Ontem me lembrei como se fosse hoje, de um tempo de outrora, os quais ficaram guardados em mim, com detalhes tão preciosos que voltei no tempo como se fosse hoje. Gostaria de falar com o leitor sobre minhas doces lembranças. Lembrei-me daquela casa situada na Rua Carlos Bergamo e me vi entrando em seu alpendre e, meio que sem querer, senti o perfume, o cheio do fogão a lenha que vinha lá de dentro.
No alpendre havia exposto as bombachas, berrantes, esporas e outras vestimentas do conhecido Tião Borborema, para lembrar da época de vitórias deste grande homem. Ao entrar na casa vejo Dona Geralda, mulher de semblante que o tempo desenhou, e sinto o seu perfume de ficar ao lado do fogão a lenha e a brasa aquecia levemente o local.
Mulher forte, guerreira, de fala sempre suave e doce, nunca a ouvi gritar. Quando repreendia alguém, fazia de forma doce e terna que nem se assemelhava a repreensão.
Podemos dizer que ela foi como uma imensa árvore frondosa, que dava os frutos mais suculentos. Algo de sua notoriedade foi que as adversidades da vida a fizeram cada vez mais doce, pois não se importava com os espinhos da vida. A família, principalmente os filhos e os netos eram as flores da vida para ela e vivia de forma intensa e muito amorosa para com estes, mas não apenas para a família de sangue. Tratava todos muito bem. Benzedeira reconhecida na cidade e muito famosa por seu jeito amoroso e mãe de todos, era muito procurada. Plantava os raminhos para benzeção no seu quintal, e benzeu as pessoas até quando a sua saúde permitiu em alta idade.
Gostaria de falar um pouco da sua casa. Ainda a recordo forrada de colchões. Eram parentes que vinham de São Vicente, São Paulo e outros lugares para revê-la, a casa ficava cheia de alegria e pessoas. Talvez isso representasse bem ela, pois sempre dava um jeitinho de caber mais um, como naquela frase: coração de mãe, sempre cabe mais um.
Ela que transmitia tranquilidade, voz baixa e suave, ela que foi mãe de muitos. Mulher extremamente simples, mas que não deixou perder os seus valores cívicos, éticos e principalmente morais, mulher de alta distinção e preservação destes valores.
IVAN MALDI É ACADÊMICO HONORÁRIO DA ACADEMIA PARAISENSE DE CULTURA.