CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Tributo ao físico Jaime Tiomno (1920 - 2011)

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 20-12-2017 23:12 | 1784
Foto: Reprodução

Luiz Carlos Pais




Esta crônica retorna à história do Ginásio Paraisense, de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro, no contexto da década de 1920, quando o estabelecimento estava sob a direção do competente professor Tabajara Pedroso. O objetivo principal é destacar cenas da trajetória de um brilhante estudante que iniciou sua formação no referido ginásio, e que, posteriormente, deixou seu nome na história das ciências no Brasil. Natural do Rio de Janeiro, Jaime Tiomno nasceu a 16 de abril de 1920, no seio de uma grande família de comerciantes de ascendência judaica que emigrou da Rússia para o Brasil, no início do século XX. No quadro de florescimento econômico da cafeicultura do sudoeste mineiro, sua família fixou residência em São Sebastião do Paraíso, onde abriu casa comercial e residiu por vários anos.
Jaime Tiomno e seus irmãos Benjamim, Riva e Mirian estudaram no referido colégio. Seus nomes estão na revista O Tico-Tico, de 1928. Eram leitores frequentes da renomada publicação destinada ao público infantil, onde aparecem na lista de ganhadores de vários concursos de solução de charadas, quebra-cabeças e outras brincadeiras usuais naquele tempo para favorecer o desenvolvimento do raciocínio lógico. Foram essas experiências iniciais, de infância estimulada por leitura apropriada, que forjaram a base da futura formação intelectual de brilhante cientista.
Após realizar o curso primário e os estudos secundários até a 4ª série no Ginásio Paraisense, sua família voltou a morar no Rio de Janeiro, onde Jaime concluiu o curso ginasial no Colégio Pedro II. Em 1941, ingressou na Faculdade Medicina e, simultaneamente, também no curso de Física, na antiga Faculdade Nacional de Filosofia. Mas, logo abandonou o curso de Medicina, pois percebeu que sua verdadeira vocação era o estudo de Física, ciência que passou estudar com exclusividade, se tornando um renomado físico nuclear brasileiro. Ao concluir o curso de graduação, recebeu um bolsa para estudar nos Estados Unidos, onde recebeu o grau de Doutor em Física Teórica na Universidade de Princeton, defendendo uma brilhante tese, em 1950.
Ao retornar para o Brasil, foi contratado como professor do Centro Brasileiro de Pesquisa Física, no Rio de Janeiro, quando essa instituição estava nos seus primeiros anos de existência. Posteriormente, foi professor da Faculdade Nacional de Filosofia, onde trabalhou em parceria com o físico José Leite Lopes, esse casado com a professora Maria Laura Leite Lopes, primeira doutora brasileira em Matemática. Em consequência de sua expressiva produção científica, o professor Tiomno recebeu o prêmio Moinho Santista, em 1957, no valor de um milhão de cruzeiros, conferido em reconhecimento da importância de suas pesquisas.
Hoje, depois de meio século de sua principal fase de atuação na ciência, Jaime Tiomno deixou seu nome na história da primeira geração de físicos graduados no Brasil, e protagonistas das primeiras instituições brasileiras de pesquisa básica. Foi membro atuante da Sociedade Brasileira de Física e da Academia Brasileira de Ciência. O ilustre físico foi professor também na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Faleceu em 2011, aos 90 anos de idade, deixando sua brilhante trajetória na história da ciência brasileira, cujas primeiros passos foram acompanhados por lições proferidas no Ginásio Paraisense, no contexto da primeira metade do século XX.