(*) Ely Vieitez Lisboa
(De novo a mensagem, a fim de evitar esta praga, em tempos conturbados)
O pessimista não faz história, mais atrapalha, atrasa, entocado, covardemente, na sua amargura doentia. Poder-se-á até perdoá-lo, chamá-lo de precavido, cauteloso. Eu tenho minhas dúvidas, cisma, quase certeza, precaução, acautelamento. Ele não ajuda a construir nada, porque diz saber que não dará certo. Afirma: é impossível, é fracasso, tolice, loucura.
O pessimista não vive, teme. Não participa, olha de través, de soslaio. Não faz, esgueira-se sorrateiramente, à socapa. Nada realiza, opta por um posiciona-mento pretensamente sábio. Ele é bíblico, aquele que enterra os talentos dados pelo Senhor. Não conhece a ousadia de Prometeu. Antes de conquistar o fogo, antevê todos os perigos do Monte Cáucaso, a dureza das correntes, a dor do fígado redivivo, a inutilidade do sacrifício. Não nasceu para herói. Esconde-se nas sombras de cinzentas dúvidas. Desconhece a grandeza das ações, seu mundo é pequeno, mesquinho, ridículo, pífio.
O pessimista não participa de tentativa alguma: torce o nariz e avisa sobre o perigo, o desastre, a derrota. Ele não constrói catedrais, não funda cidades, não planta árvores, não cultiva rosas, não investe em cultura, lê pouco, escreve menos ainda, porque nada vale a pena. Para ele a vida foi um engano de Deus, um lapso no "fiat", um desastre casual. Jamais seria agricultor: ele desconfia da semente, atrai secas e inundações temporãs.
O pessimista tudo seca, mirra, tem olho gordo, põe azar, dá caguira, contamina à sua volta com urucubaca, dissemina a lepra do comodismo azedo, que sabe a bolor. Pessimista em estado terminal é niilista. Nada perde, pois não joga. Como a vida é complexa, guerra fria, briga de foice no escuro, cego perdido em tiroteio, fogo cruzado, cerrado, ressurreição dos mortos, eterno recomeço, o pessimista acerta sempre e se diz profeta. Simplesmente porque ele não vive, passa. Não compreende os audazes, os aventureiros, os heróis, os descobridores, os lutadores, os renitentes, os pertinazes. Ele tem essência de caranguejo e sua coroa de louros são sempre possíveis urubus que sobrevoam sua sorte. A alma do pessimista é como água: incolor, insípida e inodora.
Urge apenas evitá-lo. O pessimista é uma epidemia. Grassa e contamina. É inimigo mortal dos sonhos, do amor, da poesia, da esperança de novos tempos. É negativo, aziago, vivo perigo, uma receita mal feita, um pesadelo de Deus, um pé-atrás, um engano, uma falseta, um relacionamento não resolvido com a VIDA e com a FELICIDADE.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora
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