A partir da inauguração da estação da Estrada de Ferro São Paulo e Minas, em 1911, e da Mogiana, em 1914, São Sebastião do Paraíso iniciou um período de progresso, como polo de progresso no Sudoeste Mineiro. Houve uma expansão no comércio decorrente da economia rural, baseada na cafeicultura, abertura de casas bancárias, empresas de seguro e agências de compra de café para a exportação. A importância das companhias ferroviárias começou a conferir certos “poderes” aos seus superintendentes, inclusive gerando alguns episódios de conflito com os coroneis locais.
Algumas divergências motivaram artigos publicados em jornais de circulação nacional. Em agosto de 1919, houve uma tentativa de assalto a um trem da São Paulo e Minas, carregando malotes de dinheiro para pagamentos de funcionários da empresa. Esse evento ocorreu, nas imediações da Fazenda do Sapé, propriedade do coronel José Honório Vieira. O traçado da ferroviária foi definido, incluindo uma estação na grande fazenda para o embarque de sua expressiva produção de café. Mas, em diferentes momentos a empresa interrompeu a parada do trem nessa estação, gerando conflitos com o abastado produtor rural.
No episódio do assalto, um grupo de homens armados não conseguiu entrar no trem. Ao perceber que havia alguma coisa de errado, o maquinista parou a composição, ao avistar dormentes colocados sobre os trilhos para obstruir a passagem. De imediato, iniciou o retorno à estação de Paraíso. O superintendente telegrafou ao chefe de polícia em Belo Horizonte, relatando os fatos e pedindo providências urgentes, alegando que o delegado se recusou a perseguir os bandidos. Em paralelo, existe outra vertente a respeito desse episódio, com conotações políticas.
Chefes políticos locais consideraram abusivo o telegrama passado pelo chefe da estação. Admitiram que ele conseguiu iludir a boa-fé de correspondentes de jornais de Ribeirão Preto, que divulgaram o ocorrido no cenário nacional. Assim, entrou em cena o Jornal do Povo, histórico título a imprensa paraisen-se, que publicou, em 24 de agosto de 1919, sua versão do que chamou “a verdade dos fatos”. A íntegra dessa matéria foi transcrita no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, de 31 de agosto de 1919.
O jornalista paraisense acusou o chefe da ferrovia de estar falseando o ocorrido, pelo “simples fato” de algumas pessoas armadas pretenderem parar o trem para solicitar o transporte até a próxima estação. Afirmou que era público e notório o costume do trem parar em qualquer ponto da linha, onde houvesse passageiros sinalizando embarque. Nesse sentido, explicou que não teria ocorrido nenhuma tentativa de assalto, gerando as notícias falsas publicadas em jornais paulistas de grande circulação.
A seguir, transcrevemos parte do artigo publicado no Jornal do Povo: “O coronel José Honório Vieira, que o chefe de polícia de Belo Horizonte deve conhecer muito bem, não só pela sua posição na política do município e também por ser um dos maiores produtores de café de Minas Gerais, pelo seu passado honesto, digno e honrado, não consente, como nunca consentiu, que a sua fazenda seja lugar para acoitar bandoleiros, como levianamente telegrafaram aos correspondentes dos jornais de São Paulo. Existe na referida fazenda muitos moradores, como acontece com todas as grandes fazendas, mas é gente trabalhadora e honesta, sendo por isso injusto compará-las aos ferozes cangaceiros que infestam o norte do País”.
A suposta versão correta dos fatos, ainda segundo o jornalista paraisense, foi de que honrados cidadãos, de conhecidas famílias locais, estavam fazendo uma caçada nas matas da Fazenda do Sapé, e resolveram viajar, um pouco além, no trem especial de pagamento. Com esse propósito, os caçadores teriam acenado para a parada do trem, gerando a confusão do assalto afirmado pelos funcionários da São Paulo e Minas.