CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Um artigo do Monsenhor Felipe – Parte 1

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 29-01-2018 10:01 | 3670
Dolores Pimenta de Pádua em 1937
Dolores Pimenta de Pádua em 1937 Foto: Reprodução

O objetivo desta crônica é recuperar e inserir em registros digitais um belíssimo texto literário de autoria do saudoso Monsenhor José Felipe da Silveira, pároco de São Sebastião do Paraíso, por 25 anos, entre 1914 a 1939. Trata-se de um artigo publicado na imprensa da cidade, em 1936, retratando os momentos que precederam a instalação dos três grandes sinos na nova torre da Igreja, cuja história transcende a materialidade do bronze em si mesmo. Permite aproximar um pouco mais da história vivenciada pelos antepassados que protagonizaram os diferentes pilares de desenvolvimento social e econômico da São Sebastião do Paraíso, da primeira metade do século XX. 
No mesmo contexto de publicação do artigo, ocorreu o desabamento da torre, que estava sendo construída, pois não suportou o peso aproximado de cinco toneladas dos três sinos, mencionados por cronistas locais como “os maiores existentes do Brasil” e que tanto orgulho trouxe à sociedade paraisense. Esse é o tema do artigo do saudoso Monsenhor que deixou seu nome na história local, pelos relevantes serviços prestados à comunidade, de modo geral. O texto foi publicado na imprensa da época e, depois, foi  inserido no livro de autoria do ilustre advogado José de Souza Soares, de 1945. Assim se expressou o Monsenhor Felipe:
“Já se acham, finalmente, erguidos no alto do novo e monumental campanário, os belos sinos com que a munificência de Dona Dolores Pimenta Marussig enriqueceu, sobremaneira, o patrimônio artístico de sua terra natal. Essa ilustre senhora, com esse nobre gesto, contribui para mais um passo, largo e decisivo, nas vias do progresso local, marcando, assim, uma nova era para os destinos de São Sebastião do Paraíso. Ela nos obrigou, não apenas a erigirmos um campanário digno desses bronzes, notáveis, mas a construirmos em futuro próximo, talvez em continuação às obras preeminentes, um tempo ainda mais grandioso do que a atual Matriz, aliás, uma das mais belas Igrejas do Sul de Minas. Descortinou, também, horizontes novos para grandes empreendimentos de que esse futuro templo será auspicioso início. E assim é realmente. 
O povo já está sentido essa necessidade e se dispõe a maiores sacrifícios, convencido de que, apesar do muito que já se tem feito, a obra não pode e não deve pesar na finalização da majestosa torre. Todos entendem que precisamos caminhar com entusiasmo e constância até a completa reconstrução de toda a Igreja. Essa generosa atitude não nos causa surpresa, pois os sentimentos religiosos desta cidade, profundos e sinceros, andam sempre em harmonia com as exigências do progresso geral. 
Uma cidade como a nossa em que, além das grandes fortunas particulares, se pode contar com os auxílios mais modestos e as ofertas anônimas de um grande número de pessoas, não deve temer qualquer empreendimento de vulto. Os fatos vêm provando que, dada a ocasião, o dinheiro surge de toda parte e com abundância. É o que menos nos falta. O que nos falta ainda é uma união mais íntima, cordial e inteligente, para construirmos coisas mais sólidas, tendo em vista o bem geral, a felicidade de todos os componentes do convívio social. Falta-nos cultivar e manter bem alta a largueza de vistas necessária a um trabalho metódico e fecundo, para o adiantamento material e moral do município.
Enquanto estivermos divididos por diferenças indignas da nobreza de espírito, e dos destinos cristãos de nossas almas, só podemos esperar o desmoronamento do que já se fez e a ruína de todos os sentimentos que constituem a beleza da vida humana. Fala-se muito em progresso, democracia, civilização. Isso tudo é utopia, sem as bases cristãs, as únicas que demonstraram, através dos séculos, serem o mais sólido sustentáculo da virtude e da verdadeira fraternidade”. 
(continua...)