diferente, o que é ótimo num ambiente organizacional preparado para isso.

Após aquele curso para os coronéis que comandavam a PM, me aproximei cada vez mais da instituição, ministrando cursos de comunicação em eventos internos, desenvolvendo minha pesquisa e dissertação de mestrado sobre esta experiência do endomarketing na polícia e sendo convidado a dar aulas numa disciplina do curso de formação de oficiais que a Luciene, agora Coronel, conduzia.

Conheci projetos sociais desenvolvidos pela corporação que muitas vezes a maioria da população desconhece, mas quem é assistido sabe bem do que se trata e os valorizam, como o trabalho da equoterapia que, apesar de uma fila de espera bem ampla, atende inúmeras pessoas. Passados alguns anos de tudo isso, fui convidado a palestrar num evento chamado EMMOS, Encontro de Mobilização Social, em que vários projetos desenvolvidos por policiais e bombeiros militares, sejam institucionais ou pessoais, são apresentados e os seus gestores convidados a pensarem suas práticas, tendo diversos cursos e palestras que ajudam não só a estimular uma visão mais ampla, mas a conhecer a dinâmica de uma organização da sociedade civil.

Estes projetos impactam a vida de milhares de pessoas pelo estado de Minas Gerais. São policiais, alguns já na reserva, que dedicam seu tempo para realizarem intervenções em suas comunidades, atuando com famílias atípicas, pessoas em tratamento do alcoolismo e outras dependências químicas, idosos, dentre outros. Alguns usam a música ou o esporte como possibilidade de comunicação com crianças e adolescentes, se aproximando para trabalhar valores ou, simplesmente, e tão importante quanto, servirem de escuta para quem está perdido, sem perspectiva ou que tem muita noção do que quer, mas sem ter condições de conseguir.

Eu conheci de perto o trabalho dos Bombeiros Sêniores, em que pessoas idosas da cidade de Governador Valadares são indicadas pelos Centros Especializados de Assistência Social (Creas) para que sejam atendidos em reuniões frequentes que vão desde passeios turísticos a aulas sobre temas importantes. Foi gratificante ver aquelas dezenas de idosos declarando quanto aquele projeto faz bem a eles, já que muitos têm os vínculos rompidos com as famílias.

O EMMOS é realizado pela Afas, uma instituição criada para dar assistência às famílias dos policiais, mas que ultrapassa esta esfera, chegando na sociedade. Quem preside a Afas é sempre a esposa do Comandante Geral e a cada vez que há troca no alto comando, isso impacta a gestão da associação. E foi o que aconteceu nesta semana. Com a saída do Coronel Rodrigo Piassi, sua esposa, a Tenente-coronel Márcia Laperrière, deixa a presidência da Afas, onde em menos de dois anos realizou um trabalho ético, humano, agregador, de fortalecimento do social e amparo da família militar. Os servidores da associação, muito competentes, levarão adiante o legado de uma mulher íntegra e humana, que vê a polícia não só como uma força de segurança, mas uma corporação de força social. Que a polícia cresça em humanidade, que para mim significa dignidade e respeito, fortalecendo a relação com as pessoas de dentro e de fora da corporação. O trabalho voluntário e social é um grande aliado para isso.

Tio Flávio Palestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural. (Hoje em Dia 27-09-2024)