Nesta mesma época no ano passado eu vivi em Interlagos, uma experiência incrível. Foi a minha primeira vez como jornalista cobrindo o GP do Brasil de Fórmula 1, dividindo a sala de imprensa do autódromo com jornalistas do mundo inteiro. Alguns dos quais eu tenho como referência, professores de automobilismo, costumo dizer.
E novamente escrevo aqui do autódromo. Um orgulho poder representar o Jornal do Sudoeste. Acima de tudo, uma conquista nossa porque não é sempre que se consegue uma credencial de imprensa na Fórmula 1.
Por isso eu gostaria de compartilhar este momento com cada leitor do JS e da coluna Pole Position, porque é graças ao seu prestigio que tudo isso está sendo possível. Há 16 anos que a coluna existe, o que faz do JS o único de Minas que a tantos anos abre espaço semanal para o automobilismo. E isso tem um peso enorme, se levarmos em conta que os grandes jornais impressos do país abandonaram as coberturas da Fórmula 1, direcionando suas matérias para as mídias digitais. Como ouvi de um colega de imprensa aqui, “é uma bandeira que precisa e merece manter-se erguida”.
Dito isto, o campeonato acabou, Lewis Hamilton já é tetracampeão, marca igual à de Alain Prost e do próprio Sebastian Vettel, com quem o piloto da Mercedes disputou o título em igualdade de condições até o GP da Bélgica, 13ª etapa. De lá para cá a Ferrari e Vettel se perderam em erros e problemas mecânicos que facilitaram um pouco a vida de Hamilton sem que isso tirasse qualquer mérito de seu talento e sua conquista.
Mas o fato de não ter mais a pressão da disputa dos mundiais de pilotos e de construtores – a Mercedes também já é campeão entre as equipes – não tira o brilho da corrida já que o circuito de Interlagos, pela topografia do terreno, e características peculiares de seu traçado com 4.309 metros, bastante técnico e que agrada a maioria dos pilotos, costuma sempre proporcionar grandes corridas. E não é só: pela primeira vez na história da Fórmula 1 os fãs verão dois tetracampeões juntos na pista. Outro Privilégio!
E tem também a segunda – agora definitiva – aposentadoria de Felipe Massa. Ele mesmo faz questão de dizer que agora não terá volta. Ano passado Massa foi ovacionado pelo público e até por membros de equipes rivais enquanto caminhava de volta para os boxes enrolado à bandeira do Brasil depois de bater e abandonar a corrida. Uma cena emocionante jamais vista em toda a história da Formula 1, efeito do carisma de Massa e da importância de seu trabalho na Fórmula 1.
Com a repentina aposentadoria de Nico Rosberg ao final do ano passado, a Mercedes convenceu a Williams em liberar Valtteri Bottas para o lugar do alemão, e a Williams foi atrás de Massa que decidiu adiar a aposentadoria. A sobrevida que Felipe ganhou na Fórmula 1 não está sendo a que ele sonhou, o carro está abaixo das expectativas, e Massa somou até aqui apenas 36 pontos, quatro a menos que o companheiro de equipe, Lance Stroll. Com a Williams buscando alternativas no mercado de pilotos, Felipe sentiu que era o momento certo de se aposentar. É mais um privilégio deste colunista poder estar nas duas despedidas de um mesmo piloto, embora desta vez o próprio Massa não espera receber tantas homenagens como no ano passado.
Este será o 45º GP do Brasil, o 35º, em Interlagos – os outros foram realizados no extinto Autódromo de Jacarepaguá, no Rio. Alain Prost que deixou as pistas ao final de 93, ainda é o maior vencedor da prova com 6 vitórias. Dos pilotos em atividade, Massa e Vettel venceram duas vezes cada, e Kimi Raikkonen e Hamilton, uma, o que prova o quanto é imprevisível o GP do Brasil. A Ferrari, por exemplo, não vence em Interlagos desde a emblemática decisão de 2008, quando Felipe Massa ganhou a corrida, mas perdeu o campeonato para Hamilton por um ponto.