Tudo está na legalidade, o que só torna a realidade mais triste e desanimadora. Bruno não fugiu da cadeia à qual está condenado a 22 anos pela morte de Elisa Samudio. Cumpriu sete, quando então um representante da Justiça decidiu que ele devia esperar fora das grades enquanto não se julga seu recurso. Como se estivesse numa ópera bufa, Bruno deu entrevista do lado de cá dizendo que prisão perpétua para ele não traria a vida da vítima de volta.
No segundo ato desta desencantada realidade, que provoca a tentação de desacreditar definitivamente na Justiça, Bruno acaba de assinar contrato para jogar a Série B do Brasileirão com o Boa Esporte de Minas Gerais. Impensável, absurdo, bizarro, mas legal.
Sou muito a favor de uma segunda chance para quem cumpre toda sua pena e tenta se ressocializar. É nobre de parte do empresário que abre vaga para ex-apenados. No caso de Bruno, porém, sua pena não está cumprida. Saiu da cadeia depois de sete anos numa sentença original de 22 anos. Não terminou de pagar pelo crime abjeto no qual o júri o definiu como culpado. Tudo está em andamento.
A mãe de Elisa, numa tristeza infinita no olhar, mal conseguiu reagir quando viu Bruno solto. Agora, poderá vê-lo rodada a rodada na Série B do Brasileirão. O Boa Esporte parece estar disposto a criar um factoide, missão cumprida na ideia de chamar a atenção. Da pior forma, porém. Chocando pela iniquidade, pela desfaçatez.
O pior: tudo legal. Não há fugitivo ou foragido. Provisoriamente livre, Bruno pagou menos de um terço do castigo original que lhe foi destinado. Na lei. Na lei. Céus.
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