CONECTAR PARA CONSERVAR:

Projeto de arborização com espécies nativas das ruas e avenidas de São Sebastião do Paraíso-MG

Por: Redação | Categoria: Educação | 08-03-2017 02:03 | 2308
Foto: Reprodução

Estratégias ecológicas para conservação da diversidade
Uma das importantes estratégicas para conservação em áreas onde houve perda ou fragmentação de habitats é a implementação de corredores ecológicos. Definimos o corredor ecológico como um elemento linear que conecta a paisagem, ou seja, corredor composto de vegetação nativa que liga os fragmentos naturais entre si. De modo geral, corredores ecológicos propiciam e facilitam o fluxo biológico entre duas ou mais unidades da paisagem, no caso, dois ou mais fragmentos de vegetação nativa. 
Entretanto, a conectividade depende de inúmeros fatores, como por exemplo: densidade de corredores (quantidade de corredores por área), permeabilidade da matriz (facilidade com que animais podem se deslocar pela área), distância entre manchas de habitat, entre outros. Assim, apesar do corredor ecológico consistir um habitat adequado, geralmente não atua como espaço de procriação devido a características estruturais/espaciais, como por exemplo: ser estreito, apresentar baixa densidade de espécies em comparação com a matriz, sofrer forte efeito de borda e consistir em área de alto risco de predação. 
Paisagens urbanas (cidades) apresentam grande predomínio de plantas exóticas, e culturalmente têm se priorizado arborização urbana com espécies não nativas, sejam elas, árvores, arbustos, herbáceas e/ou plantas ornamentais utilizadas na arborização das vias públicas, praças e jardins residenciais. No entanto, plantas exóticas podem funcionar ecologicamente como uma barreira ao deslocamento da fauna nativa. 
Animais como, por exemplo, morcegos frugívoros (que comem frutos), pássaros (tucanos, beija-flores, sabiás, canários, araras, papagaios, etc), primatas, insetos (abelhas nativas sem-ferrão, besouros, borboletas, etc), quatis e muitos outros são especializados a utilizarem como recurso (alimento, abrigo, local para acasalamento e nidificação, etc) plantas nativas características da vegetação de nossa região (transição entre Cerrado e Mata Atlântica). Ao adentrar nas cidades, os animais nativos se deparam com predomínio muito grande de plantas exóticas. Como não estão familiarizados em utilizar tais plantas exóticas como recurso, acabam retornando para o ambiente nativo e a cidade torna-se uma barreira ecológica ao deslocamento destes animais, que não conseguem atravessar a cidade. 
Projeto “Connect to Protect” de Miami
Poucas são as iniciativas com o foco deste presente projeto no Brasil e um exemplo de excelência e de sucesso que vale muito a pena ter como modelo e adaptá-lo para nossa realidade e contexto é o Projeto “Connect to Protect” implementando em Miami, Estados Unidos, pela Fairchild Tropical Botany Garden (FTBG) que promove plantio de espécies nativas de um importante ecossistema do sul do Estado da Flórida, chamado “Pine Rockland” que consiste em um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. O “Pine Rockland” se localiza nos subtrópicos dos Estados Unidos e possui mais de 400 espécies de plantas nativas contendo uma mistura de espécies temperadas e tropicais. Muitas das plantas do “Pine Rocklands” são endêmicas, ou seja, só ocorrem neste local e não são encontradas em mais nenhum outro local do mundo. O mesmo ocorre com o Cerrado e Mata Atlântica, entretanto ambos ecossistemas são muito mais diversos que o “Pine Rocklands”, mas igualmente ameaçados e precisam urgentemente de medidas de proteção. Podemos conservar estes ecossistemas tanto através de Parques Nacionais, Reservas, Estações Ecológicas, RPPNs, mantendo Reservas Legais nas propriedades rurais, etc, como também plantando espécies nativas em nossas cidades. 
Site Connect to Protect: http://www.fairchildgarden.org/science-conservation/connect-to-protect-network
No próximo Olhar atento: conheça melhor o mundo ao seu redor continuaremos a abordar o Projeto de arborização “Conectar para Conservar” e apresentaremos as metodologias que serão empregadas para implementação deste projeto de arborização com espécies nativas caso a Prefeitura e Câmara de Vereadores entenderem, como você entende, que uma arborização bem feita gerará qualidade de vida a todos nós Paraisenses, favorecerá a conservação de plantas e animais nativos, tornará nossa cidade ainda mais linda, agradável, mais fresca, com clima bem mais ameno para se caminhar.

HIPÓLITO FERREIRA PAULINO-NETO - Professor Pesquisador do Curso de Ciências Biológicas e responsável pelo Laboratório de Ecologia da Polinização, Evolução e Conservação (LEPEC) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Brasil. Biólogo UFU, Mestre em Ecologia UNICAMP, Doutor em Ecologia USP, Pós-Doutor Entomologia USP.