Naquele tempo, todo espetáculo circense e parques de cavalinhos que vinham a Paraíso se alojavam no Largo Santo Antônio. Desta vez não foi diferente: desde a armação do circo fervilhava de gente para ver as feras enjauladas que ficavam praticamente a vista. Um espetáculo à parte que despertava curiosidade era a do hipnotizador.
Os anúncios eram feitos em placas colocadas nas esquinas nos principais pontos da cidade, por megafones confeccionados em lata, ou cartazes fixados nos postes.
Pois bem, neste ínterim encontrei com o Beto da Banca (esse era seu apelido) com dois gatos dentro de um saco sendo levados para o circo. Pediu-me que o acompanhasse, pois os mesmos seriam trocados por três ingressos no dia da estreia. Segundo ele, o tratador estava trocando para alimentar as feras.
Chegando lá, entregou os pobres bichanos ao tratador. Jogá-los entre as grades da jaula foi a maior dificuldade, pois os mesmos não passavam. Só sei que acabou conseguindo. Ao verem o leão ameaçador, um deu um saldo de mestre e saiu entre as grades superiores da jaula. O outro, facilmente pela lateral, para meu alívio, pois na época não havia sociedade protetora de animais. À noite fomos ao espetáculo. Lá dentro reinava o hipnotizador que realizou verdadeiros prodígios. Fez um senhor dormir, colocou outro com a nuca numa cadeira e os calcanhares em outra. Fez uma jovem enrolar em espiral. Em resumo aprontou o diabo.
Depois de experimentar sua arte diabólica com os demais, o hipnotizador aproximou-se do Beto da Banca e disse-lhe: “Gostaria de entram em sono hipnótico?”
— Por que não, tente, respondeu-lhe.
O hipnotizador sentou-se numa cadeira vis-à-vis (em frente) e cravou seus olhos nos olhos do Beto. Fez-se silêncio.
Um minuto se passou, quatro minutos... E nada. O público começou a dar risadinhas... O hipnotizador estava ficando furioso.
Segundo o Beto contou-me posteriormente, o hipnotizador aproximou-se dele e colocou uma nota de dez cruzeiros no bolso de sua camisa. A partir daí, o Beto, feliz da vida “dormiu”. E o hipnotizador o fez de gato e sapato. Para delírio da plateia.
(Do livro “O Retorno da Caneta Tinteiro”. SEBASTIÃO PIMENTA FILHO, membro da Academia Paraisense de Cultura