Não era legal para a Fórmula 1 ter uma McLaren, de tanta tradição, de tantas vitórias e títulos, amargando as últimas posições do grid, e quando muito somando algumas migalhas de pontos de um final de semana (bom) em que um de seus pilotos conseguia receber a bandeira quadriculada. Foi assim nos últimos três anos de parceria com a Honda.
A McLaren não ganha uma corrida desde 2012, com Jenson Button. Não vence um campeonato de Construtores desde 1998. E não faz um piloto campeão desde o primeiro título de Lewis Hamilton, em 2008.
Olhando por esse lado não dá para culpar só a Honda pelo fracasso desde que as duas partes firmaram a recente parceria que durou de 2015 até o final do ano passado.
Por mais que os japoneses tenham falhado com os motores, a McLaren, embora jamais tivesse admitido, também teve sua parcela de culpa pela falta de resultados.
Fernando Alonso, um dos pilares do divórcio "McLaren-Honda", não cansou de dizer que se a equipe tivesse um motor melhor que o Honda, "estaria ganhando corridas". Mas quando a Fórmula 1 foi a Mônaco, onde o chassi tem mais influência que a força do motor, Jenson Button que substituiu o espanhol que foi correr as 500 Milhas de Indianápolis, e Stoffel Vandoorne largaram em 9º e 10º, respectivamente, e abandonaram a corrida - não por quebra da Honda. E na Hungria, outra pista com características parecidas com as de Mônaco, Alonso terminou em 6º e fez a volta mais rápida. Pouco para quem falava ter um dos melhores chassis do campeonato.
A McLaren tenta entrar novamente nos trilhos, agora com a Renault. O novo MLC33 é o carro que mais sofreu alterações de ordem técnica desde o ano passado para o encaixe das "unidades de potência" da Renault, mesmo sem o departamento técnico projetar um carro revolucionário sob o risco de nascer errado e aumentar ainda mais os problemas da equipe.
O MLC33 é de todos os novos modelos, o que carrega menos apêndices aerodinâmicos, sinal de que, apesar da aparente simplicidade, é um carro que passa a impressão de ser eficiente aerodinamicamente, mesmo com a introdução do controverso halo, arco que envolve o cockpit para aumentar a proteção para a cabeça dos pilotos, obrigatório em todos os carros deste ano.
No primeiro contato com o carro nos testes de pré-temporada, nesta semana, na gelada Barcelona, o mesmo Alonso, demonstrando muita confiança, disse que "os bons tempos estão chegando".
O carro agora é todo laranja papaia, que remete à cor oficial da equipe fundada em 1966 pelo neozelandês Bruce McLaren. Mas falta um patrocinador máster, capaz de aumentar o orçamento da equipe para nivelar-se ao das grandes. Apesar de dispor de um bom orçamento, cerca de 170 milhões de euros, ainda é muito pouco diante dos cerca de 270 milhões de euros que Mercedes, Ferrari e Red Bull dispõem. O fim da parceria com a Honda representou uma redução de algo em torno de 70 milhões de euros que os japoneses investiam na equipe.
Mas pode ser que a essa altura, Zak Brown, diretor da McLaren, possa estar também torcendo o nariz não só por agora ser equipe "cliente da Renault", mas observando o progresso que a Honda está tendo com a Toro Rosso neste começo de pré-temporada. Esse progresso começou a ser sentido timidamente após o anúncio do fim da parceria com a McLaren no ano passado, mas verdade é que, apesar das complicadas condições climáticas que as equipes enfrentaram em Barcelona, o motor Honda percorreu importantes 1.511,46km de distância e sem apresentar nenhuma falha técnica, levando a Toro Rosso a ser a equipe que mais andou na primeira semana de testes. É outra grande notícia para a Fórmula 1 e que da mesma forma vale a torcida para que a montadora japonesa também reencontre o seu caminho.