CRÔNICA HISTÓRICA DA REGIÃO

Elementos históricos de Jacuí de 1883

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 21-03-2018 10:03 | 8363
Foto: Reprodução

 




Nos últimos anos do Império, circulou em Pouso Alegre, Sul de Minas, o jornal “Livro do Povo”, anunciado como literário, comercial e noticioso, sob a direção de José Inácio Brandão e propriedade de Luiz José de Almeida Queiroz. Em 18 de novembro de 1883, esse jornal publicou uma crônica sobre eventos políticos e sociais de Jacuí, no Sudoeste Mineiro, assinada por um morador local, que usava o pseudônimo de Larima. Para registrar elementos da história regional, transcrevemos abaixo um extrato desse texto jornalístico.
“Jacuí, 29 de outubro de 1883. Sem costume de escrever para o público, pela falta de prática daqueles que habitam estas paragens, contudo vou cumprir a promessa que contrai, dando-vos mensalmente notícias deste município que pouco ou nada interessará aos seus leitores, pelo estilo chão do correspondente.
Está realizada a aspiração geral dos habitantes desta vila, com a criação e instalação do foro civil, devido aos incessantes esforços do incansável e ilustrado Dr. Silviano Brandão, que persistiu até que fossem realizados os seus desejos. Foi um ato de inteira justiça, atento que este lugar, por todos os títulos, merece a sua autonomia.
A uberdade de seus territórios, o excelente clima e a índole pacífica de seus habitantes tornam este lugar verdadeiramente habitável, apesar de ser a vila pequena, devido aos fazendeiros que, em grande número, não investem em construções de casas, o que daria ao lugar a verdadeira importância. O plantio de café é realizado em grande escala, devido às férteis terras e vontade dos agricultores empenhados na expansão das lavouras. Por esse motivo, esta vila tem recebido alguns novos moradores, uns atraídos pelo seu comércio promissor e outros para os misteres do foro.
Na vila de Jacuí passa a estrada que segue de Passos para Casa Branca e por esse motivo é grande o comércio e espera-se que o mesmo se torne invejável, quando estiverem totalmente formados os novos cafezais. Pertencem ao município a freguesia de São Pedro da União, grande em seu território, porém pouco populosa e a importante freguesia de Monte Santo, que dista da sede seis léguas. Essa última localidade é um empório comercial e a plantação de café é grande, entre as várias propriedades rurais destaca-se a Fazenda Cruzeiro, do prestante e inteligente tenente coronel Vicente Ferreira Carvalhaes.
Aproxima-se a quadra eleitoral para a assembleia provincial. Quatro são os candidatos, sendo dois de cada partido político. Segundo tenho ouvido, pelas influências locais, me parece que nesta vila os votos liberais serão igualmente distribuídos entre o Dr. Américo Luz e o advogado Navarro. Por parte dos conservadores, também receberão votos os senhores Evaristo Norberto e o advogado Prisciliano. 
É bastante sensível a falta de uma agência de correio neste lugar, que apesar de já ter sido criada, ainda não foi nomeado o responsável. Para receber a correspondência, a população é obrigada a pagar um estafeta particular que vai buscá-la em São Sebastião do Paraíso, distante daqui cinco léguas.
Fui informado que o partido liberal de São Sebastião do Paraíso, Monte Santo e desta vila coletam assinaturas de um manifesto que será enviado ao Dr. Silviano Bran-dão, representante do 12º distrito eleitoral. Sua excelência conta nesses lugares com muitas adesões, não só pelo seu caráter político, mas também pelas simpatias de que é digno. Se ainda aqui estiver no fim do futuro mês, enviarei a minha segunda missiva”.