Gabriel Bortoleto cumpriu à risca o plano traçado para levá-lo à F1. E antes mesmo de completar o cronograma, já tinha atingido o objetivo principal. Em 2025 será piloto da Sauber, encerrando o longo hiato de 7 anos sem piloto brasileiro na principal categoria do automobilismo. O último foi Felipe Massa que se aposentou ao final de 2017.
No domingo passado Gabriel conquistou o título da F2, a principal porta de entrada para a F1. Uma conquista com a sua marca registrada, a consistência. Em uma temporada de 28 corridas que teve 18 vencedores diferentes, a consistência de Bortoleto foi o que fez a diferença, assim como ele havia feito na conquista do campeonato da F3 no ano passado. O ponto alto da temporada de estreia na F2 foi a memorável vitória em Monza depois de largar em 22º, último no grid. Foi o ponto de partida que o colocou de vez nos radares da F1 e como forte candidato ao disputadíssimo título contra o francês Isack Hadjar, piloto em seu segundo ano na categoria e membro da academia de jovens pilotos da Red Bull.
Bortoleto obteve duas vitórias contra 4 de Hadjar, mas terminou 22 corridas na zona de pontuação contra 15 do principal adversário. Entre as pessoas que o aguardavam para abraçar depois da bandeirada em Abu Dhabi, uma tinha um peso maior, uma espécie de mentor e que desde o ano passado viu que o brasileiro tem um futuro promissor: Fernando Alonso, dono da A14 Management, empresa que gerencia a carreira de Bortoleto.
O jovem brasileiro de 20 anos foi recrutado pela academia da McLaren no ano passado, mas está de saída por conta do contrato assinado com a Sauber que será Audi a partir de 2026.
Antes da corrida final, Bortoleto abriu 5,5 pontos de vantagem para Hadjar. Mas a desclassificação de Paul Aron na corrida Sprint do sábado, promoveu Hadjar uma posição acima no grid, de 4º para 3º, e reduziu um ponto a vantagem do brasileiro. Mas a decisão do campeonato durou apenas ao apagar das luzes vermelhas. Bortoleto assumiu a liderança na largada enquanto Hadjar deixou o motor de seu carro morrer e precisou ser arrastado para os boxes. O título estava praticamente garantido, salvo uma grande catástrofe que felizmente não aconteceu.
Bortoleto liderou a prova até as paradas para trocas de pneus e terminou em 2º, atrás do paraguaio Jusha Durksen, no festivo pódio com dois pilotos sul-americanos. Hadjar perdeu duas voltas até que os mecânicos realizassem o motor de seu carro, voltou à pista, descontou uma volta, mas terminou apenas em 19º.
Gabriel se junta a outros cinco brasileiros que venceram a principal categoria de acesso à F1. Roberto Moreno (1988), Christian Fittipaldi (1991), Bruno Junqueira (1997), Ricardo Zonta (2000) - ambos quando a categoria tinha a nomenclatura de F-3000, e Felipe Drugovich (2022) atual piloto reserva da Aston Martin e que também busca uma vaga de titular na F1. Mas o que mais chama atenção na conquista de Bortoleto é o feito raro que ele conseguiu ao vencer a F3 em 2023, e a F2 nesta temporada, ambas em seus respectivos anos de estreia. Apenas Charles Leclerc, George Russell e Oscar Piastri alcançaram tal feito.
E isso tem um peso na balança de conceito dos chefes de equipes. Significa que o piloto tem facilidade de adaptação a diferentes tipos de carro, o que torna menos complexo o aprendizado na F1.
Em 2025 Bortoleto será companheiro do experiente Nico Hulkenberg que fez grande temporada pela Haas - terminou em 8º o GP de Abu Dhabi e em 11º no campeonato, nada mal para quem não tinha um carro competitivo.
A Sauber não fez boa temporada, mas deu sinais tímidos de evolução nas duas últimas corridas, o que serve de alento para 2025, embora não seja justo esperar muito de Bortoleto. O carro não deverá ser tão competitivo, e o importante será ganhar quilometragem e experiência já que em 2026, quando a F1 terá novo regulamento e com a Audi assumindo o controle da Sauber, se tornando equipe de fábrica, será pra valer.