ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Cidades | 08-11-2017 14:11 | 1870
Foto: Reprodução

CORAGEM
Costumo conversar com meus réus em audiência e explicar para eles que a qualidade e adjetivo “coragem” pode ser qualidade e pode ser defeito. Se a coragem vier acompanhada do bom senso, do respeito aos mais velhos e aos mais fracos, da educação, obviamente é qualidade, e das melhores e mais raras. Se, todavia, vier desacompanhada de outros sentimentos nobres, é defeito gravíssimo. O sujeito que quer bater no outro por conta de um problema de trânsito é corajoso, mas é um imbecil, um boçal e um criminoso. O aluno que ofende o professor porque tirou nota baixa pode até ser corajoso, mas também é um mal educado, desqualificado e idiota. O corajoso do bem, o bom corajoso, é aquele que enfrenta desafios muito maiores do que suas capacidades visando ajudar ao próximo. É o que defende os mais fracos. É o que não tem medo de seguir seus ideais ou, o que é ainda mais difícil, aprende a lidar com o medo para superar situações de dificuldade e impasse que não criou, mas que precisa enfrentar. Aquele que expõe suas ideias indiferente às vaias e uivos de protesto que terá como resposta também é um baita corajoso do bem. Transgredir regras de conduta frente ao inusitado, assumindo riscos por um bem maior, isso é ser corajoso, é ir além do que é necessário visando a pacificação social – independente da popularidade ou não do seu gesto. 




GILMAR MENDES
O preâmbulo sobre a coragem vem a calhar quando falamos do Ministro Gilmar Mendes. Vejam bem. Não entro no teor de suas decisões, no mérito do que julgou, porque não conheço profundamente os autos dos respectivos processos. Sei apenas o que todos sabem, pela mídia. O que posso garantir é que está cada vez mais difícil encontrar um magistrado como ele, que julga conforme sua convicção, sabendo-se impopular, e persevera defendendo seus princípios, doa a quem doer. Ser magistrado como Joaquim Barbosa ou Sérgio Moro, com decisões populares, imolando corruptos, não chega a ser fácil, mas não exige a metade da coragem que guia os passos de Gilmar Mendes. Ele garantiu a governabilidade do país ao absolver no TSE a chapa “Dilma – Temer” com seu voto de minerva questionadíssimo. Ou alguém acha que nossa democracia iria suportar mais uma troca de presidentes em pouquíssimo tempo e pela porta dos fundos (de novo), como se fôssemos uma republiqueta de bananas? Veio a público defender e decidir pela soltura de presos provisórios com a liberdade cerceada há mais de um ano sem condenação judicial de qualquer natureza, ainda que estes presos sejam políticos acusados de corrupção. Sabedor de que seria espinafrado, ainda assim defendeu o dogma constitucional da presunção de inocência (ou não culpabilidade). Não tem medo de trafegar no governo, lidando com políticos como Renan Calheiros e Aécio Neves, ao invés de fugir deles como se fossem leprosos.  Não se esconde para tomar whisky com os poderosos, como o fazem inúmeros de seus colegas. Faz à frente de todos e não nega. Agora... Gilmar Mendes é um corajoso do bem ou do mal? Eis a questão, que só a posteridade saberá responder. 




OCTÓGONO
Meu colega de faculdade e amigo, o célebre advogado Bady Cury Neto, em recente matéria no jornal O Tempo, refere-se ao plenário do STF como octógono, lembrando as lutas de MMA, o vale tudo moderno das artes marciais. É claro que a comparação tem por berço os destemperos entre os ministros da mais alta corte de justiça do país, péssimo exemplo para cidadãos, estudantes e operadores do Direito. Se aqueles homens maduros, alguns deles anciãos, exemplo de temperança e estudo, honradez e dignidade, se destemperam e se ofendem, o que dirá o resto do país? Exemplo péssimo. Começou com Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Se bem que Joaquim Barbosa ofendia a esmo, era um indômito sem freios – não ousaria dizê-lo “corajoso”. Mas também tivemos exemplos com Lewandowski, Barroso, e agora Barroso e Gilmar Mendes. E pensar que a coisa toda começou porque Gilmar criticou o Rio de Janeiro, terra natal de Barroso, que se melindrou e respondeu citando o carioquíssimo e engajadíssimo Chico Buarque. Até cultura andaram utilizando para se digladiar.




PESQUISAS
Lula e Bolsonaro na frente. Alguém ainda duvida do racha que vive o Brasil? E vou logo alertando, Lula não ganha no segundo turno. Se ele insistir em requentar seu jeitão fora de moda de “pai dos pobres”, vai eleger Jair Bolsonaro. Como Hillary elegeu Trump, o que muitos consideravam impossível de ocorrer. Há eleitores de Bolsonaro em todos os segmentos sociais, inclusive entre minorias. Uma pesquisa interessante seria tentar detectar e diagnosticar quem é o eleitor de Jair Bolsonaro. Você iria se surpreender com a resposta.




O DITO PELO NÃO DITO
“O homem impassível é como a água pútrida das lezírias, onde vicejam os vibriões maléficos.” (Nelson Hungria, jurista brasileiro).




RENATO ZUPPO, Magistrado, Escritor