Um dos desafios para a escrita da história é o acesso às fontes necessárias para descobrir os eventos e colaborar na produção e difusão dos fatos. O caso particular da escrita da história regional é ainda mais desafiante, em vista da excessiva proximidade com a memória coletiva, composta por lembranças, tradições, traços do passado, com os mais variados graus de veracidade. Outro problema é a não preservação dos diferentes tipos de fontes e a conservação dos arquivos públicos e particulares, cuja alternativa mais plausível é a digitalização pelos atuais recursos tecnológicos. A preservação e divulgação dessas fontes é um desafio que precede ao trabalho coletivo de valorizar e escrever a história. Por esse motivo, o levantamento e socialização das fontes são condições imprescindíveis para aproximar um pouco mais do passado.
É com base nesse princípio que ressalto a importância de um generoso gesto do meu querido ex-professor Luiz Ferreira, que me enviou, há certo tempo, cópia de uma revista de 1916, com elementos históricos de São Sebastião do Paraíso. Trata-se de uma publicação intitulada “Minas Gerais e seus Municípios”, sob a direção do jornalista Roberto Capri, atuante na imprensa paulista da época. Esse periódico era composto por reportagens de cidades do interior, que mais se destacavam no plano econômico e que estavam em franca expansão, principalmente, no que diz respeito à cafeicultura e à pecuária. No referido ano de 1916, o município de São Sebastião do Paraíso foi campeão na produção de café, no Sul de Minas.
É uma fonte muito importante, sobretudo, por retratar a cidade, cerca de seis anos antes da publicação da “Notícia histórica de São Sebastião do Paraíso”, de autoria do advogado José de Souza Soares. Com base na referida revista, esta crônica retorna aos idos de 1916, quando a presidência da câmara municipal era exercida pelo coronel José Francisco de Paula, que também exercia as funções de Agente Executivo (atual prefeito). Sua administração foi no triênio iniciado em 1º de janeiro de 1916. Em seguida, assumiu o mesmo cargo, o coronel José Oliveira Rezende.
Foi no primeiro semestre de 1916 que a florescente cidade recebeu a visita do jornalista Roberto Capri. A reportagem focaliza aspectos políticos, sociais, históricos, econômicos, citando os cidadãos mais abastados, comerciantes e fazendeiros, e as promissoras condições da cafeicultura, que estava conquistando sucessivos recordes nas safras para exportação através do porto de Santos. Cumpre observar que o editor da revista tinha grande inserção na comunidade italiana da capital paulista, sendo ele mesmo imigrante, que foi então muito bem recebido pelos líderes da cidade.
A grande comunidade italiana de São Sebastião do Paraíso, alguns anos antes, recebia regularmente o jornal “Il Progresso Ítalo-Brasiliano”, publicado em São Paulo, sob a direção do próprio Roberto Capri, no início da década de 1910. Não resta dúvida que os registros prioriza-dos nesse tipo de fonte estavam em plena sintonia com a visão da oligarquia política reinante naquele momento. A própria visita do jornalista à cidade e as reuniões com os líderes políticos locais foram noticiados na imprensa nacional.