CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Uma crônica publicada há 80 anos: “Dr. Placidino Brigagão”

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 17-11-2017 09:11 | 4253
Foto: Reprodução

Luiz Carlos Pais




Recuperar textos antigos e divulgá-los é uma forma de contribuir para que possamos aproximar um pouco mais de nossas próprias raízes históricas, entender o passado e participar na superação dos desafios atuais. É com base nesse princípio que o texto de hoje tem o objetivo de transcrever uma crônica publicada em 10 de outubro de 1937, ou seja, há 80 anos, no jornal A Época, de São Sebastião do Paraíso, MG, periódico esse dirigido por Roberto Scarano. O título dessa crônica é “Dr. Placidino Brigagão” e seu autor assinava “J. Mendes”. Sua íntegra encontra-se transcrita abaixo:
“O dia 5 de outubro é uma data duplamente significativa para São Sebastião do Paraíso. Primeiro, porque recorda a data do aniversário natalício do Dr. Placidino Brigagão, e, segundo, por ser este dia o escolhido pelo destino, com imenso pesar para a nossa terra, no ano de 1928, para o sepultamento desse benemérito, em toda a extensão da palavra, da nossa cidade e da nossa gente. Espelho de todas as virtudes a que pode se vangloriar um homem, chefe de família exemplar, amigo dedicado para todas as contingências que se lhe apresentassem, esmoler e dócil para com os pequenos e humildes, a todos, sem exceção, tratava como irmãos. 
Durante quase meio século, o 5 de outubro foi para nós uma data altamente festiva, cheia, muitíssimo cheia de alegria. De todos os cantos da cidade, sem distinção de classes, de cor ou de religião, surgiam cartas, telegramas e presentes os mais finos e lindos, com lembranças, e homenagens de todos, velhos, moços e crianças, que muito lhe queriam. Quem houve, nesta terra, que deixasse de estima-lo? Quem quer que o conhecesse, conheceria no mesmo momento o seu coração, que vivia sempre a pulsar por quem dele se aproximasse. 
Como médico, poucos haverão de igualá-lo, não só na competência, no acerto quase matemático de seus diagnósticos como na solicitude e no modo de atender a todos que o procurassem, quer houvesse sol ou chuva, ao meio-dia ou às duas da madrugada, a pé ou a cavalo, certo, quase sempre, de estar atendendo uma família de parcos recursos financeiros e que, por conseguinte, nada ganharia pecuniariamente.
Indiferente ao dinheiro, que para esse espírito superior nada valia, sempre ganhou nessas visitas médicas, em toda a sua existência, com os respectivos juros de gratidão, rios de boas amizades e de contentamento para o seu coração. 
Inteligente de escol, jornalista de vastos recursos, político que sempre soube se impor perante seus adversários, tal era a sua lisura, a sua franqueza e a sua sinceridade, esse homem foi, para a cidade que considerava sua terra natal, um grande benemérito. Nada mais precisaria ter feito além de aliviar as dores físicas (e algumas vezes também as dores morais) da nossa população, no entanto deixou, além de inúmeros serviços prestados quando foi Agente Executivo, uma obra que merece ser considerada, ainda nos dias presentes, como das mais importantes do Município e do Estado, no gênero: trata-se do nosso Matadouro, inaugurado no ano de 1910.
Faz nove anos, portanto, que a sociedade parai-sense, ou melhor, o povo paraisense deixou de enviar presentes materiais ao médico da pobreza parai-sense, para fazer espiritualmente, por meio de suas preces ao Todo Poderoso. 
Algumas homenagens, como o seu nome em uma das nossas principais ruas e a colocação do seu busto na praça Comendador João Alves, que já foram prestadas, não são suficientes ainda. Muito ele fez pelo nosso povo e, assim, para ser justiceiro, muito ainda deve o povo fazer para homenageá-lo. Foi bom e foi justo. Sejamos, parai-senses, justos, bondosos e reconhecidos para com a memória desse homem que passou a sua existência dando os mais concretos exemplos de solidariedade humana.”