Professores da rede estadual de ensino estiveram em sessão da Câmara Municipal de segunda-feira (12/3) para falar sobre os motivos que tem levado à categoria a aderir à greve. Os professores César Cardoso de Souza Neto e Saulo Gutierrez ocuparam a tribuna para expor a situação e pedir apoio aos vereadores na luta da categoria. Ambos citaram, entre as principais reivindicações, que seja cumprido pelo Governo do Estado de Minas Gerais o pagamento do piso salarial da categoria, acordado em lei em 2015.
"Eu acredito que a maioria dos senhores deve saber, especialmente o presidente desta Casa, que é professor, o nosso salário vem subdivido e nós recebemos o 13º todo fatiado. Ainda, existe uma série de vantagens que nos foi retirado por outros governos e que neste, ao tomar posse, reestruturou a nossa carreira e nos devolveu aquilo que nos havia sido retirado, porém, com uma promessa: nós temos direito aos quinquênios e a progressão de carreira, mas não estamos recebendo", lamentou.
Durante sua fala, César destacou a importância do papel dos vereadores e ressaltou a dificuldade de acesso da categoria aos representantes estaduais, sendo os vereadores um caminho para legitimar as reivindicações dos professores do Estado. "Nós construímos com educação uma cidade melhor e esperamos que um estado e um país também. Os senhores são os nossos representes e cada uma de vocês tem vínculos com deputados e este é o mais certo para nós, de virmos pedir a vossas excelências que falem com os deputados, necessitamos da ajuda de vocês", disse.
O professor destacou ainda que o movimento não tem ligações partidárias, mas que a categoria precisa da união de todos os grupos políticos do estado. "Como dizia Rui Barbosa, um país de faz com homens e livros. Nós temos os livros, estamos tentando construir os novos homens e se fizermos uma enquete sobre qual carreira o aluno quer seguir, é muito dolorosa a resposta, ninguém quer ser professor. Nossa carreira está se esvaindo, a nós nos resta lutar por um país melhor, por dignidade. Não estamos aqui pedindo aumento, prerrogativas ou privilégios, estamos aqui para que possamos receber aquilo que é justo", destacou.
César destacou que única forma da categoria ser ouvida é paralisando as suas atividades. Ele disse ainda que os professores são ouvidos pelos alunos, mas que é que preciso também ser ouvidos pelos pais, pela sociedade e, de uma maneira muito especial, pelos políticos. Disse também que já estiveram em outras oportunidades na Casa e que foram atendidos, esperando, assim, que mais uma vez, possam contar com o apoio dos vereadores.
"É por isso que viemos a esta Casa, confiando na atuação de vossas excelências, como já atuaram anteriormente e muito nos favoreceram, e viemos uma vez mais expor o que queremos, que é o pouco que temos, mas o muito que podemos fazer: construir um país onde as pessoas tenham orgulho da sua cidadania e aqui é a Casa da cidadania, do cidadão, ainda que muitos não tenham consciência plena disto. Aqui é a casa do cidadão", ressaltou.
Finalizando o professor destacou a influência dos vereadores sobre o eleitorado da cidade, dos quais muitos são pais de alunos. "É isso o que viemos pedir, que quando os deputados vierem com propostas, ou mesmo conversar com os senhores, lembre-se dos seus antigos professores, de nós. Pouco adianta ganhamos nomes de rua, placas ou homenagens, muito adianta que possamos ter condições de que nossos alunos nos admirem, nos respeito e que um dia sonhem, como eu já o fiz, de tomarem a carreira da magistério", completou.
Professor Saulo expôs alguns dados sobre a situação salarial da categoria. Conforme ele, em 2017 o vencimento de um professor, já com uma política de abono no que diz respeito à equiparação salarial com o piso da categoria era bruto R$ 1.982,54 e liquido R$ 1,4 mil para um cargo de 24h na escola. "Em 2017 foi previsto reajuste de 7,64%, o que representaria R$ 151 no ganho deste professor. O governo do Estado não assinou lei que decretasse o reajuste desse piso, o salário ficaria em R$ 2.134,00. O governo deixou de pagar ao longo de um ano R$ 1.968,00, ou seja, o salário de um mês de um professor", destacou.
Disse também os valores que deixaram de ser pagos, que somados para aqueles que tem mais de um cargo, ficaria em torno de R$ 5.930. "Essa não é uma perda apenas do nosso salário, mas também da sociedade e do comércio que deixou de ver um público consumidor crescer. Viemos aqui pedir através da Casa, para que possa conversar com seus aliados na ALMG para que eles pressionem o governo a cumprir a lei. O que estamos pedindo é que se cumpra a lei", completou.
Vereadores se manifestaram sobre a situação, ressaltando a importância da categoria e que farão o possível para conseguir atender a demanda levada até a Casa. O presidente Marcelo de Morais, disse que encaminharia ofício expondo a situação não apenas aos deputados da região, mas a todos da ALMG. Marcelo também falou dos desafios que é ser professor, tendo em vista, segundo ele, o desrespeito que há com o profissional da educação.
"Ser professor não é apenas cumprir uma carga horária de 24 horas semanais, módulos e reuniões, além de outras questões. Ser professor está muito além disso tudo. Está num patamar de querer resolver todos os problemas e ainda fazer o possível para manter uma escola funcionando. Isso tudo para que quando ele buscar lutar para que seja cumprido um acordo, o pai e a mãe o critique, e na sua maioria não porque o professor está lutando pelo seu direito, mas porque não aguentam o próprio filho dentro de casa. Não há participação dos pais na formação desse aluno e como exigir um escola de qualidade se falta isto", questionou.
Por fim, Marcelo convidou a categoria a retornar à Câmara para participar da construção de um documento a fim de encaminhar aos representantes políticos e do Governo do Estado. "Mesmo que não tenhamos resposta, eles têm que entender que em São Sebastião do Paraíso não tem professor omisso", completou.
PARALISAÇÃO
A paralisação foi decidida em assembleia da categoria na última semana e, além de reivindicação de cumprimento do piso, também pedem o fim do parcelamento dos salários e do 13º, cumprimento dos acordos assinados em 2015 e atendimento de qualidade pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg). Nova assembleia da categoria está prevista para esta quinta-feira (15/3), quando serão decididos os rumos da paralisação.