SAÚDE

“O que penso a respeito da Psiquiatria, no que seria de mais moderno” – Dr. Maurício Giubilei

Por: Nelson Duarte | Categoria: Saúde | 07-04-2018 10:04 | 2893
Médico Maurício Giubilei, diretor clínico da  Fundação Gedor Sil-veira, de São Sebastião do Paraíso,
Médico Maurício Giubilei, diretor clínico da Fundação Gedor Sil-veira, de São Sebastião do Paraíso, Foto: Nelson P. Duarte/Jornal do Sudoeste

Há trinta anos surgiu a política antimanicomial, contrária a internação de pacientes psiquiátricos. Durante este tempo tentou-se montar-se um sistema alternativo à internação, só que até agora, na visão do médico Maurício Giubilei, diretor clínico da Fundação Gedor Silveira, de São Sebastião do Paraíso,  o Estado não obteve êxito porque nada substitui a hospitalização.
Ele salienta que hospitalização é para pacientes críticos com riscos para si e para terceiros, risco de morte, suicídio, brevidade de vida, o chamado suicídio crônico como alcoolismo, uso de drogas. Nada vai substituir a hospitalização.
Também não basta somente isolar dentro de outra situação, de restrição de espaço, tem que haver assistência de toda uma equipe, constituída por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e o próprio psiquiatra, além de clínico geral que verá as intercorrências  que acontecem com doentes mentais, salienta Giubilei.
O sistema alternativo, como é chamado, e que ele prefere denominar de um sistema complementar que seria desde o ambulatório  de saúde mental, a prevenção ao tratamento de paciente sem grandes complexidades, até hospitalização como final da linha, como final de uma atividade àqueles que necessitarem de uma atividade mais complexa.
Por este “intermeio” pode-se usar muito a psiquiatria social como está embasada esta luta, que são atividades com o paciente em nível de oficinas terapêuticas no Centro de Atenção Psicossocial que também é modalidade ambu-latorial de tratamento, mas com certa restrição de espaço para doente mental durante o período do dia, observa Giubilei.
Conforme explica, quando o indivíduo adoece, principalmente as psicoses, o transtorno bipolar, fase maníaca, esquizofrenia a pessoa perde os seus limites internos, e até que se restabeleça, necessita limite externo que vai contê-lo, por isso é que o hospital psiquiátrico precisa ter muro alto, observação o tempo todo, e atividades direcionadas. O paciente com a medicação adquire seus limites, e depois disso pode tratar em qualquer outro lugar.
O hospital psiquiátrico, a meu ver, diz Giubilei, insere muito mais como limitador, até a pessoa se restabelecer de seu próprio limite interno. Sendo restabelecido não há mais a necessidade de hospitalização.
Então seria uma sequência de atividades conforme a gravidade da doença. Conforme enfatiza, seria o ambulatório, a prevenção, e no Brasil é pouco feito isto, conseguir prevenir doença química, alcoolismo, tabagismo e as doenças psiquiátricas em si que começam desde com a mãe, o avô, e dá uma sequência de educação de como lidar com a criança, adolescente ou mesmo o adulto.
Doutor Maurício afirma que isto vai prevenir muita coisa. “Então, nesta sequência, Ambulatório de Prevenção de Doenças Psiquiátricas, Ambulatório de Tratamento em si, são aquelas consultas eletivas, em que o indivíduo tem, por exemplo, uma depressão, mas pode esperar, quando não há nenhuma gravidade, o indivíduo continua produtivo, então vem com tempo agendado para poder ser atendido e ter sua melhora da depressão.
Aqueles que têm um déficit devido à própria doença, a esquizofrenia já estabilizada, no seu ponto de vista precisam de uma oficina terapêutica, observado por terceiros. “Pode fazer uma oficina terapêutica, e essas são lúdicas, onde o indivíduo que perdeu muito a capacidade, não tem condição de ganhar com a atividade, mas ocupa o tempo dele de forma saudável. Então, predominantemente lúdicas, predominantemente terapêuticas, onde a própria atividade tem ação curativa, ou de melhora dos sintomas, principalmente da ressocialização, predominantemente profissionalizante, onde o indivíduo vai aprender fazer seus produtos, e predominantemente de produção, onde além de ser profissionalizante ele aprende comercializar seus produtos”.
São pacientes menos comprometidos, mais equilibrados, que tiveram melhor sucesso em seus tratamentos, diz Giubilei. “Depois disto vem também o Hospital Dia, modalidade hospitalar mesmo, onde há o predomínio da atenção médica, e o suporte de equipe. O que diferencia o Hospital Dia do CAPS – o Centro de Atenção Psicossocial, é que existe uma predominância de atividades paramédicas e socializantes com suporte médico, enquanto o Hospital Dia é o contexto hospitalar,  sendo predominante a atividade médica com suporte de equipe. Depois você vai até um leito de retaguarda, onde aguardam internação, ou internações curtas, onde o indivíduo em 72 horas ou um pouco mais pode sair da crise, ou mesmo testando o início de tratamento para aquele paciente em crise, para ver se somente isto é o suficiente, para não interna-lo”.
Em internações, conforme pondera, “importante também são os leitos em hospitais gerais, onde predomina a doença clínica que o paciente possa ter, por exemplo uma pneumonia, fratura, cirurgia, com o suporte psiquiátrico dentro do Hospital Geral. Ainda não temos um hospital geral, mas seria preferível, por ter aparelhagens sofisticadas”.
Recentemente a Fundação Gedor Silveira contratou uma psicóloga que trabalhou na Inglaterra, “e ela está nos trazendo muitas coisas interessantes para a gente, principalmente sobre as oficinas terapêuticas”, afirma. 
Giubilei lembra que dentro deste contexto, como nesses últimos onze anos hospitais psiquiátricos não tiveram  reajustes financeiros nas diárias, a inflação foi pequena, mas foi somando anos após ano, e os hospitais passaram a ser muito deficitários. Recentemente, houve reajuste. A diária era de R$ 49,50 e foi para R$ 82,00 o que viabiliza o funcionamento de hospitais psiquiátricos, “mas não estamos esperando que isto seja a solução definitiva para o Gedor Silveira e para hospitais psiquiátricos brasileiros, que são poucos hoje”. 
Prosseguindo ele afirma que, como fundação, “temos que buscar alternativas para continuar servindo a população. Para isto, estamos elaborando e está em funcionamento atendimentos médicos a nível de ambulatório, que seria o nosso Centro de Atenção à Saúde, Centro de Especialidades Médicas Gedor Silveira e já contamos com atendimento de Psiquiatria, Clínica Médica, Cirurgia Plástica Reparadora e outros mais que estão se agregando ao nosso grupo de médicos. Isto vem facilitar porque tem alguns convênios na região que não são atendidos em consultórios em Paraíso, e serão atendidos aqui, a um preço justo para a população que não tem condições de comprar um plano de saúde, mas também não quer ficar na fila do SUS, que às vezes demora semanas, meses para se conseguir uma consulta”. 
Já temos aqui um posto de coleta de análises clínicas  que passará a funcionar na próxima semana. Está instalado nosso Raio X, equipamento de ultrassonografia, Doppler, e vai chegar o mamógrafo. Esses serviços foram terceirizados, vão ocupar nossos espaços e parte do lucro deste aparato ficará para a Fundação, para formar uma reserva financeira, e reestruturação de nosso espaço, salienta.
Em Minas Gerais em 1990 eram 43 hospitais psiquiátricos. Atualmente estão em funcionamento apenas em Uberaba, Divinópolis, alguns em Belo Horizonte, Barbacena, Juiz de Fora, e o Gedor Silveira, em São Sebastião do Paraíso. Algo em torno de oito hospitais, no total. O Gedor Silveira é o único no Sul e Sudoeste do Estado, com a responsabilidade de acolher pacientes de 151 municípios.
É o que em linhas gerais penso a respeito da Psiquiatria, no que seria o de mais moderno, conclui Dr. Maurício Giubilei.