Faltava pouco mais de um mês para desencadear a grande crise econômica de 1929, também chamada de Grande Depressão, quando um jornal de São Paulo noticiou a realização de um grande comício em São Sebastião do Paraíso, importante polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro. Foi nesse momento de mudança e de incerteza, quanto ao futuro, que os líderes políticos locais se dividiram diante do impasse de apoiar ou não a composição da chamada “Aliança Liberal”, frente de apoio à política defendida por Getúlio Vargas, em parceria com o então presidente de Minas Gerais, Antonio Carlos Ribeiro de Andrada.
No dia 7 de setembro do referido ano, o diretório do Partido Republicano Mineiro (PRM), então presidido pelo comendador João Alves de Figueiredo Júnior, mandou distribuir um panfleto, convidando a população para participar de um grande comício, marcado para três dias depois, onde seriam discutidas as questões políticas mais importantes daqueles dias. O local do grande evento seria um palanque montado bem em frente à Igreja Matriz, onde diversos oradores discursariam em defesa da formação de uma frente de apoio ao presidente Antônio Carlos. Estava em pauta também a discussão da grave crise pela qual passava a cafeicultura, prenunciando uma acentuada queda dos preços, afetando todo o movimento comercial da cidade e região.
As graves consequências da crise afetariam, nos próximos anos, não somente a cafeicultura como os demais setores produtivos. Mas, naquele momento, já havia queda acentuava na expectativa de exportação de café. O povo foi convidado a comparecer ao comício, com a promessa de que o encontro seria uma tribuna livre e democrática para tratar, além da crise na cafeicultura, o problema maior daquele momento: a sucessão presidencial. O presidente de Minas Gerais, Antonio Carlos pretendia ser o próximo presidente da República, caso continuasse a política do café com leite. No ano anterior, ele havia visitado a cidade e região, conversado com os coroneis, quando lançou a pedra fundamental no prédio do Ginásio Paraisense, bem como assinou decreto de criação do segundo grupo escolar.
Uma das dificuldades daquele momento, em face das velhas práticas até então vigentes, seria o sigilo do voto, que havia sido instituído no ano anterior. Os líderes do PRM defendiam que a campanha deveria transcorrer “com base em ideias e princípios, com o devido respeito aos adversários”. No anunciado comício, como consta no boletim divulgado, qualquer adversário poderia expressar suas divergências ou contraditar os oradores que teriam o “máximo prazer” em responder as objeções. A linha oposicionista local era então formada pelo Partido Republicano Municipalista, sob a liderança do coronel José Honório Viera. O boletim assinado pelo do diretório do PRM terminava com as seguintes palavras: “Viva o Brasil! Viva o Dr. Antônio Carlos! Viva o Dr. Getúlio Vargas! Viva o Dr. João Pessoa! São Sebastião do Paraíso, 7 de setembro de 1929.”
Antes da hora marcada para o início do comício, havia uma multidão aguardando a mensagem dos oradores. Entre os populares havia operários, agricultores e artesãos, mas a plateia era também formada por advogados, médicos, dentistas, farmacêuticos, banqueiros, comerciantes e industriais. Todos estavam ansiosos em compreender o contexto que ficaria na história. Para abrilhantar o evento, a “Banda 502” executou o hino nacional. Em seguida, discursou, além de outros políticos, o Dr. José de Souza Soares, expondo seu ponto de vista diante da conjuntura. Seria uma traição - assim expressou o orador - deixar de acompanhar a candidatura do presidente Antônio Carlos, para apoiar o candidato paulis-ta, Júlio Prestes. No ano seguinte, Prestes venceu as eleições, mas não tomou posse devido ao movimento revolucionário de 1930, quando iniciou então a longa fase de 15 anos da Ditadura Vargas.