POLE POSITION

Gol da Rússia

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 20-01-2018 16:01 | 6439
Sergey Sirotkin (D) e Lance Stroll (E) são os pilotos da Williams em 2018
Sergey Sirotkin (D) e Lance Stroll (E) são os pilotos da Williams em 2018 Foto: Divulgação / Williams

Mesmo com o fracassado projeto do carro da Williams do ano passado, perdendo terreno para a Force India no Mundial de Construtores pela segunda vez seguida, e se mantendo apenas como a quinta força do campeonato porque a Renault demorou a engrenar, e a McLaren penou o motor Honda, tudo caminhava naturalmente para uma renovação do contrato de Felipe Massa sem maiores dramas. Claire Williams, filha do dono e diretora da equipe, disse em julho: “não vejo por que não renovar o seu contrato”. Esse era o cenário até o GP da Inglaterra em que Massa terminou em 10º, duas corridas depois de quase ter vencido o GP do Azerbaijão, não fosse um problema na suspensão da Williams.
Mas aí veio o final de semana do GP da Hungria, e Massa sentiu-se mal e não teve condições de correr. A Williams chamou de última hora seu piloto reserva, Paul di Resta, que estava na Hungria mais como comentarista de TV do que preparado para correr. Largou em último e abandonou a poucas voltas do fim, o que para a equipe foi considerado bom trabalho dado o tempo que o escocês não guiava um carro de Fórmula 1 – ele sequer conhecia o FW40.
Estranhei que a partir daí começaram a pipocar rumores de que a vaga de Massa para 2018 não estava mais tão segura quanto parecia. Não que o problema de saúde que ele enfrentou antes da parada para as férias de verão – uma vertigem postural – fosse motivo para a mudança de planos da Williams, mas, sim, a ‘deixa’ que alguns de seus dirigentes queriam. E com base na atuação de Paul di Resta, ainda que pareça medíocre aos olhos de quem vê apenas os resultados na pista, parte dos dirigentes da equipe vislumbrou a possibilidade de substituir o brasileiro por outro piloto que levasse dinheiro para o time. Massa era um piloto caro para a Williams que perdeu dois patrocinadores, além dos descontos dos motores Mercedes pela liberação de Bottas no final de 2016, e agora terá menos investimento da família de Lance Stroll. A previsão indicava redução de 30% do orçamento para esta temporada.
Nesse ínterim, a Toro Rosso fechou acordo com a Honda, rescindiu contrato com a Renault, e liberou o espanhol Carlos Sainz Jr., antigo desejo dos franceses que o abraçou e pôs fim às conversas e testes com o polonês Robert Kubica que tentava voltar à Fórmula 1, afastado desde 2011 quando sofreu um terrível acidente em prova de rali, na Itália, que o deixou com severas sequelas no braço direito – ele tem apenas 30% dos movimentos da mão direita.
Kubica então se candidatou e virou favorito à condição de companheiro de Lance Stroll. A Williams criou uma lista de candidatos e promoveu uma espécie de vestibular para escolher o substituto de Felipe Massa que a essa altura, prevendo que suas chances de continuar eram remotas, decidiu se aposentar de vez.
A Williams manteve o suspense até a última terça-feira para anunciar que o russo, Sergey Sirotkin – e não Robert Kubica – será o substituto de Massa. Uma decisão surpreendente, embora nos últimos dias já se sabia da escolha. A alegação foi que o retorno técnico de Sirotkin foi melhor que o de Kubica, mas no frigir dos ovos foi o aporte financeiro do russo, cerca de US$ 20 milhões, bem maior que a oferta de Kubica, que prevaleceu.
O consolo foi que o polonês – sonho de muitos em vê-lo de volta à Fórmula 1 – não saiu com uma mão na frente e outra atrás. Kubica será piloto reserva da Williams e trabalhará em simulador no desenvolvimento do carro deste ano.
Com Lance Stroll (19 anos), e Sergey Sirotkin (22), a Williams terá a dupla de pilotos mais jovem e menos experiente do campeonato. Por outro lado, em ano de Copa do Mundo na terra de Vladimir Putin, a Rússia marcou um golaço em ter novamente um piloto titular na Fórmula 1 depois que Daniil Kvyat foi dispensado da Toro Rosso, no ano passado, e será reserva da Ferrari este ano. 
E no desfecho dessa novela, uma pulga atrás da minha orelha insiste em me dizer que, apesar da importância de a Williams recompor o seu orçamento, não fosse a tal da vertigem postural de Felipe no final de semana do GP da Hungria, essa história poderia ter tido outro final; feliz para ele, Massa.