CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Mariana Marques da Silva (1913 - 1982)

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 07-04-2018 10:04 | 5818
Mariana Marques da Silva (1913 - 1982)
Mariana Marques da Silva (1913 - 1982) Foto: Museu Napoleão Joele

Esta crônica presta uma modesta homenagem à saudosa memória de Mariana Marques da Silva, moradora de São Sebastião do Paraíso, no Sudoeste Mineiro, que deixou boas lembranças aos paraisenses que tiveram a oportunidade de conhece-la. Nascida em 8 de maio de 1913, faleceu em 27 de abril de 1982, aos 69 anos de idade, depois de permanecer 46 anos deitada em seu leito de vida espiritual, com o corpo físico totalmente paralisado, devido a uma grave doença. Certamente, há vários outros casos semelhantes, de pessoas que passam ou passaram pelo mesmo drama. Mas, vale rememorar o caso da nossa conterrânea para testemunhar o respeito e a amizade que ela conquistou de muitas pessoas que a visitavam com regularidade.
Se a memória deixa traços de uma vida rompida no passado para o conforto de outras gerações é também fonte de possibilidade para aprender com o tempo pretérito, ir um pouco além do imediatismo do aqui e agora. No caso aqui relatado, trata-se de um exemplo de persistência, resignação e fé, diante dos desafios que qualquer ser humano pode encontrar em sua existência. Entre as pedras de sua travessia, Mariana foi agraciada com sabedoria e descobriu a espiritualidade para atravessar o seu deserto. Católica, quando jovem, participou ativamente de um grupo de religiosas, a União das Filhas de Maria, criado sob a liderança do Monsenhor Felipe da Silveira.
No início da década de 1960, minha família morava na Avenida Wenceslau Braz, no alto da Moco-quinha, quando nenhuma rua era ainda pavimentada nessa parte da cidade, com poucas casas e muitas chácaras. Uma grossa camada de areia recobria a “Estrada Boiadeira”, como era conhecida, popularmente, a referida avenida, devido à passagem regular de cavaleiros, conduzindo seus pequenos rebanhos de gado bovino, levados para o Matadouro Municipal. Próximo ao antigo Seminário Nossa Senhora do Sion (atual Faculdades Libertas), ficava a casa da família da conhecida Mariana, que recebia sempre os cuidados e o conforto de seus familiares.
Em meados da década de 1930, na plenitude de sua vida, Mariana foi acometida por uma grave doença que lhe deixou tetraplégica, quando trabalhava como roupeira no antigo Hotel Central, localizado na esquina das ruas Padre Benatti com Placidino Brigagão, prédio esse que foi, posteriormente, adquirido e reformado pela Mitra Diocesana, para nele funcionar os Colégios Parai-sense e Comercial São Sebastião, sob a direção do pároco, Monsenhor Jerô-nimo Madureira Mancini. 
Na época de minha infância, fui várias vezes à casa da Mariana, em companhia de minhas irmãs, para lá ver um belo presépio de Natal, montado todo final de ano. Recoberto com varas de bambu, entrela-çadas com perfumados ramos de cipreste, iluminado com pequenas lâmpadas coloridas, a base recoberta com serragem, a Sagrada Família, os Reis Magos, a Estrela Guia e os pequenos animais. Tudo ficou na lembrança, sobretudo, a aura serena e mística de sua residência, muito limpa, arejada e com janelas e portas abertas para a entrada saudável da Luz do Sol.

Década de 1960. Residência de Mariana Marques da Silva. Avenida Wenceslau Braz, próximo ao Seminário Nossa Senhora do Sion.