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OS SINOS cantavam

Por: Fernando de Miranda Jorge | Categoria: Cultura | 13-11-2024 07:13 | 32
Fernando de Miranda Jorge
Fernando de Miranda Jorge Foto: Arquivo

Em Jacuí, década de 50, cidade pacata, católica, pitoresca. Que saudade doída. A voz da Igreja era ouvida também através dos sinos. O som das suas badaladas estava presente em todos os momentos das pessoas, na alegria repicava rápido e alegremente convidando o povo para as missas, os batizados e casamentos. Nos momentos tristes, suas badaladas eram surdas, lentas e sonoras, tal qual lágrimas grossas batiam lentamente no fundo do coração de todos.

Na semana santa e na quaresma eles, os sinos cantores, emudeciam de dor e permitiam que as "matracas" fizessem os avisos e os chamamentos ao silêncio e à penitência.

O velho Atanásio Ribeiro Miranda, meu querido e saudoso avô, zelava pela igreja como sacristão, com muita dedicação. Ele fora na juventude, compositor e seresteiro, como o seu irmão Rodolfo Ribeiro Miranda, seu Dorfim, grande violeiro e cantor de modinhas do início do século.

Vô Atanásio enfrentava a grande e tortuosa e velha escadaria de madeira da torre da igreja e o peso do badalo dos sinos com imensa dificuldade. Foi assim que o sacristão Atanásio acreditou em mim, seu neto de nove anos, no Pedrinho e no Helinho, netos do Dorfim, ensinando-nos a arte de fazer música com os sinos. Responsabilidade! Mas estar na torre da igreja velha, sobre a cidade, tocando os centenários sinos, me fizeram criar uma ponte para chegar onde eu queria; fazendo com que minhas quedas e fracassos, tristezas e decepções de menino vendedor de pirulitos em tabuleiros rua afora, me transportasse para uma estrada de esperanças...

Hoje, pode ser, ao som do sino eletrônico, o começo de uma "nova era", ou uma mera continuação de uma era que "já era"... Repetição monótona dos velhos sonhos ou tentativas sinceras de viver o modo diferente de hoje, em 2024, muitos protagonistas não estão mais entre nós, "MAS, OS VELHOS SINOS", os mesmos da época dos anos 50 estão lá na torre da igreja nova. Vamos ouvi-lo, em outras badaladas, consonância e artífices??? (Três? Para dar sorte). 

Fernando de Miranda Jorge
Acadêmico
Correspondente da APC
Jacuí/MG
fmjor31@gmail.com