Esta crônica retorna aos idos de 1910, quando houve a “Campanha Civilista”, movimento ocorrido nas eleições à Presidência da República, de apoio à candidatura do jurista Rui Barbosa, para a presidência, e do político paulista Albuquerque Lins para a vice-presidência. As eleições foram realizadas em 1º de março do referido ano, quando foi eleito o Marechal Hermes da Fonseca, fundador do Partido Republicano Conservador, com amplo apoio de Minas. No mesmo pleito, Wenceslau Braz foi eleito vice-presidente e, quatro anos depois, seria eleito Presidente.
Os defensores da candidatura oposicionista de Rui Barbosa adotaram o termo “civilista”, no sentido de defender a eleição de um civil e não de um militar, como o era o caso do Marechal Hermes da Fonseca, vencedor do pleito. Desse modo, o ilustre jurista baiano enfrentou, sem sucesso, as articulações entre mineiros e paulistas, e mesmo assim não se intimidou em percorrer várias cidades do Brasil, participando de comícios e fazendo seus discursos, tentando conquistar apoio popular, o que lhe faltava.
Esse quadro foi o início de um pálido despertar para a importância de conquistar o voto de maioria da população, sem esquecer, que naquele tempo ainda predominava o “voto de cabresto”. O eleitor era obrigado a pronunciar, publicamente, o seu voto, por vezes, constrangido pela presença de capangas armados a serviço dos coroneis e líderes políticos regionais.
Os líderes do movimento diziam que a campanha civilista era conduzida por princípios democráticos, visando a participação livre do povo na escolha do Presidente e demais cargos eletivos. Estava em pauta o rompimento com as heranças do passado, quando predominava o mandonismo e o poder dos coroneis. Por outro lado, prevalecia o Pacto de Ouro Fino, popularmente, chamado também de política do café com leite, que consistia na alternância mineiros e paulistas na Presidência da República.
Registros da época mostram que alguns políticos enviavam para os jornais das grandes cidades, cartas narrando o que consideravam ser os eventos mais importantes da cidade, esclarecendo que não havia, no importante polo cafeeiro de Minas, sinal expressivo de apoio organizado aos civilistas. Entretanto, alguns cidadãos visitavam à cidade, divulgando as propostas de Rui Barbosa. Tema esse descrito pelo escritor José de Souza Soares, ao tratar do embate político no contexto da campanha civilista.
Os políticos conservadores acusavam os civilistas de plantarem notícias falsas, supostamente enviadas do interior por correspondentes oposicionistas. Nesse contexto, jornais de Belo Horizonte noticiaram a realização de um suposto comício ocorrido em São Sebastião do Paraíso, em homenagem ao conselheiro Rui Barbosa, mas com a ressalva de que organizadores eram “vozes dissonantes” em relação à linha política principal. Por outro lado, a ocorrência desse comício foi desmentida pelo deputado Campos do Amaral, declarando que os supostos oradores nem mesmo residiam em São Sebastião do Paraíso.
Foi divulgado também que em São Tomás de Aquino, Peixotos e Pratinha, havia apoio unânime à candidatura de Hermes da Fonseca e Wenceslau Braz. No acirrado clima da época, a imprensa nacional vinculada aos civilistas, acusava o então presidente de Minas, Wenceslau Braz, de enviar de forças policiais especiais para inibir o avanço dos apoiadores de Rui Barbosa. Para finalizar, cumpre observar que o jornal O País, do Rio, em 24 de janeiro de 1910, publicou que havia em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, um pequeno movimento em favor da campanha civilista.