PREJUÍZOS

Golpes em sites ilegais de apostas causam prejuízos e alertam moradores de Paraíso

Vítimas relatam perdas financeiras em BET’s esportivas e jogos de azar online; autoridades e especialistas alertam sobre riscos e oferecem orientações para prevenção e denúncia
Por: Ralph Diniz | Categoria: Brasil | 02-10-2024 14:09 | 500
Delegado Tiago Bordini diz que vítimas precisam se manifestar  para que a polícia possa agir contra os grupos criminosos
Delegado Tiago Bordini diz que vítimas precisam se manifestar para que a polícia possa agir contra os grupos criminosos Foto: Divulgação

Uma onda de golpes aplicados por sites ilegais de apostas tem causado prejuízos financeiros para moradores de São Sebastião do Paraíso, levantando preocupações sobre a segurança e legalidade das plataformas de apostas online.

Nas últimas semanas, vítimas procuraram a redação do Jornal do Sudoeste para compartilhar suas experiências, relatando perdas substanciais após investir em BET’s esportivos e jogos de azar online, com destaque para o polêmico “jogo do tigrinho”.

Um dos casos envolve uma jovem de 23 anos, que perdeu suas economias e até o emprego no “jogo do tigrinho”. “No começo, fazia por diversão, mas fui me envolvendo e colocando mais dinheiro. Eu passava a madrugada jogando e não conseguia acordar cedo para trabalhar. No final das contas, eu havia perdido todo o meu dinheiro e estava sem o meu trabalho”, relata.

O aumento desses casos tem chamado a atenção de autoridades locais. Tiago Bordini, responsável pela 4ª Delegacia Regional de Polícia Civil de São Sebastião do Paraíso, comentou sobre a situação: “É uma área nova de investigação para a polícia e, até ao momento, não há nenhum registo formal de crime no município. No entanto, isso não significa que esses golpes não ocorram. Muitas vítimas sentem vergonha ou não sabem como denunciar”.

Bordini enfatiza a importância da denúncia: “Precisamos que as vítimas se manifestem. Só assim poderemos mapear a extensão do problema e tomar medidas efetivas para combater esses criminosos.”

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) divulgou uma nota ao “JS”, esclarecendo seu papel na investigação desses crimes. A instituição afirma que “exerce a função precípua de investigação criminal, desenvolvendo ao esclarecimento de autoria, materialidade, motivação e notificação das ocorrências de golpes que aportam nas unidades policiais”.

A PCMG alerta que os golpes podem ocorrer tanto no ambiente físico quanto no virtual. “O ambiente virtual pode ser utilizado para a prática de crimes como invasão de dispositivo móvel, estelionato, furto mediante fraude, extorsão, ameaça, dentre outros”, informa. A polícia ressalta que esses crimes cibernéticos muitas vezes são aproveitados da falta de conhecimento tecnológico das vítimas e da sensação de anonimato que a internet proporciona.

Para as vítimas desses crimes, a orientação é clara: devem registrar boletim de ocorrência (REDS) na delegacia mais próxima de sua residência ou em uma base móvel da Polícia Militar. A PCMG também disponi-biliza a opção de registro online para casos de estelionato através do site da Delegacia Virtual (https://delegaciavirtual.sids. mg.gov.br/sxgn/ ).

É importante ressaltar que alguns desses crimes, especialmente o estelionato e a invasão de dispositivo informático, necessitam que a vítima formalize um termo de representação para que a Polícia Civil possa agir. “A representação funciona como uma condição à atuação da Polícia, por meio de qual a vítima manifesta o seu interesse na apuração dos fatos e cuja ausência impede a atuação por parte dos órgãos de perseguição criminosa”, explica a nota.

Na capital mineira, existe uma Delegacaia Especializada de Investigação de Crimes Cibernéticos, equipada para lidar com casos mais complexos. No interior, incluindo São Sebastião do Paraíso, todas as delegacias de área têm competência para investigar esse tipo de crime.

Além dos aspectos legais, os impactos psicológicos desses golpes não podem ser ignorados. O psicólogo Clésio Pimenta, de São Sebastião do Paraíso, alerta sobre os efeitos dos jogos de azar no cérebro: “Essas atividades podem liberar substâncias químicas que ativam os centros de recompensa do cérebro, como a dopa-mina, responsável por sensações de prazer e gratificação. Isso pode levar à busca por mais apostas e ao desenvolvimento de comportamentos compulsivos”.

Pimenta aprofunda a explicação: “Os jogos de azar podem modificar as conexões neurais no cérebro, especialmente nas áreas relacionadas ao controle dos impulsos, tomada de decisões e avaliação de riscos. Isso pode resultar em dificuldades para controlar os impulsos de apostar e levar a decisões mais arriscadas, mesmo contra a lógica e o bom senso”.

O psicólogo ressalta que a supervisão em jogos de azar pode levar a alterações na estrutura e na função do cérebro, semelhantes às observadas em violações em substâncias químicas, como drogas e álcool. “É um processo que se retroalimen-ta. Quanto mais a pessoa joga, mais seu cérebro se adapta a essa atividade, tornando cada vez mais difícil resistir ao impulso de apostar”, explica.

O vício em jogos pode desencadear diversos problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de ansiedade social, baixa autoestima, perturbações do sono e, em casos extremos, ideação suicida.

“Muitas vezes, as pessoas que desenvolvem problemas com jogos de azar começam a se isolar socialmente, mentir para familiares e amigos sobre suas atividades e gastos, e podem até recorrer a atos ilegais para financiar seu vício”, alerta Pimenta.

Diante desse cenário preocupante, o psicólogo ressalta a importância do acompanhamento profissional: “É fundamental buscar ajuda de psicólogos e psiquiatras para lidar com comportamentos compulsivos e viciantes relacionados aos jogos de azar. Esses profissionais podem oferecer o suporte necessário para a recuperação e o desenvolvimento de estratégias segurança de enfrentamento”.

Pimenta sugere algumas estratégias para quem está lutando contra o vício em jogos: “Estabelecer limites rígidos de tempo e dinheiro para apostas, buscar atividades alternativas que proporcionem prazer e realização, e cultivar relacionamentos saudáveis   são passos importantes. Além disso, existem grupos de apoio, como os Jogadores Anônimos, que podem ser muito úteis no processo de recuperação”.

Em uma ação para combater sites ilegais de apostas, o Ministério da Fazenda apresenta hoje uma lista de empresas de apostas online autorizadas no Brasil. Esta medida visa trazer mais transparência e segurança ao setor, protegendo os consumidores de possíveis fraudes.

As plataformas não serão proibidas, com prazo até 10 de outubro para encerrar transações. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tomará medidas mais drásticas, bloqueando sites não conformes já na próxima semana. O ministro Fernando Haddad prevê a remoção de cerca de 600 sites não autorizados, um número que reflete a magnitude do problema.

Além disso, o governo planeja implementar medidas adicionais para aumentar o controle e a segurança no setor de apostas online. Entre essas medidas estão a restrição de pagamentos em plataformas ilegais e o monitoramento de prêmios via CPF, envolvendo maior rastreabilidade e fiscalização das transações.

Essas ações representam um passo importante na proteção dos cidadãos contra golpes e fraudes no universo das apostas online. No entanto, os especialistas alertam que a vigilância constante e a educação do público são fundamentais para combater eficazmente esse tipo de crime.

O delegado Bordini conclui: “É um esforço conjunto entre autoridades, empresas do setor e a população. Quanto mais informadas as pessoas estiverem sobre os riscos e como se protegerem, mais difícil será para os criminosos agirem”.

Psicólogo Clésio Pimenta afirma que vício em jogos pode desencadear diversos problemas de saúde mental