2017 marcou a mudança de comando da Fórmula 1. Saiu Bernie Ecclestone e entrou o Liberty Media, grupo que comprou os direitos comerciais da categoria por 8,5 bilhões de dólares e decidiu por conta e risco afastar o ex-chefão que esteve a frente da Fórmula 1 por mais de quarenta anos.
A mudança de filosofia de trabalho logo foi sentida e o que se viu foi uma Fórmula 1 menos engessada e até mais humana em alguns aspectos.
A aproximação do público foi um dos alvos do Liberty Media, e cenas como a do garotinho francês Thomaz, de seis anos, flagrado das arquibancadas pelas câmeras de TV aos prantos com o abandono de Kimi Raikkonen na largada do GP da Espanha, e minutos depois levado por integrantes da Ferrari até os boxes para um encontro com o piloto não seria viável até o ano passado.
As transmissões de TV ganharam mais ênfase, principalmente com as entrevistas dos três primeiros colocados no treino de sábado falando próximo ao público das arquibancadas e ao vivo para as TVs ainda no calor da disputa. O ponto máximo aconteceu no Canadá quando Lewis Hamilton igualou as 65 pole positions de Ayrton Senna e ganhou da família do brasileiro um capacete igual do de Senna. Momento de emoção que levou Hamilton as lágrimas abraçado à peça como se fosse um troféu. Houve também maior abertura da Fórmula 1 na internet e os pilotos tiveram mais liberdade para postar vídeos em suas redes sociais.
Mas a maior prova de mudança de conceito foi a permissão concedida a Fernando Alonso em se ausentar do GP de Mônaco, e a McLaren inscrever um carro para que o espanhol corresse as 500 Milhas de Indianá-polis, algo que seria impensável no modus operandi de Ecclestone.
Alonso que, aliás, teve atitude corajosa em mergulhar de cabeça num universo totalmente desconhecido para ele. Por mais que tivesse toda uma estrutura bem montada e planejada para sua estreia em circuito oval, o espanhol se classificou em 5º lugar para no grid e andou o tempo todo entre os primeiros colocados na disputa pela vitória até o motor quebrar a poucas voltas do final quando eram grandes as chances de vencer a corrida.
Porém, o que os homens do Liberty Media, Chase Carey (diretor executivo), Sean Bratches (diretor comercial) e Ross Brawn (diretor técnico) têm pela frente é um desafio que vai muito além de aproximar a categoria do público: tornar a Fórmula 1 mais igualitária. E os problemas começaram já nas primeiras conversas com os chefes de equipes em simplificar o complexo mecanismo de funcionamento dos atuais motores V6 turbo híbridos para barateá-los a partir de 2021 como objetivo de atrair novos fornecedores de motores.
Outra questão – e esta promete ser mais traumática – será as negociações por uma nova distribuição de lucros entre as equipes e a implantação de um teto orçamentário, totalmente distintos do sistema atual implantado por Ecclestone que paga muito a quem já tem, e pouco a quem tem menos recursos financeiros, obedecendo a classificação do Mundial de Construtores. O problema será convencer os chefes de Ferrari, Mercedes e Red Bull aceitar a hipótese de uma equipe pequena vencer corridas graças aos investimentos de parte do dinheiro que foi tirado das grandes.
Não será tarefa fácil e a Ferrari que além dos valores que recebe pela classificação no campeonato de construtores, ainda tem uma polpuda verba extra por ser a única equipe presente em todos os mundiais desde 1950, já ameaça deixar a Fórmula 1 se o Liberty Media levar adiante as tentativas de mudanças que planeja para os próximos anos. Assuntos que vão render bons capítulos daqui pra frente.
Feliz 2018 a todos!