CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Imprensa regional na época do Império

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 04-04-2018 07:04 | 3355
Foto: Reprodução

 




A primeira referência que tive sobre a trajetória do antigo jornal “Aurora Aterradense”, impresso na freguesia de Nossa Senhora das Dores do Aterrado (Ibiraci), no Sudoeste Mineiro, foi através de um agradável diálogo com o pintor José Limonti Júnior, acompanhado do nosso amigo comum João Batista Mião. Em recente visita que fizemos à sede da PROBRIG (Protetores da Bacia do Rio Grande), entidade fundada há 15 anos, que atua nas áreas de meio-ambiente, educação, cultura e história regional. Como tenho interesse no tema, organizei algumas informações apresentadas nesta crônica, com o propósito de contribuir no resgate de elementos para a escrita da história do Sudoeste Mineiro.
Lançado em 1882, o mencionado jornal era propriedade de José Vicente Evilásio de Lima e redigido pelo padre José de Andrade da Costa Colherinhas. Encontramos referências de sua existência no jornal “Pharol”, de Juiz de Fora, de 8 de março de 1883. Foi divulgado que a Aurora Aterradense estava sendo impressa em um prelo manual, construído em madeira e inventado por um “inteligente e distinto mineiro”. A matéria explica que inventor do prelo era o proprietário do jornal, Tenente Evilásio, observando que o mecanismo tinha sido montado, com grande perfeição, pelo marceneiro Manoel Bento Dias. Para finalizar, ficou registrado que a qualidade da máquina podia ser comprovada pela excelente impressão das edições lançadas até aquele momento. 
Outra referência sobre o mesmo jornal aparece no Liberal Mineiro, de Ouro Preto, de 25 de agosto de 1883, quanto aparece incluído em uma lista dos supostos órgãos da imprensa neutra da província mineira, juntamente, com os jornais: Gazeta de Uberaba, Leopoldinense, Monitor Sul Mineiro, Correio de Alfenas, Gazeta de Barbacena e a Gazeta de Passos.
No Almanaque Sul Mineiro de 1884 consta a seguinte notícia: “Publica-se em Dores do Aterrado, numa tipografia pertencente ao padre José de An-drade Costa Colherinhas e ao tenente José Vicente Evilásio de Lima, um semanário intitulado Aurora Aterradense, que está no segundo ano de existência, tendo edição de 300 exemplares”. A mesma fonte confirma que o prelo havia sido inventado pelo proprietário do jornal e fabricado por um habilidoso marceneiro. 
O número 15 do jornal foi impresso em 28 de janeiro de 1883, segundo ano de circulação, anunciado como semanário religioso, literário, noticioso, agrícola e comercial. O editorial dessa edição trouxe um veemente apelo ao diretor dos correios da Província de Minas, solicitando a criação de uma linha postal para atender as necessidades da região. Assim se expressou o redator:
“Cônscios do nosso direito de não sermos dados ao ostracismo, mas tratados como verdadeiros brasileiros que somos, pois, pagamos pesadíssimos tributos e trabalhamos em favor do progresso da nação, ousamos continuar a erguer nossos brados pela criação de uma linha de correio, da cidade de Franca do Imperador à Santa Rita de Cássia, passando por estas freguesias de Canoas e Dores do Aterrado. Essas duas freguesias precisam absolutamente dessa linha, que lhes facilite a comunicação com os centros comerciais, vendo-se na dura necessidade de sustentar, há anos, o pagamento de um correio particular, que funciona de cinco em cinco dias. Além disso, havendo na freguesia de Dores do Aterrado, há quase um ano, o jornal Aurora Aterradense, como enviá-lo aos assinantes senão fazendo avultadas despesas à custa da empresa que luta com grandes dificuldades? Se todas as povoações do Império têm o sagrado direito de serem protegidas pelos nossos governos a quem pagam pesados impostos, estamos inteiramente convictos que estas freguesias, que marcham quanto lhes é possível no caminho do progresso, tendo até já uma imprensa própria, não devem ser desprezadas. O movimento postal compensará de sobra as despesas com a criação desta linha, não onerando assim os cofres públicos. Esperamos, pois, na retidão e cavalheirismo do senhor administrador geral dos correios, que, atendendo ao nosso direito e necessidade, nos faça justiça, inaugurando brevemente esta linha conforme o nosso traçado”.