O primeiro jornal impresso em São Tomás de Aquino, quando essa cidade do Sudoeste Mineiro ainda tinha o estatuto de distrito de São Sebastião do Paraíso, foi O Aquinense, lançado no dia 12 de outubro de 1908. Vale a pena vivenciar esse retorno de 110 anos para aprender um pouco mais sobre a verdadeira paixão pela terra natal de cidadãos idealistas, honrados e que deixaram seus nomes na história regional. Antes de tudo, foram protagonistas da história social e tudo fizeram para participar do desafio de ampliar as bases culturais dos povoados, arraiais, distritos, do interior dos interiores, distantes de quase tudo e tão próximo da nossa existência.
O referido jornal nasceu de um projeto compartilhado por Hercílio Amaral e pelo então jovem farmacêutico Amadeu do Amaral Brigagão, primogênito do médico Placidino Brigagão. Antes de se formar na Escola de Farmácia de Odontologia de São Sebastião do Paraíso, Amadeu Brigagão fixou residência em São Tomás de Aquino, na plenitude dos seus 19 anos, para administrar a Farmácia Popular, a princípio, de propriedade de Luiz Pimenta de Pádua do médico Placidino Brigagão. Posteriormente, Hercílio e Amadeu lançaram outro jornal, intitulado O Distrito, mas que pertence a outro momento histórico, quando estava em curso a emancipação da localidade para a criação do município de São Tomás de Aquino.
O Aquinense era impresso numa velha máquina tipográfica antiga, manual, que clamava por aposentadoria, depois de ter sido usada vários anos na vizinha cidade de Passos. Essa mesma máquina serviu para imprimir A Voz do Paraíso, primeiro jornal de São Sebastiao do Paraíso, de propriedade de Antônio Simplício da Costa, lançado em 30 de maio de 1901. Sete anos depois, a velha máquina pertencia a Antônio Campos do Amaral, que a emprestou para possibilitar o nascimento da imprensa em São Tomás de Aquino. A máquina funcionava com muita dificuldade, com peças gastas e mecanismo já ultrapassado. Mas, graças à habilidade de um experiente tipógrafo, chamado Mário Afonso Lauro, o primeiro a exercer o ofício na localidade, foi o recurso possível para lançar o jornal pioneiro.
Essas saudosas lembranças, raízes profundas da história regional, foram escritas pelo literato e farmacêutico Amadeu do Amaral Brigagão, em seu livro de memórias, que foi publicado, após o seu falecimento. O pequeno jornal não teve longa trajetória, mas deixou seu título inscrito numa época de glória que viu nascer o século XX. Os antigos equipamentos da tipografia manual não permitiam a realização de outros serviços avulsos de impressão, para que pudesse auxiliar nas despesas, por isso o jornal não teve muito futuro. Deixou de circular, causando tristeza nos moradores do distrito, dos velhos tempos, quando todas as manhãs de domingo era ansiosamente esperado, reunindo as novidades políticas, textos literários, anúncios das festas sociais, religiosas e culturais. A todos os cidadãos mencionados nesta crônica, presentes na memória paraisense e aquinense, nossas reverências em nome da história.