POLEPOSITION

“Bortoleto é piloto fantástico e de alto potencial”

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 09-11-2024 03:58 | 289
Depois de 7 anos o Brasil voltará a ter um brasileiro na F1: Gabriel Bortoleto
Depois de 7 anos o Brasil voltará a ter um brasileiro na F1: Gabriel Bortoleto Foto: Divulgação

O título acima não é meu. Foi Mattia Binotto, chefe da Sauber, quem disse ao contratar o jovem piloto brasileiro. Gabriel Bortoleto correrá pela equipe suíça a partir do próximo ano e o Brasil voltará a ter um piloto competindo regularmente na F1 depois de sete anos, desde a aposentadoria de Felipe Massa no final de 2017. Em 2026 a Audi assumirá o controle da Sauber e será equipe de fábrica.

Bortoleto de 20 anos fez tudo certo até aqui. Venceu o campeonato da F3 no ano passado em seu primeiro ano na categoria, e é o atual líder da F2 restando duas rodadas para o encerramento da temporada. Ele segue o caminho trilhado por Charles Leclerc, George Russell e Oscar Piastri, os outros que venceram os dois campeonatos que são as principais portas de entrada para a F1 em seus respectivos anos de estreia.

Em 2022 Gabriel deu talvez o passo mais importante para seguir o sonho de alcançar a F1, quando assinou contrato com a “A14 Management”, agência de Fernando Alonso, para gerenciar sua carreira. Fez a coisa certa. Para chegar à principal categoria do automobilismo é preciso três pilares: ter as pessoas certas ao seu lado, um bom aporte financeiro, e talento. Gabriel Bortoleto reúne os três, e Binotto enxergou tudo isso em uma rápida conversa que tiveram dias antes de o piloto ser chamado para assinar o contrato.

Não se pode negar que houve também uma importante mudança de mentalidade entre os chefes de equipes nesta temporada, que ajudou a pavimentar o caminho do brasileiro mais cedo do que ele próprio esperava: os jovens talentos que chegaram e mostraram serviço logo de cara nesta temporada.

A desastrosa experiência que a Haas teve com os novatos Mick Schumacher e Nikita Mazeppin entre 2021 e 2022 acumulando inúmeros acidentes e prejuízos à equipe, abriu os olhos de todos de que o custo-benefício entre juventude e experiência, a segunda opção era mais viável. Isso explica em parte um fato inédito que marcou o início desta temporada em que não houve uma mudança sequer no grid. Os mesmos pilotos que terminaram 2023, começaram em 2024. Mas na Arábia Saudita, Carlos Sainz precisou passar por cirurgia de urgência, e Oliver Bearman, companheiro de Bortoleto na F2, foi chamado de última hora pela Ferrari e deu conta do recado. Largou de 11º e terminou em 7º sem cometer um erro sequer. O mesmo Bearman substituiu Kevin Magnussen, na Haas, suspenso do GP do Azerbaijão, e novamente largou de 11º e terminou em 10º(!), tornando-se o primeiro piloto na história da F1 a pontuar consecutivamente em duas corridas por dois construtores diferentes. Outro bom exemplo foi a chegada do argentino Franco Colapinto, também companheiro de Bortoleto na F2, que “chegou chegando” na Williams como substituto do demitido Logan Sargeant e até o fechamento desta coluna a Red Bull trabalhava nos bastidores para contratá-lo para o ano que vem como provável substituto de Sergio Pérez.

Os chefes de equipes passaram a enxergar os jovens talentos com outros olhos. Toto Wolff não resistiu à tentação de promover o italiano Andrea Kimi Antonelli, outro proveniente da F2, como substituto de Lewis Hamilton na Mercedes no ano que vem. E Liam Lawson, da Racing Bulls (RB) também segue impressionando como substituto de Daniel Ricciardo, como impressionou nas vezes que substituiu o australiano no ano passado.

Tudo isso jogou a favor de Bortoleto que além de grande promessa para a F1, mostra muita maturidade em suas entrevistas apesar da pouca idade.

Em Monza ele assombrou ao largar de 22º (último) do grid e venceu a corrida que o lançou definitivamente como forte candidato ao título da F2.

Bortoleto fez toda a sua carreira na Europa desde o Kart a partir de 2018, passando pela F4 italiana, Fórmula Regional, F3 e F2. Em 2025 ele será o 33º piloto brasileiro a competir na F1.

A Sauber é a pior equipe desta temporada. Mas foi-se o tempo em que piloto podia escolher equipe na F1. Quando surge a oportunidade é pegar ou largar. Se não pegar, há quem pegue e a fila anda. Se Bortoleto mostrar o potencial que tem, mesmo com carro ruim todos verão. Afinal, não sou eu quem disse “piloto fantástico e de alto potencial”. Foi Mattia Binotto, com toda a sua experiência e conhecimento de causa.