O prefeito de São Sebastião do Paraíso, Marcelo Morais (PSD), iniciou, neste 1º de janeiro de 2025, seu segundo mandato consecutivo à frente do município. O resultado das urnas não deixa dúvidas: com 91,63% dos votos válidos, Morais consagrou-se como um dos prefeitos mais bem votados do país. À frente da Prefeitura desde 2021, ele enfrentou cenários desafiadores, como pandemia de Covid-19, epidemia de dengue, chuvas acima do esperado e sucateamento de veículos e equipamentos na esfera municipal.
Em entrevista concedida ao Jornal do Sudoeste, Morais faz um balanço detalhado das contas públicas, dos investimentos prioritários realizados e de suas projeções para o futuro de São Sebastião do Paraíso. Em especial, o prefeito destaca a redução significativa de duas frentes de endividamento que dificultavam o desenvolvimento local: os “restos a pagar” e a “dívida fundada”. Além disso, revela como equilibrou o pagamento dessas obrigações com a execução de obras e programas essenciais em infraestrutura, saúde e educação.
LEGADO FINANCEIRO
Marcelo Morais assumiu a Prefeitura em 1º de janeiro de 2021 com um cenário financeiro complicado. “Em 31 de dezembro de 2020, encontrei R$ 23.651.669,62 em restos a pagar e R$ 26.825.019,74 de dívida fundada”, lembra. A primeira categoria (“restos a pagar”) refere-se a despesas que foram empenhadas num exercício (ano) e quitadas no exercício seguinte. A segunda (“dívida fundada”) é composta por compromissos a longo prazo, como financiamentos bancários, empréstimos ou parcelamentos negociados com instituições financeiras e órgãos oficiais.
Quatro anos depois, ao encerrar o primeiro ciclo de gestão, em 31 de dezembro de 2024, Morais entrega o município com restos a pagar na casa dos R$ 6.953.274,00 e dívida fundada de R$ 14.707.024,57. Isso significa uma redução aproximada de 70% nos restos a pagar e de 45% na dívida fundada. “Eu acho que a grande sacada é fazer o arroz com feijão bem feito. Se não tiver carne ou ovo, tem pelo menos arroz e feijão. Então, a gente mostra que é possível arrecadar mais e gastar menos, ao mesmo tempo em que se amortiza a dívida ao longo do tempo, sem parar a máquina pública”, diz.
PRIORIDADE, PLANEJAMENTO E INVESTIMENTO
Segundo Marcelo Morais, a prioridade da gestão foi equilibrar as finanças e, ao mesmo tempo, garantir investimentos estruturais que atendessem às necessidades mais urgentes da população. “Se eu tivesse feito uma administração só para pagar a dívida, talvez hoje eu nem estaria aqui. Então trabalhei com duas frentes: pagar o débito e não travar a máquina”, explica.
Em termos práticos, o prefeito reservou parcelas fixas de recursos para quitar gradualmente as dívidas, enquanto outra parte do orçamento financiava obras de pavimentação, renovação de frota, reformas de praças e unidades de saúde. Dessa forma, conseguiu demonstrar resultados visíveis para a comunidade, garantindo a confiança do eleitorado.
Morais afirma que, em média, durante o primeiro mandato, destinava cerca de R$ 500 mil por mês (R$ 6 milhões ao ano) para um “fundo” que viabilizasse projetos prioritários. Após quatro anos, esse montante alcançava R$ 24 milhões, valor suficiente para avançar em estradas, calçamentos e recapeamentos. “Fazer o arroz com feijão bem feito significa gastar o dinheiro onde ele tem de ser gasto, sem grandes extravagâncias. E isso gerou um fluxo de caixa que se mostrou eficiente para tocar obras essenciais e reduzir dívidas antigas”, detalha.
O SEGUNDO MANDATO: EXPECTATIVAS E NOVAS METAS
Reeleito, Marcelo Morais se mostra confiante em elevar a capacidade de investimento a partir de 2025. Agora, o prefeito projeta superar os R$ 6 milhões anuais de reserva, podendo chegar a R$ 15 milhões por ano, o que totalizaria R$ 60 milhões em quatro anos. “Se com R$ 24 milhões fizemos muito, imagina com R$ 60 milhões. Esperamos não enfrentar mais pandemias ou crises sanitárias graves, mas é claro que sempre surgem problemas. Porém, acredito que não com a gravidade que tivemos no primeiro mandato”, pontua.
CRECHES, SAÚDE E MELHORIAS URBANAS
A construção de creches novas e a ampliação de vagas para a educação infantil é um dos pilares do segundo mandato. Duas unidades estão em obras e outra em fase de licitação, o que somará até 1.200 vagas à rede municipal, viabilizando inclusive turmas de período integral para crianças pequenas. “A ideia nossa é que, muito em breve, G3 e G4 estejam em período integral, resolvendo o déficit de vagas e ajudando os pais que precisam trabalhar”, diz o prefeito.
No campo das obras viárias, o governo municipal planeja recapeamentos estratégicos nas avenidas Wenceslau Braz, Washington Martoni e João Pereira, além de reformas e construções em estradas rurais prioritárias. Outra meta é promover a troca completa da iluminação pública para lâmpadas de LED, elevando a segurança e a qualidade de vida dos munícipes.
Morais ainda comenta reformas e melhorias em praças centrais, como a do San Genaro e da Lagoinha, e a conclusão de campos de futebol em distintos bairros. O prefeito destaca que esse pacote de ações integra o conceito de “prioridade”, uma das palavras de ordem do mandato.
CEMITÉRIO MUNICIPAL
Entre os desafios de infraestrutura herdados está o cemitério municipal, que por anos vinha sendo apontado como prestes a atingir a capacidade máxima. Morais conta que construiu ossuários e gavetas para sepultamentos, além de promover pequenas ampliações e reorganizações legais. “Se você me perguntar quanto tempo isso segura, é difícil precisar. Mas acreditamos que, nos próximos dez anos, ainda haverá condições de atender a população local. Temos também a possibilidade de iniciativa privada construir um novo cemitério, o que permitiria até o município adquirir vagas em casos emergenciais.”
A UPA E A HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO
Acostumado a lidar pessoalmente com as questões da saúde (pasta que acumulou junto à chefia do Executivo até 2024), Marcelo Morais reconhece que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ainda recebe queixas da população. Ele destaca, porém, que houve avanços notáveis: mais médicos, incluindo pediatras, e a integração de serviços de urgência e emergência. “Hoje a UPA, mesmo com problemas, é modelo na região. Planos de saúde não têm pediatra e a UPA tem. Avançamos muito, mas ainda precisa melhorar bastante”, avalia.
Uma das propostas em estudo é a parceria com a Santa Casa, na qual a gerência administrativa de médicos e enfermeiros da UPA poderia ficar a cargo do hospital. Morais enfatiza que não é sua vontade primeira “terceirizar” ou “estadualizar” a unidade, mas admite estar “cansado de ver profissionais que não atendem bem ao cidadão”, desejando mais humanização e fiscalização próxima.
MUDANÇAS NO SECRETARIADO
Com a transição para o segundo mandato, poucas mudanças imediatas foram implementadas no secretariado. A principal novidade é a nomeação de Adriano Lopes Siqueira para a Secretaria Municipal de Saúde, desonerando o próprio prefeito dessa atribuição. “Adriano, que assume como Secretário de Saúde, me pediu a oportunidade de trabalhar mais próximo da UPA, no sentido de tentar resolver os problemas. Nós vamos sentar para viabilizar isso”, explica Morais.
Outra alteração é a extinção da Secretaria de Agricultura, que dará lugar a uma gerência. O então secretário de Agricultura, João Bosco Minto, deixa o cargo. Já a nova Secretaria de Cultura e Turismo terá à frente o ex-vereador Vinício Scarano, cuja missão será fomentar as ações culturais e potencializar o turismo local. Além disso, Morais não descarta novas mudanças em cargos do primeiro, segundo e terceiro escalões após os 100 primeiros dias da nova gestão. “Eu não vou fazer uma transição para entrar no governo, vou fazer a transição já estando no governo. Então, nos próximos três meses, nós vamos promovendo ajustes pontuais até os setores funcionarem da forma que a gente quer”, comenta Morais.
RELAÇÃO COM A CÂMARA
No primeiro mandato, a relação entre o prefeito e a Câmara foi predominantemente harmoniosa, salvo poucos embates pontuais. Com a posse de novos vereadores em 2025, há perfis distintos que podem gerar debates acalorados. “As portas do gabinete estarão abertas para todos os vereadores. Eu vou continuar tendo o meu perfil, todo mundo me conhece. Não estou aqui para prejudicar ninguém, mas também não vou ser bobo. Se alguém quer atrapalhar a cidade, vai enfrentar reação. Porém, não acredito que haja quem queira trabalhar contra o desenvolvimento de São Sebastião do Paraíso”, avalia Morais.
Ele reforça seu compromisso de governar de forma transparente e se diz preparado para divergir quando necessário, mas sem tornar o clima “bélico”. “Se a Câmara for opositora, vou mostrar à população por que as coisas não estão avançando. Mas creio que todos querem o mesmo: o bem da cidade”, completa.
UMA PREFEITURA 100% DIGITAL
O prefeito revela que um dos objetivos centrais de sua próxima gestão é tornar a administração pública mais ágil, inovadora e conectada às tecnologias atuais. Entre as medidas citadas estão a adoção de sistemas de telefonia em nuvem; criação de assinatura digital para todos os secretários e para o gabinete do prefeito; eliminação de papéis e protocolos manuais, com tudo digitalizado e o uso mais intensivo de inteligência artificial para soluções e análises de dados. “Queremos que o cidadão protocole qualquer documento, inclusive projetos de construção, tudo online. Prefiro investir em tecnologia do que manter processos arcaicos que atrasam a vida de quem precisa dos serviços públicos”, destaca.
Morais acredita que tal modernização trará maior transparência, pois o munícipe poderá acompanhar em tempo real o andamento de seus pedidos, além de reduzir custos com papel e burocracia.
CORRIDA ELEITORAL: PLANO PARA 2026 OU 2030?
Ao falar de cenários políticos futuros, Marcelo Morais descarta, por ora, candidatar-se ao cargo de deputado estadual. No entanto, mantém aberta a possibilidade de concorrer a deputado federal caso surja uma oportunidade estratégica em 2026:
“Eu não tenho um projeto pronto para deputado. Mas também não fujo da oportunidade, se passar a galope na minha frente. Se o Cássio Soares for para o Senado, e o Diego Oliveira, prefeito de Passos, sair como deputado estadual, pode ser que eu considere uma candidatura para deputado federal. Mas não é nada certo. O que eu quero, agora, é cumprir meu mandato até 2028.”
Segundo Morais, ele não deixará o cargo de prefeito se a conjuntura não favorecer claramente uma candidatura à Câmara Federal. “As pessoas me deram uma votação expressiva, estão esperando de mim o mesmo trabalho que fiz no primeiro mandato. A gratidão pelo voto significa compromisso com a cidade”, reforça.
DE OLHO EM 2028: O QUE ESPERA ENTREGAR
O prefeito ressalta que chegará a 31 de dezembro de 2028 com a meta de entregar São Sebastião do Paraíso em melhores condições do que recebeu. “Teremos uma gestão incrível, tenho certeza. Seremos modelo para outras prefeituras. Quero entregar as chaves ao próximo prefeito e dizer: ‘Está aqui, sem dívidas, com recursos em caixa e projetos encaminhados’”, afirma, cheio de otimismo.
Ele reconhece estar cansado, física e emocionalmente, devido às crises enfrentadas. Mas atribui a Deus e ao apoio familiar a força necessária para continuar. “Eu tive todos os motivos para não aguentar, mas resisti. Agora, quero retribuir a força das urnas com muito trabalho.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Marcelo Morais fez questão de agradecer à população que, segundo ele, teve paciência com as dificuldades iniciais e colaborou para o sucesso de muitas iniciativas, seja através de cobranças construtivas ou de apoio efetivo em momentos críticos. “Aqui, tivemos pandemia, dengue, chuva ácida, queimadas ao redor da cidade... Tudo isso poderia ter nos derrubado, mas conseguimos manter a cidade de pé.”
O prefeito encerra com uma mensagem de otimismo: “Da mesma forma que priorizamos gastos e organizamos as contas, queremos agora alçar voos maiores. Ter uma gestão tecnológica, sustentável e mais próxima do cidadão. Acho que vamos surpreender quem já achou que fizemos muito neste primeiro mandato. O melhor ainda está por vir.”