A vice-prefeita, secretária municipal de Desenvolvimento Social de São Sebastião do Paraíso, Dilma de Oliveira, ocupou a tribuna na sessão da Câmara Municipal de segunda-feira (27/11), a convite do presidente Marcelo de Morais. Falou sobre o andamento dos trabalhos da sua pasta e, entre outros assuntos, desmentiu informações de que o presidente da Câmara teria a convidado para uma reunião a fim de "articular uma cassação" do mandato do prefeito Walker Américo ou "barganhar" cargos com ela caso isto acontecesse. Dilma pediu licença para ocupar uma cadeira junto aos vereadores onde prestou esclarecimentos aos questionamentos.
Quem teria feito tais suposições foi o secretário de Desenvolvimento Econômico e chefe de gabinete do prefeito, Ulisses Araújo na sessão da Câmara no dia 23 de outubro, quando fez uso da tribuna e afirmou que Morais teria inventado uma "pedalada" e convidado a vice-prefeita para uma reunião, alegando que derrubaria Walkinho. Disse ainda que o vereador teria "barganhado" com Dilma cargos para duas secretarias. Finalizando, informou ao plenário, lotado à época, que a vice teria ido ao prefeito expor a situação.
Com o plenário também lotado, Dilma inicialmente falou sobre os trabalhos da Secretaria de Desenvolvimento Social. Aproveitando a presença da vice-prefeita, Marcelo lembrou sobre a citada reunião a que se referiu Ulisses, segundo Marcelo, marcada após um encontro com Dilma em um evento. O objetivo, conforme frisou o vereador era esclarecer algumas questões relacionadas a decretos municipais. Marcelo lembrou ainda que os dois, acompanhados do vereador Vinício Scarano, reuniram-se na Câmara no início da noite daquela mesma data e que outros vereadores foram convidados, mas não puderam participar.
A vice-prefeita confirmou as alegações do presidente da Casa e acrescentou: "Nós nos encontramos lá na queima do alho, até com os vereadores Lisandro e Ademir, e você disse que tinha alguma coisa para me dizer, para ver o que eu achava. Quando você me convidou, eu de pronto estive aqui junto com a minha assessora; quando chegamos você estava com o Vinício, então, nos mostrou todos os decretos que você estava com dúvidas e o que eu achava daquilo tudo para poder investigar. Eu disse: "Olha, realmente eu não tenho conhecimento e vou verificar tudo o que está acontecendo; vocês como vereadores podem fazer o mesmo"". Então, no dia seguinte, procurei o prefeito e falei para ele desses decretos, para ele tomar conhecimento e o que ele poderia fazer, porque a Câmara estava precisando saber sobre essas situações. Ele, de imediato, demonstrou que já tinha conhecimento do fato e disse que colocava a equipe técnica e a Secretaria de Planejamento e Gestão para esclarecer para os vereadores e para mim também. E foi isso o que aconteceu", relatou.
Marcelo insistiu no assunto e questionou a vice-prefeita se em algum momento na reunião foi tratado cassação do prefeito. Dilma respondeu: "De jeito nenhum. Em hipótese alguma. Não teve nenhuma armação e nem golpe, muito menos traição. Até porque, em nenhum momento você me pediu sigilo e eu, sendo vice-prefeita, jamais poderia deixar de esclarecer ao prefeito o que estava acontecendo. Eu cumpri com aquilo que tinha que ser feito naquele momento".
Dilma negou que a atual Câmara, em algum momento, tenha atrapalhado o trabalho do Executivo municipal. "Pelo contrário, vocês têm ajudado devolvendo recurso antecipado, porque, pela lei, a devolução aconteceria só em dezembro. Com o recurso, o prefeito pagou parte das rescisões atrasadas e a Santa Casa", concluiu.
Marcelo disse ainda que a assunto sobre a reunião tinha lhe causado muita estranheza porque em plenário o secretário Ulisses fez diversas acusações e pregou que "os vereadores, todos deveriam estar unidos para que a cidade crescesse". "É o que estamos fazendo. Mas o que não podemos fazer é que o cidadão, o funcionário público, olhe para trás e diga que tiveram uma Câmara omissa e que não trabalhou. Isso não vamos fazer. Dilma, não querendo ser indelicado, tivemos uma reunião recente da PGV, para mim uma das mais importantes que tivemos, e para minha surpresa, quando te liguei para tratar sobre outro assunto e te questionei se participaria, o que você me disse?", questionou Marcelo.
Dilma explicou que não tinha conhecimento sobre tal reunião e que nem tudo o que acontece dentro da prefeitura é de seu conhecimento. Marcelo emendou, dizendo que isso o preocupava. "Quando uma vice-prefeita não tem conhecimento de uma das reuniões mais importantes é porque está havendo falha do prefeito e da sua assessoria em lhe convidar, porque quem fez isso fui eu", destacou. Marcelo ressaltou, citando secretários presentes no auditório da Câmara, que os vereadores não estão ali para denegrir o trabalho de ninguém. "Estamos aqui para fazer o nosso trabalho, nós não temos culpa se as pessoas se acostumaram com uma Câmara omissa", disse o presidente.
ULISSES ARAÚJO
Tomado conhecimento da sessão de segunda-feira (27/11), o secretário Ulisses Araújo, que estava em viagem à Belo Horizonte, entrou em contato com o Jornal do Sudoeste e reafirmou que o presidente da Câmara tentou barganhar cargos como a vice-prefeita caso ela assumisse a cadeira. "Dilma não negou que ele pediu cargo no eventual governo dela, negou? O Marcelo pediu para Dilma, caso ela fosse prefeita. Ele indicaria um vereador para ser secretário de Saúde e de Esporte e outro para ser secretário de Obras. O vereador para secretário de Esporte seria o Vinício. Houve, sim, uma tentativa de barganha de cargos com a vice-prefeita", defendeu-se o secretário sobre ter supostamente mentido sobre o assunto.
Marcelo, por sua vez, negou que a conversa houve tido esse tom. "No final da reunião eu brinquei com a Dilma. Infelizmente usaram isso para dar esse tom a conversa, como se eu estivesse armando alguma coisa, mas não foi o que aconteceu", contestou Marcelo. O presidente da Câmara disse ainda que "entre as duas tribunas usadas, uma pelo secretário Ulisses e outra pela vice-prefeita Dilma, prefiro inicialmente registrar que acredito no que foi dito apenas pela vice-prefeita, que participou da reunião em questão e que o que o senhor secretário Ulisses diz, prefiro deixar que o tempo mostre sua capacidade técnica de fantasiar e inventar histórias do arco do triunfo".
Sobre a alegação, a vice-prefeita reafirmou: "Foi tudo uma conversa, em tom de brincadeira, que se estendeu, não tinha motivos para isso. O Marcelo brincou sobre isso comigo. Não houve tentativa de barganha, não houve tentativa de cassação, mesmo porque é um processo que se estende por anos; por que isso aconteceria se nenhum momento estava sendo cogitado que eu seria prefeita, não havia o porquê. Tanto que no outro dia eu procurei o prefeito para deixá-lo ciente da situação e ele demonstrou que já sabia de tudo, não sei como", completou Dilma de Oliveira.
POSSÍVEL RETALIAÇÃO ATINGE SECRETÁRIA DE GABITE DA VICE-PREFEITAApós a ida da Dilma de Oliveira à Câmara na noite de segunda-feira (27/11), foi ventilado na manhã de ontem (28/11), que a assessora e chefe de gabinete da vice-prefeita, Cristiane Bindewald, teria recebido um telefone do chefe do departamento de RH comunicando que ela seria exonerada. Até o fechamento desta matéria, a situação não havia caminhado para uma solução.
A notícia repercutiu no meio político, que enxergou a situação como uma tentativa de retaliação à vice-prefeita, após negar informações do secretário Ulisses sobre possível tentativa de articulação da presidência da Câmara em cassar o mandato do atual gestor e de barganhar cargos com ela.
Dilma disse que em momento algum foi procurada pelo prefeito Walker ou quem quer que fosse para tratar deste assunto. "Oficialmente não estou sabendo de nada, não há nada por escrito e ninguém me comunicou. O gabinete de vice-prefeito tem orçamento próprio e se ela é minha assessora, cabe a mim autorizar ou não a exoneração dela. Por enquanto não fui questionada", explicou Dilma.
Dilma acrescentou ainda que na sessão da Câmara de segunda-feira (27/11), apenas falou o fatos por trás da história. "Eu disse que quando fosse a Câmara, falaria a verdade. Eu não tenho nada com essa briga política que temos observado, sou amiga de todos os vereadores. A gente precisa da Câmara para governar e isso não é possível sem este apoio. Eu disse exatamente o que aconteceu", ressaltou.
"Recebi essa ligação de forma tranquila, eu já esperava que em algum momento isso pudesse acontecer, apesar de todo o trabalho que nós fazemos e, boa parte, de forma voluntária. Sabemos que existe esse clima de mal-estar comigo, como se eu não apoiasse o governo enquanto que na verdade eu gostaria que todos estivessem juntos", lamentou Cristiane.
A chefe de gabinete da vice-prefeita disse ainda que essa aproximação dela e da vice-prefeita com o Legislativo sempre ocorreu por conta do Parlamento Jovem, desde à época em que Dilma era vereadora, e que gostaria que os poderes pudessem manter um diálogo saudável já que um depende do outro. "Nós buscamos sempre a diplomacia, ao contrário do que é dito nos bastidores; não buscamos criar problemas, mas o oposto, nós queremos soluções para o município", disse.
Cristiane, que exerce o cargo de vice-presidente da Casa São Francisco, e de presidente do Conselho Municipal da Mulher, diz que isto não deve afetar os trabalhos que ela já desempenha, e que deve manter a luta para a mudança da realidade social de alguns bairros, entre eles o João XXIII. "É um projeto que deve atingir algumas associações e entidades, estamos apenas acertando alguns detalhes", completou.
Por fim, Dilma disse que estão usando todas essa situação para um briga política que existe entre os poderes. "Não existe o porquê de dar uma ênfase a isto, mesmo porque não existiu nenhuma tentativa de golpe. Eu trabalho na Aviação há 40 anos e não há nada no meu currículo que me desabone. Eu sempre fui muito honesta, transparente e nunca fui traidora. Eu sou livre para tomar minhas decisões e achar o que é melhor para o povo", completou.