Olhando o resultado puro e simples do GP da Austrália, é fácil dizer que Sebastian Vettel venceu só na base da sorte. Mas na prática não foi só isso. Olhando também o lado técnico, a Ferrari deu um nó estratégico na Mercedes.
Tudo começou na 19ª volta com a parada de Kimi Raikkonen que ocupava a segunda posição, 3s3 atrás de Hamilton. Kimi trocou os pneus hipermacios pelos de composto macio e voltou em 3º, atrás de Vettel. A Mercedes logo chamou o líder, Hamilton, para os boxes para evitar o chamado “undercut” do finlandês, que é quando o piloto de trás antecipa o pit stop para, com pneus novos, tentar ganhar a posição na parada do que vai à frente.
Com a parada de Hamilton que usou também da mesma estratégia de pneus de Raikkonen, Vettel assumiu a liderança e decidiu manter-se na pista por muito mais tempo. Seu rendimento ainda era bom com os pneus hipermacios desde a largada, o que prova que Hamilton poderia ter ficado mais tempo na pista, mas acabou mordendo a isca da Ferrari. Mesmo assim, a diferença de Vettel para Hamilton que retornou à frente de Raikkonen, era de pouco mais de 12s, e seria difícil para o alemão trocar os pneus e voltar na frente da Mercedes do inglês.
Foi aí que entrou o fator sorte. Primeiro com a falta dela no caso da Haas com problemas no pit stop de seus dois pilotos. Kevin Magnussen era o 4º colocado quando deixou os boxes com uma das rodas mal fixadas e parou na pista. Na sequência o outro carro do time norte-americano, de Romain Grosjean, também parou em local perigoso pelo mesmo motivo e provocou a intervenção do Safety Car, primeiro o virtual e depois a presença física do carro de segurança na pista.
Era tudo que Vettel sonhava para fazer sua parada, substituir os pneus hipermacios pelos macios, e retornar à frente de Hamilton.
Daí em diante mudou o panorama da prova, e numa pista difícil de ultrapassar, Hamilton bem que tentou, mas não conseguiu recuperar a liderança. No primeiro duelo dos tetracampeões, deu Vettel. Uma vitória de certa forma surpreendente já que o favoritismo era todo da Mercedes desde o início dos trabalhos nos treinos livres da sexta-feira.
Me chamou atenção no sábado o fato de Vettel se mostrar bastante tranquilo depois da classificação mesmo sendo 0s674 mais lento que Hamilton. O alemão parecia seguro de que o modelo SF71H da Ferrari teria bom ritmo na corrida. E de fato Hamilton não conseguiu abrir o “boqueirão” que se esperava depois do grande desempenho no treino que lhe deu a pole position.
Pode até ser que a vantagem da Mercedes não seja tão grande como se esperava. E pode ser que a Ferrari não esteja mais para a Red Bull do que para a própria Mercedes como se desenhou na sexta e no sábado na Austrália. Para essas conclusões será necessário observar mais duas ou três corridas. A próxima será no Bahrein, dia 8 de abril, aí sim, numa pista permanente, diferente das particularidades do traçado de rua do Circuito Albert Park.
Pecado o que aconteceu com os carros da Haas que surpreendeu nos treinos com Kevin Magnussen e Romain Grosjean largando entre os 10 primeiros do grid e na corrida era real a chance dos dois terminarem top 5. Mas duas falhas bizarras tirou-os da prova pelo mesmo motivo (roda mal fixada), o que resultou em multa de 10 mil euros para a equipe. Tão bizarro foi também o prematuro abandono do estreante Sergey Sirotkin por uma embalagem de sanduiche que se instalou e superaqueceu os freios da Williams ainda nas primeiras voltas.
E o halo? Que coisa horrível! Por mais que a gente sabia que os carros ficariam esquisitos com a peça que envolve o cockpit, ele causou repudio em muita gente. E vamos ter que acostumar até que outra solução mais interessante seja encontrada.