A Renault decidiu que vai encerrar seu programa de motores de F1 após a temporada de 2025. Isso quer dizer que em 2026 quando o novo regulamento entrar em vigor na F1 com maior ênfase na área de motores, a Alpine passará a ser equipe cliente, provavelmente da Mercedes.
Os protestos dos funcionários da fábrica de Viry-Chatillon, na França, durante o GP da Itália, em Monza, não sensibilizaram a alta cúpula da Renault que passará a se dedicar ao desenvolvimento de tecnologias de motores elétricos e de baterias, assim como estão mantidas as operações em suas outras atividades de automobilismo como o Mundial de Endurance (WEC) com a própria Alpine, da qual é proprietária, também a Fórmula E, e o Rali Dakar. O lado positivo dessa decisão que já vinha sendo tomada alguns meses atrás é que todos os mais de 300 funcionários da fábrica de Viry-Chatillon serão mantidos no novo projeto que será batizado de Hypertech Alpine.
A Renault foi a pioneira dos motores turbo na F1 quando revolucionou o esporte em 1977 com a estreia dos propulsores turboalimentados no GP da Inglaterra. A primeira vitória de um motor com essa especificação só aconteceu dois anos depois no GP da França, em Dijon-Prenois com a própria Renault pilotada por Jean-Pierre Jabouille, numa corrida marcada pelo duelo épico entre Gilles Villene-uve, da Ferrari, que levou a melhor sobre a outra Renault de René Arnoux que terminou em 3º. Ao longo dos anos a fábrica francesa só não esteve na F1 como equipe ou fornecedora de motores em dois períodos curtos de 1987 a 1988, e de 1998 a 2000.
Como fornecedora de motores, a Renault venceu campeonatos empurrando os carros da Williams, Benetton e Red Bull. Foram 12 títulos no total, incluindo o bicampeonato da equipe Renault em 2005 e 2006 com Fernando Alonso. E onze campeonatos de pilotos. Além dos de Alonso, Nigel Mansell (1992), Alain Prost (1993), Michael Schumacher (1995), Damon Hill (1996), Jacques Villeneuve (1997) e Sebastian Vettel (2010, 2011, 2012 e 2013).
Ao longo desses 47 anos de jornada na F1, os motores Renault venceram 169 corridas, 213 pole positions, 176 voltas mais rápidas, 463 pódios e 11.182 voltas lideradas em 741 GPs disputados. Em algum momento, equipes como Lotus, Williams, Tyrrell, Ligier, Benetton, McLaren, Caterham, Toro Rosso e Red Bull correram com os motores da fabricante francesa.
Mas a Renault foi perdendo força nas últimas décadas ao não conseguir acompanhar o ritmo de desenvolvimento de Mercedes, Ferrari e Honda. A situação se agravou mais quando a Federação Internacional de Automobilismo determinou o congelamento dos motores, proibindo o desenvolvimento de 2022 a 2025, e a Renault tem hoje o motor menos potente da categoria. Soma-se a isso o fato de a Alpine ser a única equipe Renault que há muito deixou de ser atraente aos outros times. Tudo isso reflete na falta de resultados da Alpine. A última vitória de um motor Renault foi no GP da Hungria de 2021 com Esteban Ocon. Naquele ano a Alpine terminou o campeonato de construtores em 5º lugar, subiu para 4º no ano seguinte, mas despencou para 6º no ano passado e nesta temporada ocupa a penúltima posição com apenas 13 pontos somados em 18 corridas.
E se tem uma equação que não combina no esporte a motor quando há montadoras envolvidas é ‘gastos versus balancetes, igual resultados ruins na pista’. Elas caem fora se a conta não fechar! A Honda é o melhor exemplo de tantas idas e vindas na F1.
Havia um certo otimismo por parte dos técnicos e funcionários da fábrica de Viry-Chatillon que trabalham no novo motor de 2026 desde 2022 e os sinais têm sido promissores. Mas a direção da Renault concluiu que pagar por um fornecedor sai mais barato do que fabricar seu próprio motor. E assim o martelo foi batido nesta semana.
O fim do programa de motores, porém, não será o fim das operações da Alpine na F1, ainda que pese os rumores de que a equipe esteja à venda. Por enquanto a vida segue a todo o vapor na fábrica de Enstone, na Inglaterra, onde são fabricados os seus carros.
Nos últimos anos a Alpine tem passado por diversas mudanças internas em seu staff técnico e administrativo, como tentativas de reencontrar a competitividade, mas que tem sido tão frustradas quanto os resultados nas pistas. As últimas delas foram as contratações do ex-chefe dos tempos de Benetton e Renault, Flavio Briatore, como consultor, e o novo chefe de equipe, Oliver Oakei que substituiu Bruno Famin que estava no cargo há um ano.