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Estevam do Nascimento: A simpatia como a melhor notícia que sua banca de jornais tem

Estevam do Nascimento
Por: Heloisa Rocha Aguieiras | Categoria: Entretenimento | 25-03-2017 21:03 | 1945
Estevam fez muitos amigos em sua banca de jornais e revistas
Estevam fez muitos amigos em sua banca de jornais e revistas Foto: Heloisa Rocha Aguieiras

Estevam do Nascimento, 72 anos, conhecido pelos amigos como “Boy” ou o “seu” Estevam, parece ter nascido com o dom para as vendas. Desde muito pequeno foi vendedor. Mas o que ele distribuiu de graça ao longo de sua jornada foi a sua simpatia. Após 55 anos como proprietário da “Banca da Matriz” é uma das pessoas mais conhecidas e queridas em São Sebastião do Paraíso. Realizado e, talvez por isso mesmo, nem pensa em parar de trabalhar.




Jornal do Sudoeste – Como o senhor foi quando criança?
Estevam do Nascimento – Eu sou o terceiro filho mais novo entre dez; seis mulheres e quatro homens. Minha mãe, Margarida Faleiros do Nascimento, nos criou fazendo doces para vender  e meu pai, Jo-aquim Theodoro do Nascimento, era produtor, proprietário de um sítio que ficava nas proximidades do distrito de Guardinha. Minha mãe foi uma doceira de mão cheia e eu, desde muito pequeno, saía com a cesta cheia de doces e vendia tudo. Ela fazia todos os tipos de doces: amêndoas; geleias; doce de leite, o dela ficava moreninho; de figo; de abóbora, era uma variedade infinita e os mais famosos da cidade. Tinha a freguesia certa. Não há doces como os dela até hoje. Nenhuma de minhas irmãs quis aprender com minha mãe, elas estudaram e são professoras.
Jornal do Sudoeste – E a escola?
Estevam do Nascimento – Estudei no grupo “Campos do Amaral”, mas não gostava de jeito nenhum de estudar, eu gostava mesmo era de sair para vender doces. Quando tinha prova, minha professora me encontrava na rua, me levava com a cesta de doces para dentro da sala de aula, colocava a cesta em cima da mesa dela, enquanto eu respondia as questões da prova. Eu gostava mesmo era de vender, acho que eu nasci vendedor.
Jornal do Sudoeste – Como é a história da sua banca de jornais e revistas?
Estevam do Nascimento – Com o dinheiro dos doces minha mãe comprou a banca e cedeu ao meu irmão Geraldo para ele cuidar do negócio; há 55 anos. Comprou também a “Livraria Canadá”, que foi dada à minha irmã Elza para que ela administrasse. Adquiriu ainda um mercadi-nho, chamado “Pegue e Pague”, que foi dado ao meu irmão José para que ele tomasse conta. Tudo ficava na antiga rodoviária, onde existe hoje a Biblioteca “Professor Alen-car Assis”. Naquele tempo, eu com 15 anos, pegava os pacotes de revistas e saía para vender na rua.
Jornal do Sudoeste – A banca, então, já existia?
Estevam do Nascimento – A banca era do Alfredo de Souza Rezende “Alfredo Jornaleiro”, onde meu irmão trabalhava. O Alfredo preferiu ir trabalhar com venda de areia para construção e vendeu a banca para o meu irmão, que a entregou à minha mãe, porque ela estava um pouco adoentada e já não fazia mais os doces. Um tempo depois, ela passou o negócio pra mim, e eu trabalhava vendendo as revistas na rua. A banca era um sucesso; foi a primeira da cidade. Não havia distribuidores de jornais, eu precisava ir buscar as edições na Estação Mogiana, atual Casa da Cultura. Eu era tão novinho, que não aguentava carregar sozinho os pacotes de jornais e ganhava uma carona com um taxista,  até o Hotel Cosini, aproveitava para vender jornal aos viajantes.
Jornal do Sudoeste – Naquele tempo o jornal fazia mais sucesso que revista, não é mesmo?
Estevam do Nascimento – Isso mesmo. Como não havia distribuidor direto, as revistas vinham de Casa Branca e a gente colocava um pouco mais no preço para ter algum lucro.
Jornal do Sudoeste – A banca se transformou em um negócio de família?
Estevam do Nascimento – Exatamente. Meu irmão a passou para minha mãe; depois a banca veio para mim e agora está nas mãos do meu filho Estevam do Nascimento Júnior, o Estevinho.
Jornal do Sudoeste – Como foi seu casamento?
Estevam do Nascimento – Minha mulher, Maria Ângela Sticca Nascimento, é uma companheira incrível. Namoramos oito anos. Brinco com os amigos que foi ela quem me enrolou esse tempo porque eu queria casar, mas ela era muito nova e queria esperar mais um pouco. Quando ela completou 24 anos, casamos. São 44 anos juntos. Sempre me ajudou na banca, ela fazia o que a gente chamava de “escrita”, ou seja, a contabilidade. Antigamente isso era feito tudo manualmente, não é como hoje, feito pelo computador. Após um ano de casados, nasceu meu filho Eduardo, dois anos depois a Estela, mais dois anos se passaram e veio o Estevam. Muitas vezes, chegamos a levar os filhos pequenos para a banca para poder trabalhar. Quando eles ainda eram pequenos, a Ângela foi fazer faculdade à noite, em Guaxupé. Eu ficava com os três na banca até 20h, depois ia para casa, e acabava dormindo de tão cansado, com eles comigo; ela chegava meia noite e ia arrumá-los para colocar na cama. Mas foi tudo muito bom. Atualmente, tenho três netos, o Luca, Manoela e Alice, um de cada filho.
Jornal do Sudoeste – A banca também lhe deu muitos amigos?
Estevam do Nascimento – Foi minha fonte de amizades sinceras e duradouras, tenho esses antigos amigos até hoje. Atualmente, é meu filho quem fica trabalhando e eu só batendo papo. Foi com a banca, eu e a mulher trabalhando juntos, que conseguimos formar os três filhos. 
Jornal do Sudoeste – Mas o senhor trabalha até hoje?
Estevam do Nascimento – Sim. Durmo cedo, levanto cedo, vou à rodoviária buscar os jornais, abro a banca e depois fico de relações públicas (diz com bom humor). Aposentei e passei para o meu filho, nós dois combinamos muito e fiquei feliz de poder passar o negócio da família para ele. 
Jornal do Sudoeste – Esse foi um negócio que mudou muito ao longo dos anos, não é mesmo? 
Estevam do Nascimento – Sim, demais. São muitos produtos, uma enormidade, o que torna a administração do negócio muito complexa. Os pagamentos às editoras, distribuidoras e fornecedores sempre foram feitos semanalmente. Atualmente o que mais sai são publicações sobre informática e semelhantes, como as revistas de assuntos femininos e de fofocas de TV. Ainda vende bem os gibis; tem “Tio Patinhas”, “Pato Donald” e outros desse tipo em reedições, assim a nova geração pode conhecer e ser fã. Figurinha para compor álbum também vende muito bem, principalmente quando sai em época de Copa do Mundo. É um lugar onde se discute de tudo, principalmente política e em época de eleições, aí o assunto esquenta.
Jornal do Sudoeste – O senhor ainda emprega uma pessoa na banca?
Estevam do Nascimento – Sim, o Cauvert. Ele começou a trabalhar muito novo comigo na banca, se aposentou, eu o recontratei e ele também não quer saber de parar de trabalhar lá. Ensinei uma profissão para ele, que também fez muitos amigos, é uma pessoa muito honesta e tenho certeza de que gosta do que faz.
Jornal do Sudoeste – O senhor é feliz?
Estevam do Nascimento – Sou muito feliz, tenho saúde e não quero parar de trabalhar. Sou muito realizado e muito chegado aos meus filhos.